O Caçador de Bebês Especiais

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ALERTA DE SPOILERS
A partir desse capítulo: contém Spoilers de Provações de Apolo, o oráculo oculto.
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LONDRES,
JANEIRO.

          Era uma noite chuvosa e gelada em Londres. Os carros passavam jogando água e lama nos pedestres que ousavam caminhar nas ruas. Os poucos turistas que haviam tentando aproveitar à cidade desistiram e agora corriam para se abrigarem, tremendo de frio. Respirações congelavam no ar frio fazendo as pessoas parecerem búfalos nervosos. O metrô atravessa seu caminho solitário à distância com alguns passageiros rotineiros voltando para casa. O barulho do vento se misturava com o da cidade. As águas escuras do rio Tâmisa brilhava em laranja com as cores noturnas da ponte. 
          Um homem caminhava pela passagem de pedestre através do vento cortante. Vestia um terno com colete e gravata borboleta por baixo de sobretudo preto. No cinto de couro estava gravado o brasão de família, uma relíquia passada de geração em geração feito com detalhes de ouro e bronze. Suas botas também de couro estavam sujas pela lama das ruas. As mãos eram protegidas do frio por luvas, também de couro, mas em um tom vermelho vinho. Na mão direita, segurava com firmeza um guarda-chuva na mesma cor de suas vestes, na esquerda apertava uma bengala que era usada apenas por capricho apesar de seu tornozelo esquerdo ainda mancar de vez enquanto por causa de uma lesão de quando ainda era menino. O homem de meia idade poderia passar por um londrino comum caminhando na chuva em uma noite comum e fria, se não fosse pelo chapéu. Em Londres, apenas pessoas importantes e extremamente formais usavam cartolas e quase nunca fora de eventos envolvendo a realeza. Esse toque final deixou sua aparência em um tom antiquado, tão tradicionais que o faziam parecer saído direto de um filme de dois séculos passados. No entanto, era intencional. Ele estava indo para uma reunião formal bem no meio de um dia maiores cartões postais ingleses, A Ponte de Londres.
          Isaac Thomas Graveyard algumas vezes por ano, acordava, tomava seu habitual café da manhã, bebiricava seu chá favorito, e em algum momento do dia usava um traje formal e se encontrava em locais públicos com a mulher mais perigosa de toda a Europa, uma rainha, mas de um reino diferente daquele que ele vivia, Petra Phoenix.
          — Boa noite, senhor Graveyard. — Disse ela em um tom alegre. O sorriso da mulher era tão lindo quanto sarcástico. Sua voz era doce e firme — É uma bela noite esta, não é mesmo?
          Os cachos castanhos de seu cabelo solto deveriam estar uma bagunça naquele vento, no entanto caiam em perfeição com uma breve brisa que os balançava fazendo-a parecer mais sedutora e poderosa ainda. 
          Ele bufou. Odiava esses joguinhos delas.
          — Boa noite, Petra. Poderia por favor, acabar com a enrolação?
          Ela colocou a mão do coração fingindo surpresa.
          — Achei que a educação fosse uma marca registrada dos ingleses. Alguém deveria avisar Elizabeth para mudar o marketing do país. 
          Petra voltou a se inclinar no parapeito olhando para o horizonte com um sorriso atrevido que ele conhecia muito bem o significado.
Isaac se aproximou. Ao redor dela o ar era quente e agradável e a chuva desviava seu caminho. Ele já a havia visto com suas habilidades, porém sempre se surpreendia. Controlar o tempo? Fácil! Caminhar no meio do fogo sem se queimar? Por que não? Ficar no olho de um furacão sem nem bagunçar o cabelo? Era a cara dela. Ele fechou o guarda-chuva e deixou apoiado ao seu lado, reclinou-se na ponte apoiando seu corpo na ponte com o cotovelo esquerdo. 
          Petra usava um vestido justo com as alças caídas sob os ombros no tom de vermelho quase de suas luvas, usava um cinto e luvas de couro pretas e o casaco mais felpudo que já viu, quase podia sentir a maciez a distância. Ela estava elegante e assim como ele parecia acabado de sair de um baile de gala real. Mesmo quando ainda era uma menina, Petra sempre foi uma verdadeira dama. Frequentava bailes desde os 3 anos e muitos colégios internos com aulas de etiqueta. A mãe queria que ela fosse forjada para se casar com alguém importante, mas ela sempre quis ser a pessoa importante. Seus olhos castanhos quase da mesma cor da pele pareciam brilhar sob à lua cheia. 
          Ela usava o medalhão hoje, notou, o que ele havia dado para ela no seu aniversário de 18 anos, logo antes dela desaparecer. Agora, o medalhão tinha um brasão talhado em ouro, uma fênix com as asas abertas e quatro palavras embaixo, tão pequenas que mal era possível ler, mas Isaac sabia quais palavras eram: Ordem Arcana da Fênix.
          — Está tudo bem em Londres. Está tudo bem em toda a Europa, na verdade.
          Ela suspirou, cortando seus pensamentos.
          — A estabilidade mais importante está nos Estados Unidos. Como estão os irmãos e sua relação com o casal grego? — perguntou ansiosa.
          Ele desviou o olhar para o rio. Alguns barcos atravessaram as águas tranquilamente.
          — Eles não se encontram pessoalmente há 9 meses, mas se correspondem frequentemente. — Isaac estralou as juntas dos dedos, nervoso — Geralmente não há nada demais nas conversas, coisas triviais, simples. "Hoje eu quase fui comido", "Sério? Eu fui explodido, ainda estou cheirando à fumaça". Sabiamente eles não trocam muita informação substancial.
          Ela ergueu o queixou e apoiou os cotovelos na ponte, cruzando os dedos.
          — E mesmo assim, a Névoa sob os dois mundos está cada dia mais fraca. — suspirou.
          — Separe-os. Vocês podem fazer isso. Se a sua preocupação é autêntica, fale com Amós e ele mesmo designaria alguém para apagar ou alterar a memória dos irmãos, tenho certeza que vocês mesmo tem pessoas até mais qualificadas para o trabalho, como já fizeram tantas outras vezes. 
          Seu coração batia como um tambor e suas mãos tremiam. Aquele assunto já corria há mais de um ano e todas as vezes sentia como se estivesse à beira de um vulcão prestes à explodir enquanto Petra podia simplesmente desligá-lo e nunca o fazia.
          Ele se inclinou sobre a ponte os dois braços apoiando no parapeito. Ela nem se mexeu, apenas umedeceu os lábios. Seus olhos ainda brilhavam com ousadia.
          — Você nunca entendeu, Zac. Não é preto no branco. — comentou com a voz controlada, como se cada palavra fosse cuidadosamente escolhida — Não podemos controlar o tabuleiro inteiro, não para sempre. 
          Ele inspirou tentando controlar sua raiva e seu medo. 
          — Como vai proceder então? Continuar a observar e esperar?
          — Não. — ela ergue a coluna e se vira de lado para encará-lo — Vou revogar a Lei Marcial.
          Isaac teve que se segurar para garantir que a ponte não estava tremendo e sim seu corpo. Teria ficado menos surpreso se Petra tivesse socado seu nariz ou o partido ao meio com um machado bárbaro.
          — O que? Não! NÃO! Petra, você não pode! — gritou.
          — Na verdade, posso. — ela lembrou.
          — Petra a quantidade de pessoas que... todas as... o que aconteceu... depois de tudo que aconteceu... eles não aguentariam...
          — Eles aguentariam. Se acontecer, eles aguentarão. — Interrompeu ela colocando a mão sobre seu ombro, o que fez seu coração dar um salto involuntário, e disse gentilmente: — É a geração mais poderosa que já estudei. Você sabia que isso não seria remediado para sempre.
          Isaac travou o maxilar.
          — Me chamou aqui apenas para informar isso? — perguntou ríspido.
          Ela virou-se de lado e colocou uma mecha atrás da orelha.
          — Não. Vim para te convidar para um jantar. 
          — O mundo está prestes a colapsar e você quer comer? — indagou sarcasticamente.
          — Bom, eu estou com fome, não sabemos se isso irá gerar um colapso e você vivia dizendo que me levaria para um passeio pelo rio Tâmisa quando éramos jovens. 
          — Você só pode estar de brincadeira. 
          Ela piscou fazendo seu coração dar outra cambalhota.
          — Vamos, Zac. Se o mundo acabar você poderá pelo menos dizer que teve um encontro com uma fênix.
          Petra lhe estendeu a mão. Ele a olhou com a mão estendida sob a luz da lua em uma noite em Londres enquanto deixava o vento balançar seus cabelos. Ela ainda era a mulher mais linda que havia conhecido e tinha acabado de dizer que estavam entregando o mundo à própria sorte, como um jogo de roleta russa. Poderia dar tudo certo, poderia não dar. Ela cheirava a flores silvestres, como sempre. Ele agarrou sua mão com o coração rugindo como um leão. E juntos, de mãos dadas, caminharam para um veleiro ancorado no Píer de London Bridge City. 

O Riandoverso e o Diário das Sombras Nº: 32Where stories live. Discover now