2 - Castanhos quentes

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"E sei também que minhas atitudes não foram as melhores, embora tu tenhas me garantido não ter qualquer ressentimento."

𝕆 carro de Andrea parou na frente da casa de Miranda. Depois de tantos minutos conversando, elas poderiam dizer que não eram mais tão estranhas assim. É possível conhecer uma pessoa em uma hora? Talvez nem em um mês, ou sequer em um ano. Mas a sintonia de suas vivências e pensamentos era inegável.

Miranda não dava abertura para qualquer pessoa, mas de alguma forma ela sentia uma inclinação natural para saber mais de Andrea e até mesmo falar sobre si. Andrea não tinha seu interesse desperto com muita frequência, mas Miranda tinha um mistério que fazia ela querer desvendar a mulher.

Aqueles olhos azuis escondiam um universo, mais do que Miranda estaria disposta a falar. Já os olhos castanhos eram tão transparentes, que Andrea poderia dizer facilmente como se sente somente através deles.

"Então... Como posso compensar-te por essa... Carona?" Miranda sorriu verdadeiramente. A essa altura ela já tinha uma facilidade inefável de oferecer sorrisos genuínos para a jovem.

"Oh, você não precisa. Sua companhia foi compensação suficiente."

Miranda olhou algum tempo para frente, como se estivesse lutando contra um pensamento, ela não queria encerrar a conversa, não queria dizer adeus. Andrea gostava de poder observar os gestos da mulher, eram peculiares e elegantes.

"Talvez você queira... apreciar um vinho comigo." Andrea piscou rapidamente - Dar carona para uma estranha é pior do que entrar em sua casa? É uma péssima ideia. - ela pensou antes de responder.

"Adoraria." Andrea desejou não se arrepender de sua imprudência, mas algo a dizia que ela não iria. Não seria assim que as coisas ruins acontecem? Quando menos esperamos e nos sentimos mais seguros?

Elas desceram do carro e Miranda abriu a porta de sua casa, dando passagem para Andrea entrar primeiro. Sua primeira visão fora da sala de estar, cores claras, hiper organizada e uma decoração requintada com alguns quadros e fotografias artísticas nas paredes.

O ambiente tinha um aroma frio e doce, um cheiro único, que Andrea sentiu de forma suave em seu carro, mas agora lhe impregnava as narinas.

"Sente-se, vou trocar esse vestido e já volto com o vinho." Miranda sentiu a necessidade de orientar Andrea, já que ela estava parada tempo demais. A jovem apenas sorriu em resposta e ficou andando pela sala, observando cada detalhe das artes nas paredes.

Uma fotografia em tons de sépia chamou sua atenção, um rosto, do nariz até o pescoço, com o dedo indicador pressionando os lábios. Silêncio. Andrea observou por alguns instantes e só então se deu conta do quão silenciosa aquela casa era. Não se ouvia pessoas ou carros no exterior, não se ouvia Miranda, não se ouvia nada. Apenas silêncio.

"Você gostou?" Miranda parecia ter se materializado atrás dela. Andrea deu um sobressalto se perguntando como a mulher chegou ali sem que ela percebesse.

"Por Deus, mulher! Pigarreia pelo menos." Miranda deu uma leve risada, se divertindo com o susto dela. "É uma bela fotografia, é sua?" Ela arqueou uma sobrancelha, surpresa com a pergunta.

"Você é a primeira pessoa que faz essa pergunta." Inclinando a cabeça para o lado, ela concluiu pensativa. "O que não é tão surpreendente já que recebo poucas pessoas aqui."

Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)Où les histoires vivent. Découvrez maintenant