Capítulo 6

237 30 9
                                    

- Prometo não contar a ela. - Diz Jhonatan, abaixo a cabeça constrangida, meu juízo começa a tomar o controle que deveria ter tido, foi só um selinho, mas não gostaria de estar em papéis invertidos agora, mesmo que a pessoa do outro lado da história seja a Larissa.

- Eu, eu, não deveria estar aqui. - Digo sem conseguir olhar para nada além da madeira velha e podre do chão.

- Não os julgo, passaram por muitas coisas e se separaram derrepente, mas acho que isso não deve mais acontecer. - O garoto diz quase gaguejando, provavelmente com medo da reação de seu irmão.

- A gente já entendeu, agora vou voltar. - Diz Phelipe saindo, assim que ele fecha a porta do esconderijo eu abro a boca para falar:

- Eu não deveria ter feito aquilo, me sinto tão envergonhada agora. - Digo realmente arrependida.

- Você não precisa me dizer nada e nem demonstrar estar arrependida, eu sei que está, dá para ver em seu olhar. Eu não sei o que faria em seu lugar, provavelmente o mesmo. - Ele para por alguns instantes e depois continua. - Você o ama, a história de vocês acabou muito derrepente e... Você ainda sente o mesmo por ele, o mesmo que sentia a 10 anos atrás e isso não vai mudar derrepente.

- Eu só... Não quero viver sem ele, eu quero estar com ele, mas não posso mais, ele não é mais meu. - Digo com meus olhos lacrimejando. Dói, dói muito saber que não posso tê-lo.

- Está tudo bem. - Diz ele me dando um abraço, choro ainda mais, molhando toda a camiseta branca do garoto, ele me abraça mais forte ainda e sussurra em meu ouvido: - Não posso garantir que tudo dará certo, mas saiba que independentemente de tudo, eu sempre estarei contigo.

- Obrigada. - Digo. Espera! Eu acabei de dizer isso? E o que eu estou fazendo chorando abraçada nele? Qual é o meu problema? Eu odeio parecer tão frágil e principalmente demonstrar isso buscando consolo com qualquer pessoa.

- Pelo que? - Jhonatan pergunta, ele sabe a resposta, mas quer ouvir da minha boca essas palavras.

- Por ter me ajudado, qualquer um teria me abandonado no seu lugar, mas você foi diferente. Estranhamente sinto que posso confiar em você, e eu geralmente não confio nas pessoas tão rapidamente, espero não me decepcionar, como muitas vezes me decepcionei.

- E não vai. - Por impulso enterro minha cabeça em seu ombro. Talvez esteja ficando louca, mas preciso disso, de um abraço, um abraço amigo. Perdi meu namorado para minha melhor amiga, consequentemente perdi Larissa também, vê-los juntos vai doer e eu vou precisar fingir que está tudo bem, precisarei fingir que sou forte, mas sei que alguma hora irei desabar e preciso de alguém que veja a minha fraqueza e me apoie, a única pessoa que poderia fazer isso agora, é Jhonatan, minha mãe e meu pai, mas no momento, é o Jonathan que está aqui comigo agora.

- Sua mãe quer conversar com você... - Diz Phelipe ao abrir a porta, olho para ele e por um instante, congelo.

- É... Diga que já vou. - Digo enxugando as minhas lágrimas, Jhonatan se afasta de mim ao perceber nossa proximidade e consigo ver nos olhos de Phelipe a raiva que está sentindo do irmão, então Jhon vai até ele, diz alguma coisa em seu ouvido, não consego ouvir o que era, e o semblante de Phelipe não demonstra nenhum indício do que poderia ser. Os dois entram e eu vou logo atrás, decendo com cuidado os degraus da escada, embora a sua madeira não seja tão antiga quanto a da igreja, ainda sim, aqui é um lugar muito úmido e isso faz com que a madeira apodreça mas rápido, tornando assim, a escada não muito segura. Ao descer olho para todos que me olham em silêncio, todos eles sabem o que minha mãe quer conversar, tenho certeza disso. - Oi, de novo. - Me sinto uma completa idiota fazendo isso.

- De novo? - Phelipe pergunta.

- É... Talvez eu tenha visto Lorayne hoje de manhã. - Minha mãe diz.

- O QUÊ? E não falou nada? - Ele expressa indignação.

- Calma amor. - Larissa se aproxima dele e toca em seu ombro. - Ela deve ter os seus motivos para não ter contado.

- Sobre o que quer falar comigo mãe? - Digo muito rapidamente, demostrando o meu desespero em não precisar mais ver aquela cena desprezível.

- Muitas coisas minha filha, eu recomendo você se sentar por que a história é longa e não será fácil ouvir o que estou prestes a te dizer agora...

Me sento no chão de terra apreensiva, tenho medo do que ela possa dizer. Jhon me disse alguns minutos antes que haviam dois motivos que me fariam desistir de tudo, um acredito ser Larissa, que se casou com o meu namorado e teve um filho com ele. Agora basta saber o segundo motivo e é o que eu mais temo.

- Vou me sentar do seu lado Any, sou sua amiga e estarei sempre aqui por você. - Engulo a falsidade dessa garota e guardo para mim. Esteve tanto por mim que resolveu até assumir o meu lugar, me substituir como namorada de Phelipe, além do mais, seguiu adiante e se casou com ele, como se não bastasse, suas vidas estão até o fim ligadas agora por um filho. Achei extremamente fofo da parte dela. Vocês não acham?

- Antes da sua mãe contar o que aconteceu neses últimos 10 anos... Poderia nos contar o que aconteceu com você? - Mariana pergunta, ela é a mãe dos irmãos Volturre, era minha sogra.

- Tudo bem. - Digo. - Eu estava na floresta como de costume.

- E dizia para sua mãe que estava em minha casa. Que amiga hein. - Larissa diz no puro deboche.

- Pois é, que amiga. - Digo no mesmo sarcasmo que a garota. - Continuando, sem interrupções. - Olho para Larissa que entende o recado. - Eu ouvi um barulho e então fui ver o que era. Encontrei meu pai lá.

- O Roberto? - Minha mãe pergunta.

- Ela tem outro pai por acaso? - Larissa pergunta rindo.

- O que eu disse sobre sem interrupções? - Digo já furiosa para Larrisa. Me viro para minha mãe e como se não tivesse com uma raiva consumidora dentro de mim, respondo docemente. - Sim mãe, era Roberto, seu marido, meu pai. Ele estava desesperado e me implorou para que eu corresse, corresse e não olhasse para trás.

- Mas por que? - Jhonatan pergunto e minha vontade é de jogar uma pedra em seu rosto. SEM INTERRUPÇÕES. Meu semblante já expressa o que estou pensando e ele rapidamente diz. - Esquece, eu não perguntei nada.

- Ele disse que haviam pessoas atrás de mim. - Minha mãe quase perde o ar agora. - Eu corri e não olhei para trás, com muita relutância, então cheguei em um lago e aqueles homens estavam próximos demais de mim... Pulando na água ou não, eles iriam me pegar. Mas então alguém apareceu e me arrastou para algum lugar, não me lembro de mais nada.

- Você realmente foi sequestrada. - Phelipe diz pensativo.

- Na verdade não... - Todos me olham confusos. - Ele disse que era amigo do meu pai e que ele havia o enviado para me levar a um lugar seguro. - Minha mãe começa a tossir sem parar. Ela sabe de alguma coisa. - Mãe, por acaso a senhora sabe quem era esse garoto e quem estava atrás de mim? - Ela fica vermelha.

- É... Mais ou menos. - Todos ficam em silêncio, esperando que ela diga o que sabe. - Seu pai tinha um amigo que jurou te proteger. Não sei quem ele é, nunca o vi. Seu pai nunca me disse o que aconteceu naquele dia com clareza, só que estava segura, que voltaria quando fosse seguro. Mas... Os anos se passaram e você não voltava. - Ela abaixa a cabeça, triste. - Implorei para que ele dissesse onde estava, mas ele nunca quis me dizer. Tivemos muitas brigas por causa disso, eu entendia que era perigoso se eu soubesse e provavelmente era um lugar que eu nunca poderia ir, mas eu sou sua mãe, eu queria te ver nem que fosse a última coisa que eu fizesse nessa vida.

Todos ficam em silêncio, um silêncio longo e desesperador.

A Deusa da Chama: A Dona da Vida e da Morte (EDITANDO)Where stories live. Discover now