Lava lava lava, esfrega, esfrega, esfrega

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Prosseguimos com as atividades da manhã normalmente, ninguém parecia incomodado com a nossa punição, com exceção dos nossos inimigos do chalé 7, não vi nenhum deles abrir a boca para nada. Desculpe pelo trocadilho.
Apesar de ter que desviar de algumas flechas perdidas, atiradas por campistas que nunca erraram o alvo, mas parece que mais ninguém fez essa observação, as atividades correram bem.
Connor me contou quem está por trás do atentado contra a higiene dos nossos amados semideuses solares, mas não ouvi mais ninguém comentando, o que é bom, significa que ela já escondeu o material.

Então chegou o momento menos esperado do dia, a hora de lavar a louça.

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Ninguém estava sorrindo, com exceção dos cinco ladrões, aquilo era como uma vitória para eles, não a louça, mas o mau humor estampado na cara de nossos inimigos, e uma vista de camarote pelo sofrimento deles.
Michael Yew usou a pia ao meu lado.
- Posso saber o motivo desse seu sorrisinho Connor? Todos nós estamos pagando o preço.
- É uma guerra entre chalés, Mike. Derrubamos todos vocês, com apenas algumas perdas. Vencemos.
- Venceram o caramba! Vai ter volta. Por nos ter feito perder o privilégio da água quente e pelas escovas de dente.
Ergui uma sobrancelha - e desde quando higiene bucal é importante pra você? - cheirei o ar e fiz uma careta - seu bafo de esgoto tá o mesmo de sempre.
Michael fez a careta de sempre e continuou a lavar a louça em silêncio.
Nem o calor da lava, nem as luvas enormes me incomodavam, eu já lavei tanta louça aqui no acampamento, que posso dizer que lavo melhor do que as próprias harpias desse lugar. Sou prendado.
Quando estava quase acabando à minha parte da louça, Malcom apareceu na cozinha.
- Lee, Quíron quer falar com você, é sobre o ladrão dos kits de higiene bucal - o conselheiro do chalé de Apolo assentiu com a cabeça.
- Só vou terminar a minha parte...
- E Will, é para você ir junto também.
O pequeno Will quase se queimou, mas assentiu mesmo assim.
Cada célula do meu corpo choramingava por uma habilidade de transformação para que eu pudesse me transformar em uma mosquinha, e poder saber o fim dessa história.
Tudo que me restava era esperar, os rumores chegariam aos meus ouvidos. Eu tinha uma vaga ideia do que aconteceu, mas eu precisava confirmar as minhas teorias.
Me virei para olhar minha irmã, Marisa estava concentrada na louça, suas mãos não ficavam tão hábeis assim com aquelas luvas enormes. Não havia nada em seu rosto que indicasse algo sobre as escovas de dente, nenhuma preocupação, e nem lampejo de vitória, nada.
Marisa não me contou nada depois de ter me mostrado o estoque que ela roubou. Me concentrei nas vezes em que me encontrei com ela durante aquela manhã.
Ela estava no meio da fila com os outros campistas até o pavilhão de refeitório, não saiu da fila, isso eu tenho certeza. Quando estava sentada na mesa, não parou de olhar para a do chalé de Apolo, normal, eles também não desviaram o olhar da gente.
Nas atividades da manhã eu realmente não vi ela, mas normalmente não temos nada juntos nesse dia da semana.
E então no almoço ela continuou sem desviar o olhar da mesa deles, seus lábios faziam pequenos movimentos, como se tivesse murmurando alguma coisa, rezando para os deuses talvez?
Quando um semideus chega atrasado à mesa de Apolo, Marisa se levanta e disse algo sobre ir ao banheiro.
E depois todos viemos para a cozinha.
Como se fosse um quebra-cabeça, eu entendi o que ela fez.
O prato escorregou da minha mão, espirrando lava em mim e no filho de Apolo.
- Ai! Caramba Connor! Vê se presta atenção.
- Nossa, Michael, desculpa. Você tá bem? - fiz menção de pegar o braço dele, mas ele se afastou.
- Relaxa cara. Pra alguém que lava a louça todo dia, pensei que você já teria um pouco de prática com isso.
- Talvez eu devesse lavar a sua cara pra ver se eu melhoro as minhas habilidades na pia.
- Pelo menos os meus olhos, aí eu não teria que olhar para a sua cara feia todo dia.
Mostrei a língua e peguei o prato que derrubei, caíram apenas uns respingos nele, provavelmente nem deixaria cicatriz, por ser filho de Apolo e sei lá o que.
Olhei para Marisa novamente, havia uma tranquilidade em seu rosto, e uma pitada de orgulho. Essa menina um dia vai dominar o mundo.

Co-conselheiros Do Acampamento Meio SangueWhere stories live. Discover now