7 - Boca rosada

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"É fato que os eventos de nosso último encontro foram conturbados, eu disse coisas que não representam o que sinto, enquanto tu tentaste me atingir com tuas ações."


𝕄iranda levou Andrea para sua casa noturna favorita. Era uma espécie de restaurante com um bar, palco e área de dança. O ambiente era escuro, iluminado apenas por lâmpadas vermelhas e holofotes azuis, que se moviam por todo espaço.

Elas estavam em uma mesa ao fundo, bebendo drinks flamejantes e comendo canapés de salmão.

"Às vezes..." Andrea virou um shot na boca. "...eu fico pensando em pessoas que não estão mais na minha vida, sabe? Eu me pergunto o que aconteceu com minha professora do jardim ou minha melhor amiga de infância. Por que eu não vejo mais meus colegas da universidade? Alguns deles eram legais. Então eu percebo que a maioria das pessoas que estão em nossas vidas, vão deixar de estar em algum momento."

"Sim, sim. É como se ninguém viesse realmente para ficar. Eu tive esse namorado há uns... Sete anos, quando eu comecei a trabalhar na revista. Nós estávamos empolgados com nossos novos empregos e tínhamos algo bom. Eu sempre pensava que quando terminássemos continuaríamos amigos. E funcionou por um tempo, até que fomos parando de nos ver e hoje eu sequer sei o que ele faz ou onde mora. É estranho pensar que alguém que foi tão próximo, hoje não é mais do que uma memória no passado."

"Faz pensar também que nunca sabemos quando é a última vez que vemos uma pessoa, se soubéssemos, certamente agiríamos diferente, diríamos diferente. Pensamos que sempre haverá uma próxima vez, quando deveríamos pensar que ninguém vem para ficar."

Miranda abaixou o olhar para as próprias mãos e Andrea percebeu que ela havia ficado reflexiva por um momento. Tocou a mão de Miranda e recebeu o olhar azul avelã sobre si.

"Eu te deprimi? Oh meu Deus, eu tenho um dom de começar um assunto deprimente e acabar com..."

"Não, não!" Miranda sorriu, interrompendo-a. "Eu só... Lembrei de algumas pessoas. Minhas irmãs."

"Oh, você tem irmãs. Eu sempre quis ter uma, ser filha única pode ser tão solitário."

"Ter irmãs também pode ser solitário. Nós não nos falamos há algum tempo. Geralmente só nos procuramos quando estamos com problemas."

"Típico! Como elas são?"

"Hum, a mais velha é atriz, apresenta peças e musicais em Londres. A mais nova tem uma espécie de hotel na Grécia."

"Uau, vocês foram para caminhos totalmente diferentes."

"Somos muito diferentes uma da outra, tanto que não conseguimos ficar perto por muito tempo." 

Miranda soltou um riso claramente triste, então Andrea se levantou e ofereceu a mão, convidando-a para dançar.

"Okay, vamos afastar esse clima, vamos dançar!"

"Não, não, não!" Miranda moveu as mãos em negação. "De jeito nenhum."

"Vamos lá! Vamos nos divertir!" Andrea piscou seus longos cílios, fazendo olhos de filhote de cachorro e Miranda acabou por ceder, revirando os olhos. Agarrou a mão oferecida e caminhou para a pista.

Ao som de um jazz animado, Andrea girou Miranda em seu eixo e puxou contra seu corpo, elas riram quando Miranda fez o mesmo com ela, e elas continuaram a dança descomprometida, apenas brincando com os passos e rindo do resultado. 

A música findou e logo iniciou outra em um ritmo mais lento. Elas sorriram uma para outra, e se olharam um pouco tímidas. No entanto, Andrea tomou a iniciativa, aproximou-se, segurou em seus cotovelos e ergueu os braços dela para envolver seu pescoço. 

Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora