10. a vingança nunca é plena...

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— Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está s-

— Para de ficar lendo esses poemas idiotas. Tá parecendo aquele cara chato da novela que você assiste, eu hein. - Seungkwan me interrompeu, dando uma breve risada ao me caçoar.

Nota mental: ler meus poemas quando eu estiver sozinho em casa.

Revirei meus olhos, tirei os óculos do rosto e larguei meu livro sobre a mesinha de centro.

— E você adora me interromper, né? Eu tô triste, Kwan. - Abaixei o olhar, tentando não me recordar das falas de Seungcheol ao me substituir naquela missão.

Falhei miseravelmente.

— Ler essas coisas não vão te trazer felicidade. E é capaz de você ficar pior do que já estava. Eu não gosto de te ver assim, Jisoo. Quer sair? Vamos almoçar fora, sei lá. - Deu de ombros, passando sua mão sobre meus fios castanhos na tentativa de me confortar.

Talvez eu estivesse fazendo drama demais por causa de uma coisa besta. Aquela não foi a primeira vez em que Seungcheol me substituiu em uma missão, mas aquele era o menor de meus problemas, eu só queria poder ver Jeonghan novamente, nem que fosse por uma última vez. Eu sentia que meu corpo estava precisando de seus toques, que meus ouvidos precisavam de sua voz angelical, e meus olhos precisavam ver seu sorriso encantador.

Foi quando uma ideia – meio burra – surgiu em minha mente.

Mas de qualquer forma, uma ideia é uma ideia, mesmo sendo a pior delas.

— Seungkwan. - Encarei seu olhar aflito sobre mim. Pela minha expressão, ele já deve ter notado que pensei em algo. — Você vai pra agência mais tarde, não é?

— Vou. Por quê? - Indagou, pendendo a cabeça para o lado e franzindo o cenho.

— Você sabe se o Seungcheol vai estar lá também?

— Bom. - Ele botou a destra sobre seu queixo, ponderando aquilo. — O chefe me disse que vai precisar resolver uns assuntos com um pessoal de outro departamento, mas pelo o que ele me disse, não vai voltar pra agência tão cedo.

— Ótimo! - Celebrei, levantando os punhos. — Vou contigo. - Sorri de orelha a orelha. Meu plano já estava em ação.

— Não vai. O Seungcheol me falou que não é pra você entrar lá naquela agência enquanto sua suspensão não terminar.

— Dane-se ele e essa suspensão. Eu vou, sim. Preciso conversar com o Jihoon.

— O que você vai fazer, hein? - Cruzou os braços, se afastando de mim apenas para ficar em pé na minha frente, me encarando com seu olhar de julgamento e batendo um de seus pés sobre o assoalho.

Encarnou meu pai.

— Não posso te falar.

— Pois então não vai ter meu apoio.

Que droga. Boo Seungkwan era a porta de entrada para eu seguir meu plano do jeito certo, e sem o auxílio daquele bocó, minha chance de falhar aumentava 37%, de acordo com minhas contas. Cogitei aquilo, se era realmente certo fazer o que eu estava pensando e contar tudo para o segundo melhor agente do FBI. Seungkwan sempre foi certinho demais para me apoiar nessa ideia, mas, por outro lado, ele jamais me deixou na mão, por mais que achasse meus planos ruins.

— Eu quero me vingar do Seokmin e do Seungcheol. - Ditei simplista.

Ele riu em ironia. Ele achava que eu estava brincando? Encarei seu rosto com meu olhar sério e logo seu sorriso desapareceu como em um passe de mágica.

— Sério isso? E como pretende se vingar dos dois?

— Isso eu já não posso contar. Mas você vai me ajudar?

— Por que eu ajudaria? Cumpri o juramento de nunca trair o FBI, inclusive, você também cumpriu esse juramento. O motivo para você querer se vingar dos dois não é só por causa da suspensão. Eu te conheço o suficiente pra saber que há mais motivos que isso, e você pode me contar tudo o que sente ou o que pensa, mas não vou te ajudar a trair o governo, eu lamento. Isso não é da minha índole, Jisoo.

Eu suspirei, encarando minhas mãos juntas sobre minhas pernas. Seungkwan estava certo, e ele me conhecia, já sabia que me atraí por Jeonghan, e só estava esperando eu confessar todo aquele ardor que machucava meu peito quando eu encontrava ou apenas pensava no olhar misterioso do golpista. Ninguém é de ferro, muito menos eu.

Me lembro de que a última vez que me apaixonei por alguém foi logo quando entrei na agência. Me deparei com aquele monte de homem bonito, mas apenas um fez meu coração palpitar de uma forma diferente. Kim Mingyu, o agente de dentinhos caninos e olhinhos de jabuticaba me fez acreditar que deuses realmente existiam. Com o tempo, viramos amigos e minha paixão por ele não passou, ele me tratava super bem, de vez em quando me levava até um cafézinho quando nós estávamos de bobeira pela agência.

Mas meu sorriso apaixonado se desfez quando descobri que ele era hétero.

H É T E R O.

É até estranho dizer "Kim Mingyu hétero". Mas era a pura verdade que precisei enfrentar e superar. Obviamente que, se hoje em dia ele me pedir em namoro, eu aceitarei sem nem hesitar. Pelo menos eu estaria namorando alguém que respeita a lei.

Diferente de um certo alguém que, por uma coincidência, era o principal motivo por eu querer me vingar.

Depois daquele episódio, descobri que me apaixonei por Yoon Jeonghan, e descobri também que eu faria de tudo para estar junto a ele, nem que isso custasse minha própria honra.

Eu arriscaria tudo por ele. A minha coragem surgiu, só me faltava o toque final: conseguir informações com Jihoon. Seungkwan já não me importava mais, com ele ou sem ele, meu plano entraria em ação.

Me desculpe, FBI. Minha vida agora se resume em Jeonghan, e o resto eu só lamento.

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