Novo Epílogo Alternativo

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...no intuito de colaborar... Felipe é atualmente um dos terroristas mais vigiados pelo SNI... em troca de sua aderência à Operação Escaravelho, sob o guarda-chuva da Operação Condor, na qual... a insurgência armada financiada pela KGB... Felipe K. Dignoli continua sob vigilância, enquanto o agente duplo Teodoro Serafim terá seus passos seguidos... conhecimento de sua rota de fuga para a Suécia é importante para... relações diplomáticas permanecem fortes também com a Romênia, país que busca independência em relação aos soviéticos e está atuando informalmente com os países do Cone Sul... inimigo interno... subversivos vermelhos... apoio de valiosos setores do Vaticano... sua proteção... Bispo Auxiliar de Curitiba... ao mesmo tempo... seu contato na capital paranaense... testar um fármaco sintético potente... Renato Serafim... acreditar... carta fora do baralho... não... atrapalhar... cerco... fechando... seus poderes... ame-o... ou deixe-o.

***
Uma brincadeira de mau gosto?

***

Profundos olhos verdes...

***

Você é o contato? M.S.?
Sim - respondeu Maria Sheilla, de forma seca e assustada.
Tudo bem. Vem comigo. Vou mostrar a casa e seu quarto para esta noite.
Como sabem que ele virá aqui esta noite?
Todos sabem disso, é evidente.
Maria ficou em silêncio e seguiu os passos da gerente da boate. Parecia um pouco assustada. Mas estava decidida a salvar seu padrasto das garras dos militares. Bastava ajudá-los a testar os efeitos de uma nova droga sobre Renato... Filho do subversivo Teodoro Serafim. Uma presa fácil, um pichador de rua. Era um produto viável em humanos? Apresentaria os mesmos resultados dos testes feitos em animais escravizados em laboratório?
Se funcionasse, o mundo inteiro tornaria-se um imenso laboratório, o qual manteria Renato preso lá dentro por séculos. E a Linha Dura estava jogando pesado. Jogando para ganhar; para permanecer no poder por mais mil anos.
Será que estavam falando a verdade sobre Teodoro, sobre Renato, sobre tudo? Dane-se a ética; não me importa nada neste momento, pensou Sheilla.
Só quero salvar Felipe.

***

Maria, quanto tempo! - exclamou Felipe K. Dignoli, abrindo o portão de sua casa no bairro São Francisco.
Felipe... Tudo bem? - disse Sheilla, que abriu os braços.
Os dois abraçaram-se e foram para dentro de casa. Felipe carregou a mala, enquanto Maria entrou com sua mochila pendurada no ombro. Seus cabelos loiros balançavam ao vento de junho, e seu rosto estava gelado de frio.
Lee Falk, o cão labrador, acompanhou Felipe e sua enteada para dentro, balançando o rabo. Atrás deles, na rua Paulo Graeser Sobrinho, um automóvel preto passou devagar pelo asfalto.
Alguns minutos depois, Felipe levou os pertences de Maria Sheilla para o quarto de hóspedes e acendeu o fogo da lareira. Ela tomou banho e, depois de voltar à sala, o ambiente já estava aquecido e o jantar servido.
Que mesa linda! O cheiro está ótimo...
Obrigado, Maria. Espero que goste. - Felipe passou a mão por sua barba branca e a convidou a sentar-se. - E Eduarda, como vai?
Está bem. Como está seu livro? - perguntou Maria Sheilla, enchendo o prato.
Parado. Quer dizer... Está guardado em meu escritório. Falta revisar e editar mais. Ainda está cru.
Aposto que já está muito bom e você está com medo de procurar uma editora. Sabe que terá respaldo, não sabe? É um grande escritor.
Na verdade, não sei. E você, ainda pretende seguir na área de Literatura?
Vamos ver como as coisas se encaminham. Acho que sim.
Essas crianças - comentou Felipe, sorrindo. - Vamos ver, então. Quem sabe eu ainda tenho tempo para te convencer do contrário...
Sheilla sorriu.
Ironicamente...

***

Será que posso confiar neles? Não tenho alternativa... Vou para Curitiba, a nova Jerusalém, daqui a poucos minutos, e tudo que posso fazer é fechar meus olhos e seguir em frente. Conhecereis a verdade e ela vos libertará...

***

As luzes da boate piscavam como olhos de dragões, furiosos na escuridão da caverna. Renato estava apático, parecia até mesmo arrependido de ter entrado ali. A gerente do estabelecimento caminhou pelo corredor entre as mesas e o cumprimentou. Em seguida, inclinou o tronco suavemente e cochichou algo no ouvido da garota loira que estava sentada na frente dele.
O barulho da música dos Beatles era muito alto e Renato não conseguiu ouvir o que elas estavam falando. No palco, Cíntia Belle dançava, fazia seu espetáculo habitual de sensualidade e fascínio coletivo. Alguns homens gritavam elogios, outros assobiavam. No fundo de sua alma, Renato gargalhava de tédio, como o vilão Risada. Mas ninguém do mundo da caverna conseguiria ver isso.
A gerente terminou de falar com a garota loira, despediu-se do cliente e seguiu seu caminho. Que belo par de...
(Olhos verdes)
Qual é o seu nome mesmo? - perguntou Renato para a ninfa de bochechas rosadas, que balançava as coxas cruzadas, mascava chiclete e olhava para o bar, demonstrando certa impaciência. Ela usava delicados óculos de grau e tinha aparelho nos dentes
Maria Sheilla - respondeu a loira em sua cadeira, com um sorriso curto e seco.
Ah, sim. Claro que é - disse o cliente, sarcástico.
Olha só: me paga uma bebida?
Estou meio sem grana.
Entendi. - Sheilla torceu o pescoço e começou a olhar para novos clientes que estavam entrando na casa. - Tudo bem então. A gente se fa...
Espera! - exclamou Renato, pegando na mão da garota, que estava levantando. - Pode pedir - disse em seguida.
Ela sorriu e chamou o garçom. Depois, virou-se para Renato, inclinou seu corpo para perto dele, deixando o decote à mostra, e colocou uma das mãos sobre sua coxa.
E você, vai beber?
Hum. Um uísque.
Após alguns instantes em que começaram a conversar com mais intensidade e proximidade, o funcionário trouxe os pedidos. Logo depois, Renato viu Cíntia lhe acenar, próxima a entrada do banheiro. Ele pediu licença à Maria Sheilla e foi até lá. Segundos depois, quando o alvo estava de costas, Sheilla tirou uma pequena ampola de seu bolso e derramou alguns pingos sobre a bebida de Renato.
Assim que...

***

fLOR. Noite. Luz. Loira. Sombra. Gelada. Quente. Fim. Início. fÚRIA.

***

CTBA

***

Uma Caravan preta aguardava, estacionada na Rodoferroviária de Curitiba, a chegada do ônibus de Maria Sheilla. Felipe K. Dignoli não poderia suspeitar de nada. Sua enteada estava ciente dessa importante ressalva. Chegou pouco depois, carregando uma mala. Acenou para o carro, que já estava ligado. Apenas...
Instantes mais tarde, após uma troca de informações breves, a apresentação de documentos, e a voz grave do Coronel...
Não.
Senhor?
Sim. Assim está perfeito.
Só mais uma pergunta.

***

Sexta-feira, 27 de junho de 1975.

Pouco a pouco, Renato levantou-se, ainda meio tonto. Embrulhou-se no cobertor, que carregava sobre seu corpo como se fosse um velho sobretudo, quente e escuro. Bocejou com lentidão. Finalmente, quase se arrastando, chegou até a janela, cheia de pequenas gotículas de água, embaçada. Pelo lado de fora, lá embaixo na calçada, uma garota estranha observou sua testa encostada no vidro. Lá dentro do apartamento, observou o resto de neblina já praticamente imperceptível. Pareceu ouvir um ruidoso estrondo, que não sabia se era fora ou dentro de si. Pensava com dificuldade, de maneira vaga e imprecisa.

***

Quinta-feira, 17 de julho de 1975.

A Caravan preta passou pelo Teatro Guaíra enquanto Maria Sheilla ainda olhava para trás, sentada no banco traseiro. A neve que caía sobre Curitiba era singela e harmônica. Vivaldi fluía no toca-fitas. O limpador de pára-brisas tentava dispersar os flocos que caíam sobre o vidro. Dom Albino olhou pelo retrovisor. Observou Maria virando seu delicado rosto para a frente.
Missão cumprida? - questionou o Bispo Auxiliar, que vestia trajes de passeio e um par de óculos escuros, do tipo aviador.
Sim - ela respondeu, olhando para o nada e derramando uma lágrima sutil. - Missão cumprida.
Ótimo - Dom Albino respondeu. - Podemos ir?
Em seguida, a imagem do Bispo sumiu. Maria pensou que ninguém dirigia o carro. Era como se uma alma invisível estivesse controlando o volante e o acelerador. Através do espelho interno, viu o semblante do General Skeldak sorrir enquanto dirigia.
Para onde vamos agora? - Sheilla perguntou, assustada, enquanto ouvia gargalhadas abissais no fundo da alma.
Ela já sabia a resposta.
LOWUREAM...

Flores e FúriasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora