Família, família, papai, mamãe, titia

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Connor estava resolvendo as coisas com a Marisa, e os nossos irmãos de criação já estavam começando a ficar entediados. O diálogo amigável com a conselheira chefe do chalé de Ares poucas horas atrás, me deu uma ideia, já estava na hora de se preparar para a próxima partida.
Os chalés de Apolo, Ares, Afrodite e Hefesto estavam na equipe inimiga. Então nos aliamos com os campistas de Démeter, Dionísio e conseguimos convencer os de Atena também. Nenhuma ameaça envolvendo aranhas foi envolvida, apesar de que Malcom possa dizer o contrário.
O garoto já veio com uma estratégia pré planejada para uma equipe muito parecida com a nossa, o que me fez imaginar se eles gastam todo o tempo livre planejando estratégias de batalha.
Cada chalé da aliança teria um trabalho separado pelo conjunto de habilidades de cada um dos nossos pais. O chalé de Démeter iria utilizar sua afinidade com as árvores para convencer a floresta a ajudar na defesa da nossa bandeira e dificultar a fuga da equipe inimiga. Os gêmeos Castor e Pollux serviriam de distração. Eu, Connor e Marisa iríamos pegar a bandeira inimiga. O resto do chalé, como possuem habilidades variadas, estarão espalhados entre as defesas e distrações.

Passamos boa parte do jantar debatendo quem iria para qual parte da floresta e porquê. Quase nem percebi que Connor e Marisa não vieram jantar, mas nosso amigo conselheiro do chalé de Apolo sim.
- Veio tentar descobrir alguma coisa sobre a nossa estratégia super especial, Fletcher? - falei quando ele se aproximou.
- Na verdade - ele disse - vim perguntar onde está o seu irmão e a Marisa... Ela pediu pra ir no banheiro durante a minha aula e não voltou mais, tinha visto o seu irmão seguindo ela, mas pensei que fosse coincidência, até que nenhum deles apareceram para o jantar.
A última vez que chequei o Connor, ele estava indo ver a Marisa umas duas horas atrás, fiquei tão concentrado na organização para o fim de semana que me esqueci de fazer a chamada. 
Droga.  Eu sou um péssimo conselheiro-chefe, e um péssimo irmão mais velho.
Eu me levantei - Butch, você pode cuidar dos campistas enquanto eu estiver fora?
Não esperei pela resposta, enquanto saía do pavilhão. Lee Fletcher me seguiu, também não falei nada.

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Minha espinha gelou. Eu tinha quase certeza de que ele não estava ali 5 segundos atrás. Algum deus do vento poderia muito bem tirar toda a atmosfera ao meu redor, porque eu não me atreveria a respirar.
Tinha algo nele extremamente assustador, ele estava exatamente igual quando foi nos visitar ano passado, mas de algum jeito, estava completamente diferente. Entendi porque nenhum monstro apareceu, eles sentiram a mesma coisa que eu senti, e eu era um tolo por ousar espreitá-lo.
Durante boa parte do tempo, depois que ele traiu o acampamento e eu e meu irmão assumimos o cargo dele, não parecia muito real, não parecia que o nosso grande irmão Luke estava reunindo forças contra o nosso lar, contra a nossa família. Mesmo quando a crise no acampamento foi piorando, mesmo quando nosso meio-irmão, Chris, se uniu a ele, não parecia real. Agora ele estava lá, de frente para a minha irmã mais nova, e a ficha finalmente caiu. Luke vai destruir o acampamento de dentro pra fora. 
Eles se abraçaram, aproveitei o movimento dos dois para me aproximar um pouco mais e poder ouvir melhor.
- Oi irmãzinha, como estão as coisas? - ele perguntou em um tom amigável e protetor que eu conhecia bem, um tom que não combinava nada com a energia destrutiva que emanava dele.
- Bem, eu tô me divertindo bastante aqui até… - ela respondeu e rapidamente adicionou - O Laerte, o Mathew e o Joey estão bem? - Luke assentiu, mas pude perceber que ele não fazia ideia de quem eram aquelas pessoas, será que o exército de Cronos era tão  grande assim, ou será que ele simplesmente não se importava em saber o nome dos semideuses que se juntaram à ele? - Cassandra, Mariah e Lisa? - E ele assentiu novamente - Por que eu não consigo conversar com eles? Eles não atendem os celulares, você falou que podíamos usar celulares com segurança agora.
- Ah, pequena Marisa… A maioria dos semideuses estão fora da área de cobertura de sinal de celular, a comunicação mortal está mesmo complicada, e as mensagens de Íris não são confiáveis, como você já deve imaginar…
- Mas... - ela pensou um pouco - E se você trazê-los junto da próxima vez? 
- Chamaria muita atenção - ele disse simplesmente. Outra desculpa esfarrapada, mas ainda uma meia verdade. - Por que você não deixa o acampamento logo? Antes que seja tarde…
- É… Bem - Luke levantou uma sobrancelha, a primeira expressão genuína até agora - Não me leve a mal. Eu ainda não quero ir.
- Não entendi… Todos os seus amigos já deixaram o acampamento, você quer acabar lutando contra eles?
- Ah - ela disse em um tom zangado - então eu tenho que me juntar porque todos estão se juntando ou porque é a coisa certa a se fazer?
- Você acha que está fazendo a coisa certa ficando aqui, Marisa? - Luke perguntou, com tanta frieza em sua voz que eu podia jurar que a temperatura da floresta diminuiu junto. - É a coisa certa apoiar alguém como o nosso pai? Ele pelo menos já te visitou? Pelo menos sabe pelo que você passou? - Ela ficou sem palavras, e ele continuou - Será que ele não sabe, ou será que não se importa? Quem te salvou naquele dia? O seu acampamento? Ou o seu irmão aqui? É assim que você me agradece?
- Você não é o meu único irmão, Luke…- ela conseguiu dizer com a voz trêmula - Ainda tenho família aqui e…
- Família - Luke riu com escárnio. - Chama isso de família? Connor e Travis? - todos os pelos do meu corpo se arrepiaram ao ouvir o meu nome - Aqueles dois não se importam com nada além deles mesmos e além do mais…
- Não me interrompa! - Ela apontou o dedo na cara dele, ficando na ponta dos pés para parecer mais ameaçadora - Se eles não são a minha família então você também não é…
- Cale-se
- ...e além do mais são conselheiros-chefe muito melhores que você…
- Cale-se
- …eles fizeram do chalé de Hermes uma grande família, como deveria ser, com os filhos do nosso pai, os indeterminados e os filhos de deuses menores! Você nunca…
- EU DISSE PARA SE CALAR - ele berrou e a estapeou no rosto, Marisa caiu no chão.
Sem pensar nas consequências, peguei qualquer coisa que eu tinha guardado nos bolsos da minha bermuda e joguei nele. Posso não ser bom no arco-e-flecha, mas eu tenho uma boa mira, teria o acertado no rosto, se ele não tivesse interceptado a bombinha com a espada dele. A bombinha explodiu, fazendo um barulho que ecoou pela floresta inteira, eu nem lembro de quem eu roubei esse treco.
- QUEM FOI? - Luke perguntou, tremendo de raiva. 

Eu não ousei tentar me mover.

Co-conselheiros Do Acampamento Meio SangueOnde as histórias ganham vida. Descobre agora