16. simplesmente tudo

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Meus pés latejavam envolvidos na textura do couro preto de meu sapato social. Eu corria de maneira desesperada, o suor escorria por minhas têmporas e faziam o caminho molhado pela minha bochecha, passavam pelo meu pescoço até chegarem na clavícula onde se desfazia no tecido da gola de minha camisa preta. O desespero que tomava meu corpo fazia com que vez ou outra eu tropeçasse pelas calçadas, mas a canseira e os obstáculos eram pequenas coisas comparadas a minha vontade de fazer tudo certo desta vez.

Eu tinha apenas uma chance, um motivo, uma explicação e menos de um dia. E tudo por uma paixão.

Depois da visita de Seungkwan em minha casa, esperei apenas que virasse a noite para eu correr adoidado até a boate onde Jeonghan se divertia com seus capangas – e provavelmente com Seokmin.
Meu amigo me entregou cada passo, cada plano de Seungcheol para capturar o golpista. Mais um que traiu o FBI e o governo para reatar um amor quase perdido.

Quando cheguei no local desejado, abri as portas daquele lugar da forma mais bruta possível. Os seguranças da boate me encaravam com sangue em seus malditos olhares impiedosos, diferentes dos frequentadores daquele lugar, que nem ao menos me olharam de relance. Eu apenas mostrei meu distintivo para os homens vestidos de preto que tanto me queimavam com o olhar, eles se encararam e assentiram para mim, mantendo suas poses duras para barrarem mais um infeliz que tentasse entrar lá de butuca.

Eu já sabia todo o caminho até onde Jeonghan estaria, mas mesmo assim passeei meu olhar por cada parede e cada objeto daquele lugar, o que me parecia mais um deja vu, mas a diferença era que, da primeira vez em que entrei na boate, foi com o único intuito de completar mais uma de minhas missões com êxito, mas naquela hora eu estava fazendo totalmente o contrário de meus propósitos, sobretudo traindo a confiança de Seungcheol.

Sinceramente? Não me importava.

Quando entrei na sala banhada de cores douradas – coincidentemente a mesma sala em que desmaiei pela primeira vez por um ladrão bonito –, meu olhar fixou na silhueta de Jeonghan. Ele segurava uma taça de uma bebida que não pude identificar, seu sorriso alegre iluminava aquela sala ao interagir com seus capangas, inclusive iluminava meu olhar também. Eu podia o observar daquele jeito até o fim de minha vida, mas eu não tinha tempo nem para respirar direito, quem dera deliciar meu olhar por sua beleza cativante.

— Jeonghan! - Anunciei em tom alto, conseguindo a atenção do loiro, que se levantou do sofá e caminhou até mim de forma animada, com seus braços abertos prontos para me envolverem.

— Que surpresa, amor. Como vai? Você sumiu, poxa. Não atendeu minhas ligações. Não respondeu minhas mensagens. - Seu sorriso se desfazia cada vez que listava um tópico, e aquilo só servia para partir meu coração.

— Jeonghan, tem algo muito ruim acontecendo. - Gesticulei, lambendo meus lábios em total nervosismo. — Eu sei de tudo. Sei do Dokyeom, ou melhor, Seokmin. - Ri em tom irônico.

O loiro franziu as sobrancelhas e uma expressão de desespero tomou seu semblante. Seu olhar fitou os capangas e o resto da sala duas vezes seguidas antes de puxar meu pulso em demasiada força a fim de me arrastar para um lugar que seria mais calmo para conversarmos melhor, visto que aquele assunto o interessava.

— Como assim, meu amor? - Engoliu em seco, enfiando seu dedo indicador por entre seu colarinho e sua gravata para afrouxar o nó.

— O Dokyeom é um agente do FBI. Eu sei que você quer dar o golpe do baú nele, mas você precisa correr. Ele não é rico, não tem imóveis e o nome dele é Lee Seokmin. Trabalha para Choi Seungcheol, o chefe da agência.

— E como sabe disso? Por que eu acreditaria em você, Joshua? - Pousou suas mãos em sua cintura, com uma pose que me causou calafrios e um certo estranhamento. Ele poderia mandar Soonyoung me matar a qualquer momento com um simples aceno.

— Você vai precisar confiar em mim. Por favor. Eu posso te tirar dessa, evitar sua prisão. Você é um golpista, cara! - Esganicei, me virando para trás para ter a certeza de que ninguém prestou atenção no que eu disse.

— Ah, já sei. Você está me defendendo porque é advogado! - Afirmou, sorrindo de orelha a orelha.

Eu revirei meus olhos e passei minha canhota desde minha testa até meu queixo, em puro ódio e tédio estampado em meu semblante cansado.

— Vamos sair logo daqui. - Ordenei, segurando seu antebraço a fim de caminhar junto a ele de volta para a sala onde estávamos. — Você conhece alguma saída dos fundos que fique por aqui? - Mirei meu olhar em suas orbes castanhas, as pálpebras alheias tremiam em decorrência do nervosismo envolvido.

— Conheço, mas se não houver uma situação de emergência, como um incêndio ou tiroteio, apenas a polícia pode passar por lá. E o pior é que nem tem como enganar os seguranças porque eles sempre pedem para mostrarmos os distintivos. - Deu de ombros em pura lástima.

Que coincidência. E que destino de merda.

— Tudo bem, eu penso em algo melhor. - Apoiei minha destra sobre minha cintura, e com minha outra mão livre, deixei com que segurasse meu queixo. Tentar sair pela porta principal seria muita burrice, pois Seungcheol já deveria estar nos esperando; sair pela porta dos fundos não daria certo, pois Jeonghan descobriria tudo antes mesmo de eu contar; e ficar lá de braços cruzados também não ajudaria muito. — Jeonghan, tem algum duto de ventilação por aqui? - Aquela ideia foi a única que surgiu em minha mente naquele momento de pura pressão.

O loiro ponderou diversas vezes e levantou um dedo com seu sorriso convicto desenhando seus lábios.

— Tem, sim! Fica bem no banheiro. Mas é difícil de tirar aqueles parafusos, e se quisermos ser rápidos, aquela não é uma boa opção.

E minhas esperanças se secaram. Foi quando comecei a caminhar de um lado pro outro que meu desespero foi transmitido para todos na sala. Logo, Wonwoo e Soonyoung me questionavam sobre o que caralhos estava acontecendo, e eu sem ideias melhores, apenas me sentei sobre o assoalho e abaixei minha cabeça, encarando os diversos fios e detalhes daquele carpete.

No entanto, tive que levantar minha cabeça e meu olhar desesperadamente quando a porta em minha frente se abriu, emitindo um barulho ensurdecedor de como quem chutasse o objeto. Minha vontade de desmaiar estava vindo a tona quando a imagem de Seungcheol surgiu em minha frente. A postura rígida, o olhar afiado e convicto do que fazia, o sorriso sempre sacana em seus lábios e uma Glock ocupando suas duas mãos.

Meu fim estava mais perto do que eu esperava.

the spyWhere stories live. Discover now