Capítulo 28: Frutos

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Nova Jerusalém

Depois de sairmos do labirinto de Arango pelo buraco que dupla de controladores de terra abriu, nós usamos o carro que eles dirigiram até ali para voltar para Nova Jerusalém – pela milionésima vez desde que morri; era o que acontecia quando o lugar é, quase literalmente, o centro do mundo e o lugar mais seguro durante uma guerra celestial.

Lana me levou direto para uma enfermaria improvisada, onde anjos e Heartless estavam sendo magicamente tratados por alguns anjos, no entanto, curar as duas raças tinha suas complexidades diferentes. Os anjos, por terem sido feridos pelos Filhos do Abismo, não tinham facilidade em recuperar-se como se tivessem sido feridos por demônios ou humanos.

Enquanto as almas, por serem almas, era ainda mais complexo. A natureza da alma humana era diferente de qualquer outra coisa na criação, algo que a magia dos anjos não era cem por cento compatível, tornando-as difíceis de curar; não impossível, era apenas mais demorado do que curar carne. Felizmente, este último, era o meu caso.

Dois anjos estavam comigo dentro de uma sala pequena que havia sido improvisada para tratar as almas, no entanto, naquele momento não havia ninguém além de mim. O anjo que estava a minha direita me olhava nos olhos; pude perceber que ele sabia que eu não era apenas uma alma, que tinha um corpo físico, e que não gostava nem um pouco dessa exceção. Já o da esquerda não parecia se importar; em sua forma feminina, ela parecia cansada dos dias em que fazia feitiços para curar as almas e anjos.

– Isso vai – o primeiro anjo começou a dizer, mas puxou meu braço de uma única vez sem qualquer aviso, colocando meu osso no lugar; a dor deixou-me tonto – doer. – O outro anjo fez alguns feitiços em braços, para juntar os ossos outra vez.

– Está curado, mas não aconselho você brandir sua espada por um tempo. – O anjo curador disse.

– Não é como se eu tivesse escolha. – Eu disse mais para Týr, que estava no ombro do meu braço bom do que para os anjos.

Deixamos a sala para nos reunirmos com Lael e Lana, que estavam do lado oposto ao portão pelo qual havíamos entrado. Os dois encaravam o outro portão, o primeiro que vi antes de entrar no Paraíso. Ele era feito de prata, com desenhos aleatórios, arredondados e belos feitos de ouro. Ele era vazado, mas não éramos capazes de ver o que existiam depois dele – apesar de saber muito bem que era o Corredor das Memórias. No centro do portão, o alfa e ômega unidos perfeitamente: o símbolo do Paraíso.

– Miguel nos deu permissão para voltar até o Éden e pegar um Fruto Proibido. – Lael informou, mas seu rosto estava apreensivo, como se estivesse nervoso.

– Tudo bem? – Lana disse; se eu havia notado a apreensão dele, imagine ela que o conhecia há anos.

– Eu não vou ao Éden desde que...

– Ela morreu. – Lana completou ao ver que ele não conseguiria. – A morte dela não foi sua culpa.

– Eu era o anjo da guarda de Giovanna. Eu deixei que aquela... Criatura a matasse, sugasse seu sangue, transformasse os pais.

– Não acho que você tinha escolha, Lael. – Lana tentava consolá-lo, mas até eu podia ver que ele estava além de qualquer consolo. – O Conselho proíbe os anjos da guarda de salvar as pessoas na Terra. Você se lembra o que aconteceu com o Azel.

Lael respirou fundo, dizendo em seguida para que continuássemos nossa jornada, dessa vez, voltando o início da minha. Eu finalmente entendi o sentido do símbolo no portão: alfa era a primeira letra do alfabeto grego, representando o início da vida das pessoas no Paraíso; enquanto o ômega, a última, representava o fim da vida na Terra – ou talvez, fosse por que o Criador se chamava de começo e fim do universo, como estava escrito na Bíblia.

Afterlife: AscensãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora