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Enji era um homem alto, não tanto quando Toshinori deveria ser se andasse reto, ruivo e olhos turquesa que pareciam queimar e consumir tudo ao seu redor. Estranhei a forma que ele me olhou frustrado quando entrei na sua sala.

—Obrigado por me receber senhor, eu sou... — Ele interrompeu minha fala e não aceitou meu cumprimento.

—Eu sei quem você é, pirralho. Não quero você escrevendo sobre esse infortúnio!

Eu imaginei que essa seria a sua reação, todos os antigos que eu li falavam sobre como ele é orgulhoso e arrogante, então com ele eu precisaria seguir por um caminho um pouco diferente;

—Eu entendo sua preocupação. Na verdade, eu queria escrever sobre o senhor, exclusivamente.

—Como assim?

—Bem, mesmo com esse infortúnio o senhor está empenhado em fazer o seu trabalho pela cidade. No caminho até aqui notei quantas pessoas estavam ajudando a procurar a sua esposa. Acredito que muitos deles estavam ali por admirarem o seu trabalho.

Enji pareceu medir a extensão de cada palavra minha, permaneci sério esperando sua decisão. Foi muito sutil, mas sua expressão cedeu um pouco antes de me indicar a cadeira à sua frente.

—Tenho no máximo cinco minutos sobrando.

—Perfeito para mim. Há quanto tempo são casados?

—Há 27 anos.

—Entendo. O senhor estava em sua casa quando ela sumiu?

—Está me acusando de alguma coisa, pirralho?

—Jamais, apenas me pergunto se teve uma chance de a ver antes de tudo acontecer.

—Eu a vi apenas pela manhã antes do trabalho. Era um dia chuvoso, quando eu saí, ela ainda dormia.

—O senhor recebeu algum contato? Pedido de resgate ou algo do tipo?

—Nada.

—E quanto a Toya?

—O mesmo, nenhum contato.

Anotava os pontos principais para não me esquecer, e embora respondesse com calma, Enji não tirava os olhos da minha mão.

—Você é aquele filho do Hiashi, certo? O homo.

—Sim, eu sou homossexual.

—Tome cuidado para não criar outra confusão com esse artigo, pirralho. Você já estragou vidas o bastante nesta cidade.

Eu apenas sorri e agradeci pelo seu tempo, não iria conseguir nada com aquela arrogância e não queria desperdiçar meu tempo com alguém como ele, e no fundo sabia que suas respostas não eram confiáveis.



Fuyumi atendeu minha ligação um pouco receosa, aos poucos ela concordou em contar sobre a dinâmica da família, cautelosa para não revelar nada em especial, diferente do seu irmão, Natsuo. Ele me atendeu apenas na terceira tentativa, foi mais rude que o pai, embora eu suspeitasse que era apenas sua personalidade. Ele gostou da ideia do meu artigo, disse que já era hora de alguém fazer alguma coisa de verdade por sua mãe.

—A polícia diz que não tem nenhuma prova, mas isso é impossível! A cidade toda tem câmeras, é impossível que nenhuma delas tenha uma imagem decente da minha mãe ou do sequestrador.

—Por que acha que a polícia estaria omitindo provas?

—Não é óbvio? Por causa do filho da puta do meu pai! Não sei se já falou com ele, mas não se engane, ele não está sofrendo nem um pouco! Tudo que importa para ele é a maldita carreira política.

CicatrizKde žijí příběhy. Začni objevovat