40 - Um azul e outro branco

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𝔸 vida é cheia de surpresas, e não poderia ser diferente. Que prazer teria viver em um mundo onde tudo é esperado?

Quando Miranda, no primeiro minuto do dia primeiro de janeiro de 1995, desejou sob os fogos de Paris que naquele novo ano não se sentisse mais sozinha, ela jamais imaginou que na semana seguinte conheceria a mulher que lhe despertaria o sentimento mais genuíno pela primeira vez.

Ela não imaginou que, ainda naquele primeiro mês do ano, teria seu coração partido, ou que teria algo que jamais esperou ter em sua vida, um fruto de seu romance. Não imaginou que desejaria tantas coisas que nunca desejou. Uma vida em família, acordar todos os dias ao lado da mesma pessoa, compartilhar a felicidade e os problemas com alguém.

Ela tinha orgulho de prever os passos de sua vida, mas não havia previsto nada daquilo.

Do lado de fora do prédio onde Andrea morava, um chofer corretamente fardado desceu do carro e abriu a porta para ela entrar. A jovem sentou-se ao lado de Miranda e lhe sorriu brilhantemente.

Miranda, no entanto, olhou para ela com uma estranha frieza e desviou o olhar para a janela. E assim permaneceram, em completo silêncio durante todo o caminho até o hospital.

O chofer parou no estacionamento subterrâneo e elas caminharam na direção do grupo de elevadores.

"Mira, o que há de errado?" Perguntou Andrea, enquanto esperavam o elevador chegar.

"Não há nada de errado." Respondeu, sem olhar para ela.

"Nós vamos fazer algo importante hoje." Segurou delicadamente os braços de Miranda e a fez voltar-se para ela. "E não quero passar por esse momento sabendo que você está brava comigo. O que acha de resolvermos isso agora?"

"Quem era aquela beijando você na escadaria do seu prédio?" Encarou-a com o rosto neutro.

"A Lilly? É a minha amiga, nós dividimos o apartamento."

"Oh, vocês moram juntas, que interessante."

"Está com ciúme?" perguntou com um tom de surpresa na voz.

"Tenho motivos para estar?"

"Não!" Andrea riu. "Ela é minha melhor amiga, praticamente crescemos juntas."

"Vocês duas nunca tiveram nada além da amizade?"

"Não, não! Somos como irmãs." Disse ela, escandalizada com tal suposição. "Ela só estava me desejando felicidades, quase não nos vimos nos últimos dias e não tivemos oportunidade de conversar melhor sobre todas essas mudanças repentinas em minha vida."

Sem dizer mais nada, Miranda voltou a olhar para a porta do elevador, este abriu logo em seguida e elas o ocuparam imediatamente.

"Miranda, estou falando a verdade." A voz transpareceu sua preocupação.

"Eu acredito em você. Não mentiria para mim, não é?" Olhou-a firmemente e Andrea negou com um gesto. "Não há motivos para nenhuma de nós mentir para a outra."

"É claro que não. Você ainda está brava?"

"Não estou brava, estou tensa e não posso evitar."

"Vai ficar tudo bem." Disse docemente. Passou-lhe o braço por trás das costas e puxou-a para colar no seu corpo.

Miranda encostou a cabeça no ombro dela e suspirou.

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Estavam ambas sentadas diante do médico. Depois de aferir a pressão arterial de Miranda, ele anotou algo no prontuário dela e fitou-a por trás das lentes bifocais.

Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora