18 - Aura flavescente

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"Decidi que esta é a última vez que te escrevo."

𝔸s calçadas de Vallée-du-temps começaram a ficar movimentadas, as pessoas indo e vindo davam vida à pequena cidade. Entre elas, Miranda e Andrea, protegidas do frio pelos casacos, caminhavam sem um rumo definido, apenas conversando e conhecendo a cidade. Miranda tinha sua câmera pendurada no ombro e Andrea carregava uma pequena bolsa com os pertences essenciais das duas.

"A última vez que estive aqui foi há seis anos e está exatamente igual a antes." Miranda proferiu, ajustando o lenço em seu pescoço enquanto observava o entorno.

"Mas você não está igual."

"Não! Eu não sou a mesma de um mês atrás, imagine seis anos. Eu tenho essa sensação quando eu olho para o meu eu do passado, não consigo reconhecer algumas coisas como minhas, é como se eu estivesse vendo um filme e minhas memórias são a vivência desse personagem."

"É como um sentimento de estranheza consigo mesma?"

"Acho que sim, penso em coisas que falei que não parecem minhas, não é algo que eu falaria hoje, o mesmo para algumas atitudes que não reconheço."

"Acho que simplesmente somos uma nova pessoa a cada dia, hoje eu sei mais do que ontem, então..."

A jovem parou de falar quando sentiu dedos escorregarem pela palma de sua mão e entrelaçarem aos seus. Ainda que estivesse de luva, ela conseguiu sentir o calor da mão de Miranda, segurando delicadamente a sua, como se fizesse isso todos os dias.

"Oh! Essa loja é nova." Miranda se aproximou da vitrine, puxando Andrea consigo. "Eu adoro acessórios artesanais, é tão primitivo e original."

"Você não conhece muita gente por aqui, certo?" Andrea indagou, e Miranda olhou para ela com o cenho franzido.

"Não, por quê?" Como resposta, a jovem apenas direcionou o olhar para as mãos unidas, e Miranda não precisou de muito mais do que isso para entender, ela quase sempre entendia. "Eu morei aqui por algumas semanas quando cheguei na França, minha tia vivia aqui e eu precisava de um lugar para ficar até conseguir um emprego." Ela voltou a caminhar, ainda de mãos dadas com a outra. "Você está certa, eu não conheço as pessoas daqui, e é provável que elas também não me conheçam. E sim, isso significa que podemos ser um pouco mais íntimas, mas você ainda não pode se aproveitar de mim."

"Eu? Aproveitar-me de você?" Exclamou rindo, levando a mão ao peito.

"Claro, continuou sendo uma mulher discreta."

"Discreta é o mesmo que sem graça."

"Se você é adepta ao exibicionismo, eu não tenho nada a ver com isso."

"Certo! Eu posso fazer umas fotos?"

Miranda a olhou hesitante por alguns segundos antes de entregar a máquina para ela.

"Tudo bem, mas é minha câmera favorita, coloque no pescoço para não cair."

"Oui, madame!"

Enquanto caminhavam, Andrea se divertia fazendo suas fotografias, e Miranda se divertia somente em observá-la, era como uma criança e seu novo brinquedo ganhado no Natal.

A lente encontrou o rosto de Miranda e capturou o leve sorriso em seus lábios, tão suave que nem ela mesma sabia que estava sorrindo.

"Fique assim. Eu quero tirar uma foto sua."

Andrea foi caminhando de costas e fazendo fotografias de Miranda enquanto andava, então ela viu o sorriso de Miranda crescer através do visor e no exato momento da foto, sentiu suas costas se chocarem em uma estrutura de ferro.

Stay With Me - Cartas Esquecidas (Mirandy - Intersexual)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora