67 - Richard.

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— PERDEU, PERDEU, LARGA A ARMA, PERDEU! — gritaram do outro lado, me deixando nervoso

— PERDI O CARALHO! — debochei dando mais tiro, mesmo todo impossibilitado com maior peso em cima de mim

— TU TA SOZINHO PORRA! — gritaram de novo, me fazendo rir

— EU NASCI SOZINHO FILHO DA PUTA! CAI PRA DENTRO — falei rindo fazendo meu coração acelerar — Eu vou me render mas porque eu quero, pra vocês não falarem que tiveram motivo para me matar — jogo a arma já sem munição no chão

Passou alguns minutos e tiraram a porta me arrastando para fora com brutalidade.

Caralho, fui pego.

Se não me matarem.

Caralho.

Começo a me debater no chão sentindo as mãos se afastarem de mim — Tá se batendo por quê seu cuzão? — sinto alguém pisar nas minhas costas — A casa caiu pra você, pode parando de gracinha — falou de afastando

— Tá nervosinha? Tu não é o brabo? — debocharam rindo sem me tocar

Eu me vi cego, desesperado, se eu cair na cadeia eu não saio nunca mais, eu vou mofar lá dentro, nem meus filhos eu vou poder ver crescer, caralho! Eu tô ferrado.

Me algemaram com as mãos para trás e me viraram de barriga para cima e vários me olharam, alguns com máscaras, outros não.

— Eu disse que ia te pegar, eu te avisei! — a voz feminina falou segurando meu queixo, a Victoria — Perdeu! Perdeu, Richard Silva.— engoli a seco

— Na covardia é fácil, madame! 5 minutinhos eu e você na trocação, vamos ver quem ganha! — debochei cheio de ódio, meu corpo todo ardendo, tenho certeza que a minha cara não é a das melhores

— Rato, você vai mofar na cadeira — empurrou minha cabeça pra trás — Missão perfeita é missão concluída — ela falou apertando a mão de um cara que chegou

A festa estava feita, eles tiravam fotos minhas e falavam, ligavam, faziam chamada de vídeo, todos os jornais presentes, enquanto eu tava ali algemado, mal conseguindo me mover, igual um animal de exposição.

Me pegaram a covardia, feriram gente que não tinha absolutamente nada a ver com a história, eu não sei nem se meus parceiros estão vivos, tô cheio de ódio, cego, meu coração tá acelerado e minha cara quente.

Me levantaram e botaram a mão na minha nuca, abaixando a minha cabeça com força, desci a comunidade andando, sendo cercado por várias pessoas.

"Não existe nada que traz a liberdade
E nem tortura mais cruel do que a saudade
Lá atras das grades não tem recuperação
Só alimenta o ódio que nós tem no coração"

— FILHO! — a voz da minha mãe me tirou do transe, percebendo que eu já tava na entrada da favela, onde tinha vários carros de polícia — MEU FILHO NÃO! MEU DEUS! — o olhar dela me derrubou, me matou por dentro, ver ela sendo afastada por tentar se aproximar de mim, me deu mais ódio ainda

De longe eu vi o Gabriel carregando ela, passando mal, meus olhos encheram de lágrimas, me botaram dentro do carro e foi nesse momento que eu tive todas as certezas que eu deveria ter escutado a minha mãe quando ela disse que não me queria me ver nessa vida.

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Richard: Escolhas.Where stories live. Discover now