Olhares significam mais do que palavras

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Pela manhã, logo quando o sol acabava de nascer por entre os prédios, Joui acordou com um leve incômodo no rosto, seguido de uma coceira. Abriu os olhos, mas imediatamente os fechou novamente ao notar sua visão bloqueada. Fez uma careta, tirando com cuidado o cabelo de Cesar de cima de seu rosto, que ainda dormia sereno ao seu lado, iria sugerir que ele amarrasse o cabelo na próxima vez. Tentou se levantar sem acordar os dois homens ao seu lado, mas desistiu ao sentir o braço de Cesar ao seu redor o segurando no lugar, mesmo dormindo, então voltou a deitar-se, olhando para eles.

Arthur continuava com o braço ao redor de Cesar, deitado com o rosto apoiado em cima da cabeça do outro, que estava mais baixo no meio da cama comparado aos outros dois. Era bom vê-lo em um sono pacífico. Apesar de Joui não ter passado tantas noites ao lado deles como gostaria, sabia que Arthur tinha pesadelos constantes que o atormentavam a cada vez que ia dormir, então perceber que ele estava relaxado naquele momento e tendo um bom sono era suficiente para fazê-lo sorrir.

Olhou para Cesar, que parecia só uma cabeça no meio de um ninho de cobertas, o cabelo longo bagunçado e virado para todas as direções. Passou a mão de leve no rosto barbado, sentindo a pele aquecida sob seus dedos. Viu Cesar se remexendo um pouco na cama, lentamente abrindo os olhos, virando seu olhar para Joui, que mantinha a mão em seu rosto e não desviou o olhar.

— Joui? — perguntou sonolento, mal conseguindo manter os olhos abertos. Mesmo aquele que tanto virava as noites sentia sono, afinal.

— Volta a dormir — respondeu baixinho, subindo a mão do rosto do outro para o cabelo, iniciando um carinho lento por entre os fios.

Cesar apenas assentiu, rendendo-se ao sono e voltando a dormir. Satisfeito, Joui apenas fechou os olhos também, continuando o cafuné até eventualmente adormecer também.

Quando acordou novamente, já eram quase 8 horas. A primeira coisa que notou era que Cesar já não estava mais no quarto, a julgar pelo cheiro de cigarro próximo, deveria estar fumando na sacada. A segunda foi um par de olhos heterocromáticos bem próximos o observando.

— Bom dia, Arthur — cumprimentou, sentando-se na cama enquanto se espreguiçava. O outro continuou em silêncio, sorrindo, parecendo não ouvir. — Tá tudo bem?

Por fim piscou, balançando a cabeça como se acabasse de sair de um transe.

— Bom dia, Joui — respondeu, e sem dizer mais nada, se levantou de onde estava sentado, caminhando para fora do quarto com aquele mesmo sorriso no rosto.

Joui sorriu confuso, se levantando para começar a arrumar a cama. Ao terminar, virou-se para porta para sair, se deparando com Ivete, que sorria.

— Bom dia, tia Ivete. — Sorriu de volta para a mulher, que acenou, devolvendo o cumprimento.

— Deu tudo certo? — perguntou, o tom de curiosidade claro em sua voz e apesar de não especificado, ambos sabiam qual era o assunto questionado. — Eu vi como vocês tavam dormindo juntos quando cheguei e o Arthur parecia feliz.

O japonês já não corava mais com os comentários, apenas se sentia grato pelo tom acolhedor da senhora, que parecia feliz pelos três. Assentiu, confirmando as suspeitas. O sorriso de Ivete cresceu ainda mais.

— Fico feliz por vocês — comentou, se aproximando para abraçá-lo.

— Eu também — Joui respondeu, devolvendo o abraço. — Obrigado por tudo.

— Eu quem agradeço, principalmente por cuidarem do meu filho, vocês fazem ele muito feliz e ver isso me deixa feliz também. — Apertou um pouco mais o abraço, até se afastarem. — O café tá quase pronto.

E seguiram em direção a cozinha, onde um cheiro suave de ovos e café se espalhava, Arthur mexia na cafeteira, preparando sua bebida. Olhou para a sacada, vendo Cesar apoiado no corrimão com um cigarro por entre os lábios, olhando para o movimento. Caminhou em sua direção e apoiou-se no mesmo lugar, ao lado dele.

— Bom dia, Cesar — cumprimentou, voltando o olhar para o homem ao seu lado, que soprou a fumaça de dentro de seus pulmões, então virou-se para encará-lo de volta.

— Bom dia — devolveu, sorrindo minimamente para a surpresa de Joui. Apagou o cigarro, deixando-o sobre o corrimão para jogá-lo no lixo depois, não desviou o olhar.

Havia algo nos olhos de Cesar que Joui nunca conseguia entender, a partir do momento em que aqueles eles estivessem olhando diretamente para os seus, parecia que uma conexão era criada e ele não tinha forças para encerrá-la. Era hipnotizante, de certa forma, ao mesmo tempo em que era lindo. Seu rosto podia não expressar muito na maior parte do tempo, mas aqueles olhos pareciam dizer tantas coisas, esboçavam tantos sentimentos e Joui queria entendê-los um a um. Tudo o que as palavras não diziam, os olhos contavam silenciosamente, então poder olhá-los assim tão livremente naquele momento significava muito para si.

Aqueles olhos eram bonitos, também. Estava constantemente perdido em pensamentos para notar com exatidão aquelas cores, e agora, tão próximos, podia observar cada milímetro.

Piscou ao sentir seu nariz se tocando com o do outro, partindo aquela conexão. Seus rostos estavam a poucos centímetros um do outro, embora ambos não soubessem quando sequer começaram a se aproximar.

Se afastou, virando o rosto para a direção oposta a tempo de ver Cesar fazendo o mesmo na hora, não pela vergonha, mas pela surpresa da situação. Era óbvio o que estava prestes a acontecer ali, mas Cesar realmente queria isso? Será que estavam indo rápido demais? E Arthur? Como ele se encaixaria nisso?

Não podia negar que desejava aquilo, queria saber a sensação de ter aqueles lábios contra os seus, como seria tê-lo em seus braços daquela forma, e queria o mesmo com Arthur.

Antes que qualquer outro pensamento que o fizesse perder a cabeça surgisse, ouviu a voz de Ivete chamando atrás de si para entrarem para o café. Cesar colocou as mãos no bolso e entrou sem dizer uma palavra, enquanto Joui permaneceu no lugar por alguns segundos, olhando para o cigarro deixado pelo outro. Pegou-o e entrou também, soltando-o em uma lixeira enquanto caminhava para se juntar ao trio na mesa.

Tomaram o café da manhã em um silêncio confortável, vez ou outra soltando um comentário ou risada. Para seu alívio, Cesar não o olhava estranho ou o ignorava, embora o observasse mais profundamente quando achava que Joui não estava olhando.

Ao terminarem, cada um foi se arrumar para irem à base da Ordem. Não tinham nenhuma missão, mas Arthur queria acompanhar Ivete e Joui e Cesar apenas queriam ver como estavam as coisas por lá.

Ivete já descia as escadas e antes que o trio a acompanhasse, Cesar segurou o braço de Joui, desacelerando seu passo.

— Joui — chamou, e se aproximou para dar-lhe um beijo na bochecha, o que era tão incomum vindo de si que o japonês, sem conseguir processar imediatamente o que estava para acontecer, virou o rosto na hora que ouviu seu nome, o que fez com que acidentalmente os lábios que eram para se encontrarem em sua bochecha tocassem os seus próprios, formando um beijo rápido.

Arregalou os olhos, se afastando rapidamente e sentindo o rosto ficando quente. Estava se preparando para se desculpar, prestes a dizer que foi um acidente e não sabia o que era pra ter acontecido mais cedo, mas qualquer pensamento que cruzasse por sua mente naquele momento sumiu completamente ao ver Cesar dar um sorriso, apesar de estar com o rosto tão vermelho quanto o seu próprio deveria estar. Viu o homem soltando seu braço, caminhando em direção a porta onde Arthur, muito surpreso, estava parado olhando a cena. Parou na frente dele brevemente, inclinando-se para deixar um beijo semelhante nos lábios do outro igualmente, surpreendendo-o ainda mais, e então sorriu novamente, abaixando a cabeça e colocando as mãos no bolso, passando pela porta e descendo as escadas, deixando um Joui e um Arthur se entreolhando completamente confusos, porém com sorrisos amorosos nos rostos, para trás.

Um refúgio em seus braçosWhere stories live. Discover now