12 - Cristais brilhantes

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"Querida, Andrea. Apesar de não obter resposta da carta anterior, teimo em escrever novamente para ti."

𝔸ndrea deslizou os dedos pelos álbuns perfeitamente alinhados na estante. Ela puxou um deles e sentou para apreciar com calma a fotografia de Miranda. Esse era parecido com o que ela havia visto no dia em que conhecera a mulher, a capa completamente branca e com uma textura trançada, bordas com encaixes dourados e polidos.

Assim que o abriu, seus olhos foram agraciados por diferentes fotografias dela, em diferentes momentos, algumas mais jovem, outras pareciam recentes, algumas com aquele lindo sorriso que iluminava tudo a sua volta, outras séria, com os olhos frios, em algumas parecia estar brava, em outras, divertindo-se.

Haviam páginas com notas, e até mesmo um nome: James Hamilton. Ela franziu o cenho, uma curiosidade pujante em sua mente, afinal, Miranda provocava esse sentimento nela a todo momento, por mais coisas que ela soubesse da mulher, nunca era o suficiente, sempre lhe parecia demasiadamente misteriosa e cada vez mais interessante.

Ela puxou outro álbum com uma capa cinza, esse estava repleto de fotografias instantâneas, todas do rosto de Miranda. Algumas sorrindo, outras com os olhos e o nariz avermelhados, o rosto inchado, sem qualquer maquiagem e os cabelos desgrenhados. Ela imaginou ser um álbum de registro do humor de Miranda, talvez fazer um autorretrato fosse alguma espécie de cura.

Mais um álbum foi aberto na mesa, nesse haviam registros de lugares diversos. De crianças brincando em um parque até natureza-morta. E ela ficou ali, absorta em cada imagem, cada álbum lhe causando uma sensação diferente. Ela se imaginou estando naqueles lugares, ao lado de Miranda, observando-a fotografar e apontando direções.

Então ela encontrou aquele primeiro álbum que pôde ver somente uma foto na outra semana. Ela entendeu o motivo de Miranda proteger aquela sala, eram imagens totalmente íntimas da mulher e em diversos momentos. Imagens somente de seus lábios, barriga, as pernas dobradas na banheira, o corpo nu deitado no sofá, fotografias tiradas frente ao espelho, de roupa íntima ou camisola.

Ela conseguiu ver tudo aquilo com o olhar de apreciação artística, admirando a arte da fotografia e a arte que era aquele corpo delicado e gracioso, dotado de uma beleza que transcendia os limites da absorção de Andrea. Certamente, Miranda tinha uma coisa, algo que fazia a jovem refém de seus encantos. Ela não poderia dizer se estava no olhar penetrante que parecia invadi-la e ler facilmente todas as linhas de seu âmago, se estava na força das palavras de Miranda, que fazia com que ela se sentisse sempre confortável na presença dela, se eram seus sentidos sendo roubados pelos cheiro, toque, sabor e sua imagem de perfeição, ou se estava na complexidade de suas vivências, tão diferentes e tão iguais. A única coisa que ela poderia afirmar com certeza, é que não era puramente físico, tampouco somente essente.

°°☉°°

"Miranda." Andrea chamou pela mulher, que dormia ainda agarrada ao travesseiro. "Miranda." Ela afastou uma mecha loira do rosto de Miranda e roçou seu nariz no dela. "Você não acorda com nada?"

"Eu estou acordada, mas tinha esperança que você desistisse." Respondeu com a voz sonolenta.

"Eu percebi que você não comeu nada hoje, e você se sentiu mal ontem e bebeu vinho hoje sem se alimentar."

"Ótimas percepções, criança, obrigada por me informar o que eu já sei." Ela puxou o cobertor até seu rosto, cobrindo-o, e Andrea bufou, puxando-o de volta. Miranda finalmente abriu os olhos, lançando um olhar incrédulo para ela.

"Você precisa se alimentar, eu arrumei a mesa com umas coisas que Tara deixou preparada."

Miranda revirou os olhos e rolou na cama, virando-se para o outro lado e fechando novamente os olhos. Persistente, Andrea rastejou entre os lençóis e deitou de frente para ela, abraçando sua cintura.

Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora