Capítulo 18: Provação

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Eu sentia como se meu coração fosse estourar meu peito, como um xenomorfo da franquia Alien. Ele estava acelerado, batendo tão rápido que eu achava que um médico não poderia medir tal velocidade. Depois do que aconteceu naquela vila, quando Nathanael e Aaron Van Helsing, com ajuda de algumas outras pessoas cujo nome eu não lembrava-me, tiraram o coração dela e a jogaram em um coma mágico do qual era impossível acordá-la, eu nunca imaginei que a veria outra vez – exceto, talvez, em sonho ou ilusão, como a criada por Reymocell.

No entanto, ali estava ela. Seu rosto estava mais pálido, mas não parecia mais magro. Seus cabelos estavam tão castanhos como sempre. Suas curvas eram as mesmas, como se o fato de estar deitada há seis meses não afetassem seus músculos de maneira alguma. Elena estava coberta por um lençol fino de seda; ambas as mãos estavam sobre a barriga, direita sobre a esquerda.

O homem que estava sentado na cadeira ao seu lado cessou a leitura de um livro cujas palavras eram desconhecidas, em uma estranha língua que eu nunca tinha ouvido antes. Entretanto, reconheci uma palavra que Lael tinha pronunciado quando lia as palavras gravadas nas pedras redondas. Perguntei-me se aquele homem não falava Urshistaniano, afinal, aquele lugar estava em ruínas do ancestral reino do Urshistan, ou pelo menos, uma reconstrução delas.

Então, levantou a cabeça para me encarar. Sua pele era mulata, com olhos intensos e amarelos, capazes de ler o mais profundo segredo de uma alma, viva ou morta. Ele sorriu, mostrando dentes cerrados em "v"; seu nariz era pequeno, quase inexistente, tendo em seu lugar apenas dois buracos semiverticais que se abriam e fechavam quando ele respirava. Seus cabelos eram extremamente pretos, chegando até mesmo a serem foscos.

– Você deve ser Leonard Ross. – Ele disse; sua voz era suave, como a de um cantor. – O Senhor disse que você viria.

– O Criador? – Eu perguntei retoricamente depois de olhar para Týr por um segundo; eu sabia muito bem qual era a resposta.

– O próprio. Chamo-me Sa'drik Danass, gêmeo de Misha Danass, e uma das duas almas de Urshistan a viver no Paraíso. Estou aqui a mais tempo do que quase todas as almas, quer dizer, depois de sair da Mansão dos Mortos cerca de dois mil anos atrás.

Quando a Morte perdeu a chave do Reino dos Mortos para o Criador – e que era o motivo de tudo que havia acontecido comigo, com os escolhidos e com toda aquela guerra que acontecia ao nosso redor.

– O que você está fazendo aqui?

– Eu sou escolhi viver aqui, no lugar mais parecido com meu antigo lar, assim como meu irmão. Entretanto, o Criador pediu-me para cuidar dela. – Apontou para Elena. – Inclusive, contou-me toda história de vocês, incluindo após sua morte e seu acordo que te colocou no Paraíso. – Assim que ele falou, eu percebi que tudo que havia acontecido não estava fora do conhecimento dEle; talvez, a Morte não o tinha enganado como eu imaginei durante o Julgamento. – E Ele fez algo que nunca imaginei que ele faria: conectou o Paraíso ao Inferno, mas apenas nesse quarto.

Eu pensei na Batalha dos Heartless que aconteceu há apenas uma semana e alguns dias. Uma conexão do Paraíso com o Inferno era mais comum do que ele imaginava; ao mesmo tempo, pensei nas palavras exatas dele: o Criador havia feito aquela conexão, e não os demônios.

– Ele também me deu isso.

Sa'drik caminhou até uma prateleira, onde havia alguns livros de capas escuras, mas sem o título na lombada. Pegou o que estava no meio, em cor de vinho intenso. Abriu-o e tirou de dentro dele um pequeno frasco redondo em volume e com o bico de saída mínimo, quase como um conta-gotas. Transparente, o líquido dava a cor dourada para o frasco. Não vi qualquer rótulo, frente ou verso.

Afterlife: AscensãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora