Capítulo 30: Passado Amaldiçoado

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França

1470

A mulher corria pela floresta. Ela era seguida de perto por um homem que, com uma faca, estava pronto para matá-la. Ela correu e correu. Tropeçou em uma raiz, mas antes que caísse no chão, ela virou-se para proteger o bebê que carregava nos braços. Sentiu um tronco pontiagudo entrar na batata de sua perna. Ela gritou alto, mas forçou-se a se levantar. Olhou rapidamente para trás; seu perseguidor estava à vista, mas ainda distante.

Tropeçou seu caminho, sem saber muito bem aonde ia. Parou apenas quando viu a cabana construída entre duas árvores, sendo estas partes da estrutura, como se fossem colunas. De dois andares, a mulher tentou imaginar como ela poderia ter sido erguida, mas chegou a outra conclusão que não fosse explicada por uma única palavra: magia. Sua vizinha estava certa quando disse que ela saberia aonde encontrar a cabana.

Ela bateu desesperadamente na porta, praticamente socando-a com sua mão livre. Uma velha senhora, de rosto enrugado, nariz tão encurvado que a ponta praticamente tocava o queixo e no qual havia uma verruga de quase dois centímetros, abriu a porta. Ela deu um passo para o lado, convidando a mulher a entrar; o homem chegou pouco depois, mas seu rosto contorceu-se em uma careta ao ver a feia idosa que dera abrigo para a mulher que perseguia.

Incendia. – A idosa disse; os gritos do homem em chamas desapareceram completamente quando ela fechou a porta e voltou sua atenção para a mulher e o bebê. – Ele não irá te incomodar mais, senhorita.

Ela aproximou-se confiantemente, não esperando uma reação a contragosto da mulher. Agarrou o galho que estava fincado na batata da perna da mulher. Avisou por um segundo que iria doer, puxando o galho imediatamente em seguida. A mulher gritou de dor, despertando a criança em seus braços; o bebê começou a chorar desesperadamente, como se quisesse acompanhar a mãe. A mulher sentiu que algumas farpas tinham ficado no ferimento.

A idosa passou a recitar palavras em uma língua completamente desconhecida, uma que não se assemelhava a nenhuma outra que a mulher tinha ouvido em toda sua vida – e ela já trabalhara para lordes de toda Europa. A dor aumentou exponencialmente quando as farpas saíam sozinhas, como se uma mão invisível as puxasse. Assim que saíram, porém, a dor cessou quase imediatamente. A feiticeira continuou com suas palavras, fazendo com que o ferimento se fechasse. Até mesmo o sangue em seu vestido havia desaparecido.

– Eu estava preparando um chá. – A idosa comentou, enquanto retirava um bule de um fogão a lenha que tinha recostado a uma das paredes, mais especificamente, atrás de um balcão de madeira que dividia a cozinha e a sala, onde a mulher e a porta pela qual ela tinha entrado estavam. – Servida? – A mulher concordou, sorrindo aliviada. – Qual é teu nome, minha criança?

A mulher hesitou por um minuto, conhecendo o poder que havia nos nomes. Ela bebeu um gole do chá antes de responder:

– Mariette Boivin.

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Palos de la Frontera, Terra

1489

Amélie perdeu-se no reflexo dos olhos de Aiden por longos, longos minutos. Se pudesse, jamais sairia dali. No entanto, tanto ela quanto ele tinham uma vida do lado de fora daquelas paredes, daquela paixão. Ambos tinham deveres – mesmo que estivessem em lados opostos.

– Eu não confio em feiticeiros. – Ela finalmente disse; Aiden era muito paciente quando se tratava da ladra.

– Não estou pedindo para confiar em um, mas para roubar um. – O cavaleiro girou-a pelos ombros, de modo que pudesse fitá-la nos olhos sem precisar de um espelho. – Confie em mim.

Afterlife: AscensãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora