2. Reflexões.

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   Depois do último acontecimento, resolvo caminhar até a praia. Eu estava, de fato, me sentindo melhor, mas as coisas que Pedro disse sobre minha mãe ainda estão atravessadas. Sento-me em frente ao mar de Ipanema, a vista à minha frente é linda: fim de tarde, o mar está meio agitado, a areia fria e o pôr do sol de um laranja maravilhoso. O Rio é mesmo um lugar é mágico! Como pode alguém ter ao seu dispor essa beleza natural todos os dias e acabar se preocupando demais com detalhes tão inferiores. E mesmo com todo esse esplendor ao alcance de meus olhos as palavras de Pedro voltam a me rondar e me machucar. “Desde que sua mãe morreu...” Que afronta! Dona Elisa... quanta saudade aqui dentro do meu peito! Minha mãe, que sempre foi uma mulher linda e cheia de vida, que cativava à todos à sua volta. Levou, em boa parte de sua existência, uma vida simples e possuía um caráter inabalável. Uma mulher de fibra, que nem nas piores adversidades pela qual passou se deixava abater, nem mesmo quando foi abandonada grávida aos vinte anos pelo meu progenitor. Porque nem de pai merece ser chamado porque fugiu da responsabilidade como o diabo foge da cruz. Minha querida e saudosa mãe lutou, e lutou muito, para dar o máximo de conforto e educação que estivesse ao seu alcance. Porém, há um ano atrás, Deus resolveu leva-la para junto de si. Levando com ela metade de meu coração, me deixando com uma dor que parece não findar jamais. – Óh, minha mãe! – não consigo e nem me esforço para conter as lágrimas que escorrem pelo meu rosto. Estava tão perdida em meus pensamentos que demoro a perceber que meu celular estava tocando. – Alô? – Estava tão distraída que atendo sem olhar o número, coisa que raramente faço.

- Dara! É a Lu, amiga.

- Lu! Parece que você adivinha quando eu estou precisando de você. – E sempre foi assim, desde que nós éramos duas pirralhinhas catarrentas. Luiza Sodré. Sabe aquela história de ‘família que a gente escolhe’? Essa é Luiza, minha irmã de coração. E eu posto apostar que se fossemos irmãs, seriamos gêmeas porque ela sempre sente quando eu estou na pior, desde sempre.

- Ô, minha amiga! Que voz tristinha é essa, meu amor?

- Ai, Lu... – tento disfarçar em vão a vontade incontrolável de chorar. – Eu estou há mais de um ano, desde que mamãe foi diagnosticada, tentando me controlar, me fazer de durona. Mas dói tanto, tem sido tão duro suportar essa dor aqui sozinha...

- Como sozinha? E eu sou o quê? Muito obrigada pela consideração, Dandara Ferraz!

- Você entendeu muito bem o que eu quis dizer. Você está a milhares de quilômetros de distância de mim.

- Eu sei amiga, só queria descontrair. Você sabe que se minha vida não estivesse uma loucura eu já estaria aí ao seu lado. Mas e o Pedro?

- Ai, nem me lembra desse babaca! Mandei passear.

Luiza não se contém e começa a rir do outro lado da linha. - Ô, minha amiga... desculpa, mas você sabe que eu nunca fui com as fuças dele. O engolia porque era teu namorado.

   Ficamos conversando ainda por uns trinta minutos sobre nossa infância, lembranças boas de mamãe, e outras reminiscências. Foi o suficiente para confortar um pouco meu coração. Se Luiza soubesse o bem tão grande que me faz... ela é mesmo um anjo que Deus mandou para alegrar meu coração e eu só tenho percebido isso ultimamente. 

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