Capítulo 17: Projeto Fênix

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Califórnia, Terra

1940

Ele estava sentado em uma cadeira ao lado da cama de Christopher, que ainda dormia devido aos remédios que o médico havia dado para ele. O doutor informou que ele ficaria bem; não passara de apenas um susto. Tudo que Dean pensava era nos olhos rosados que ele mostrara durante seu ataque. Eles eram muito parecidos com os olhos do Karmesin.

Uma das empregadas entrou no quarto logo em seguida. Ele tinha o rosto jovem e belo; a pele branca de uma americana, porém os olhos escuros de uma latina, assim como seu cabelo. Ela afofou um dos travesseiros e ajeitou as cobertas, para garantir que Christopher estivesse confortável.

– O que foi que eu fiz? – Sussurrou para si mesmo.

– Você quase quebrou o feitiço que criou sua nova chance. – A empregada disse; Dean levantou os olhos do chão para ela, descobrindo que seu olho direito tinha mudado de cor.

– Quem... Quem é você?

– A Magia, seja lá qual for, é forjada através das palavras. – Ela disse ignorando a pergunta. – E as suas criaram esse feitiço, mas ele não é permanente, não se você ficar questionando todos os detalhes e encontrar pequenas inconsistências e ranhuras. Seu cunhado é exatamente isso. Ele está no feitiço e a mãe dele não. Se continuar perseguindo essa história, acabara colocando sua família direto em um campo de concentração. É isso que quer?

Definitivamente, não, mas Dean estava em choque para responder. Tinha ouvido falar destes campos de concentração, para onde judeus estavam sendo levados todos os dias. Viviam na miséria, dormindo com seus próprios excrementos, dezenas ou centenas de pessoas dentro de um mesmo abrigo sem janelas, apenas para tornarem-se objetos de estudo dos nazistas ou morrerem em câmaras de gases.

– Os olhos... – Começou a dizer, mas notou que os olhos da mulher haviam voltado aos castanhos de antes; ele pegou uma bandeja que estava sobre um criado mudo e deixou o quarto como se nada tivesse acontecido.

Dean não conseguia afastar o medo de seu coração enquanto caminhava de volta para casa. Não importava o quão irreal ou vazia ele achava que sua nova vida era, ele sabia no âmago de seu ser que ele tinha acabado de colocar todos em perigo.

Com as semanas passando e o inverno chegando – mesmo que na Califórnia não esfriava tanto quanto em outros lugares do país – sem qualquer sinal do Karmesin ou de alemães, as preocupações de Dean aos poucos foram se desfazendo, escondendo-se em um compartimento dentro de sua cabeça, o qual ele pouco acessava.

Não demorou muito para que as memórias de sua vida na Áustria começassem a parecer nada além de sonhos distantes; acostumar-se com o dinheiro em sua conta bancária aumentando todos os dias, viagens em dias aleatórios para o México, Canadá e dezenas de outras cidades americanas – até mesmo planejavam ir para a Argentina no fim daquele ano. Dean estava feliz como jamais esteve.

Naquela noite em questão, Dean combinara de buscar sua esposa no serviço, já que o carro dela estava no mecânico; ele, inclusive, precisou-a levar naquela manhã. Estacionou diante do prédio principal da Academia de Ciências da Califórnia e trancou a porta. Estranhou ao notar que não havia um segurança do lado de fora da porta; uma luzinha vermelha acendeu em sua cabeça.

Parou diante da porta lateral de aço, que ficava no concreto da parede ao lado direito da porta de vidro que os visitantes usavam durante as horas comerciais. Estranhou ainda mais quando se deu conta que ela estava entreaberta. Um lado de sua mente dizia que o segurança noturno a tinha deixado aberta quando correu para o banheiro; entretanto, o outro lado dizia que algo estava muito errado.

Afterlife: AscensãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora