07. vinho, vinho, muito vinho

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Eu encarava meu reflexo no espelho do banheiro da agência.

Uma expressão de dúvida tomava conta do meu rosto. Eu realmente não era mais aquele Jisoo todo bobão de antigamente, que com certeza falharia em uma situação dessas. E por incrível que pareça, eu não estava nervoso, eu parecia já estar acostumado a lidar com Jeonghan e seu jeito misterioso de ser.
Meu único problema era não parecer bom o bastante para aquele jantar. O Smoking preto não era o suficiente para mim. Mas óbvio, eu me julgava na visão de Yoon, porque, por mim, eu vestiria uma camiseta, shorts e calçaria chinelos.

Talvez eu não tivesse senso.

Naquela confusão de roupas e mais roupas para me vestir adequadamente, optei por ir com um traje social que ganhei de presente no dia de meu aniversário. Seungkwan gastou o "olho da cara" para me presentear com aquilo, e eu nunca tinha usado aquelas roupas antes, eu nem tinha lugar para ir vestido daquele jeito. Mas, sem querer parecer orgulhoso, eu estava irresistível naquele traje. E olha que era apenas terno e gravata, mas eu ME SENTIA como um magnata, talvez pelo tecido das roupas, ou talvez por eu saber que custou caro.

Yoon Jeonghan não resistiria.

Parei de fitar meu próprio corpo quando escutei a porta abrir. Ajeitei minha postura e avistei Seungcheol e Seungkwan entrando juntos. Eu já sabia que eles queriam me avaliar.

— Você está lindo, Jisoo. - Choi proferiu, encarando minhas vestes através do espelho. Eu apenas assenti sorrindo, devolvendo o olhar para o mais velho.

— Está, mesmo. - Seungkwan concordou, batendo palmas e pulando. Não sei se ele parecia uma criança que tinha acabado de ganhar um doce, ou um estilista fresco que havia acabado de vestir seu modelo.

— Agora tira essa roupa de cima. - Seungcheol ordenou, cruzando seus braços. Era impossível saber se o que queimava mais eram minhas bochechas, ou seu olhar sobre mim.

Virei meu corpo para encarar os dois homens. Seungkwan tinha uma expressão assustada, e eu também. Apoiei minhas mãos na pia do banheiro para não acabar desmaiando. É sempre bom se prevenir.

— Por que eu tenho que tirar a roupa? - Franzi o cenho. Seungcheol revirou os olhos e se aproximou de mim, mas a distância entre nós ainda era segura para mim.

Pois é. Choi Seungcheol é tão predador quanto Yoon Jeonghan.

— Vou colocar uma Escuta Espiã em você. - Arqueou as sobrancelhas. Tirando de seu bolso, um fio de cor preta com um mini microfone em sua ponta.

Eu juro que consegui ouvir ele me xingando de burro. Óbvio que eu precisava de uma Escuta, como eu não havia pensado nisso antes?

— Hm. Tudo bem. - Assenti ainda em um tom desconfiado.

Me virei de costas para os homens e tirei meu paletó da forma mais delicada para não o amarrotar, o colocando sobre a pia de mármore do banheiro. Não precisei retirar minha camisa preta, eu apenas a desabotoei e novamente virei meu corpo para a direção de Seungcheol. Ele parecia me comer com os olhos pelo jeito que encarava meu peitoral desnudo. Eu deveria sentir medo?

Choi se aproximou em passos que pareciam um tanto relutantes, mas mesmo assim aproximou seu rosto de minha pele apenas para ter a certeza de que fazia o trabalho certo. Um fio foi colado com fitas desde meu colo até um pouco abaixo de meu umbigo. Por último, conectou um adaptador na entrada dos fones de ouvido de meu celular que estava no bolso da calça social. No começo o fio me incomodava, mas movimentei meu torso para me acostumar com aquele novo objeto grudado em meu corpo.

— Pronto. Nós vamos ouvir tudo o que você e Jeonghan conversam através daqui. - Seungcheol apontou para uma espécie de alto falante em sua mão direita. Eu olhei o objeto com um certo estranhamento, mas assenti mesmo assim. — E, por favor, não dê esse seu cu pro Jeonghan, pelo menos por hoje.

Eu arregalei meus olhos de forma que pareciam saltar de meu rosto. Como Choi tinha coragem de me dirigir a palavra daquele jeito? E por que não vou poder dar meu cu para o golpista bonito?

Não que eu quisesse. Era apenas parte do plano.

— Você não me disse que eu tinha que fazer muito mais do que beijar o Jeonghan? Agora não posso mais transar com ele, é? - O questionei elevando meu tom de voz e torcendo para que não tivesse um biquinho triste em meus lábios.

— Ele tava querendo dizer que você precisa namorar com ele. Não já dar seu cu. - Seungkwan respondeu, tentando segurar seu riso. — E outra que, se você for transar com ele, vai ter que tirar a roupa, seu burro. O que você vai explicar pra ele se ele vir esse monte de fio no seu corpo? - Fazia sentido. Eu não havia pensado naquilo.

Bufei cansado daquela conversa e apenas saí do banheiro abotoando minha camisa novamente e pegando o paletó para o levar na mão, mesmo. Estava um calor insuportável, pelo menos pra mim.

Um carro esportivo me esperava do lado de fora da agência. Sua cor era vermelha, tinha rodas cromadas, era conversível e tinha um painel que mais parecia uma nave espacial. O mais perto que cheguei de carros assim, foi vendo as revistas automotivas das salas de espera das delegacias de polícia. Aquilo era uma obra de arte. Eu tinha certeza de que custava mais que todo meu salário em vinte anos.

Inclusive, eu merecia estar ganhando o triplo por ter que enganar um golpista tão lin-

Digo, perigoso.

Meus olhos estavam brilhando em demasia, que senti até uma pequena vontade de chorar de emoção. Sempre foi um dos meus sonhos de criança poder entrar em um carro como esse, e ele estava lá, e não me importava que fosse do governo. Aquele carro seria meu por pelo menos algumas horas.
Eu me aproximei do veículo, passando minha mão pelo seu capô até chegar na porta do motorista. Acreditam que a maçaneta tinha impressão digital?

Eu já queria desmaiar. Nem ao menos sabia como ligar motor de um carro daqueles. Encarei Seungcheol que me acompanhou até o lado de fora da agência. Ele já sabia que mil questionamentos se embaralhavam em minha mente.
Choi apenas sorriu orgulhoso e se aproximou do carro, ao meu lado. Encostou seu dedão na maçaneta e a pressionou até escutar o "clic" da porta se destrancando.

— Espero que esse carro volte intacto. Eu tive que dar até meu rabo pra conseguir isso do governo.

Eu ri em desespero sem tirar meus olhos brilhantes do veículo.

— O que vai acontecer caso eu bata esse carro?

— Nada. - Deu de ombros. — Você só vai apodrecer na prisão, te garanto isso. Eu dei minha palavra de que não estragaria o carro, é de minha total responsabilidade. Infelizmente não vou poder te levar porque tenho milhões de pepinos para resolver aqui, isso além de ter que ficar ouvindo sua conversa com o Jeonghan.

— Okay. Até mais. - Sorri revirando os olhos, puxando a chave do carro de sua mão e entrando no veículo o mais rápido possível para sair logo de lá. Eu já estava em cima da hora pra chegar no restaurante que ficava quase a mil metros de onde estávamos.

O caminho para o restaurante que Jeonghan queria me levar ficava cada vez mais chique, e quanto mais eu me aproximava do lugar, mais a cidade ficava cada vez mais diferente. Eu observava tudo em minha volta com muita cautela, aquilo tudo era perfeito, eu me sentia estar em Dubai. Prédios chiques decorados com vidros faziam parte daquela paisagem que tanto me encantava, as pessoas bem vestidas e com seus narizes empinados, até os animais andavam de um jeito mais "pomposo". Eu estava no paraíso que eu jamais imaginei sair de meus sonhos para se tornar realidade.

Uma pena ser uma realidade passageira.

Estacionei o veículo na vaga mais próxima do restaurante para apenas chegar "metendo a mala", como meu pai dizia. Dei uma última pisada no acelerador já com o carro parado só para chamar a atenção das pessoas, mas elas nem sequer olharam de relance para mim. Já estavam acostumadas com carros daquele porte lá, e com caras aparecidos como eu, claro.

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