Entre o Dever e o Amor

Capítulo - 01

A dois dias dos meus Votos de Pobreza, Castidade e Obediência, estou eu aqui, sentado na varanda do meu quarto me perguntando o que estou fazendo da minha vida? No entanto desde o momento que eu decidi que seria Padre – isso há quase 8 anos –, eu sempre ouvi opiniões diferentes quanto a essa minha decisão repentina, ou talvez, não tão repentina assim, além de ter causado uma grande comoção em minha casa, dividindo opiniões e provocando discussões, por acharem que eu não sabia o que estava fazendo por ser jovem e imaturo.

Minha Avó Laura – a maior incentivadora da minha decisão – disse para a minha mãe que essa era a minha Vocação, que eu não poderia negar um Chamado de Deus, enquanto a minha mãe com lágrimas nos olhos me disse que essa não era a minha única Escolha e que eu deveria pensar melhor, pois eu tinha apenas 17 anos e ainda tinha muito tempo para decidir que carreira eu poderia seguir. Minha irmã disse que eu estava sendo Covarde, fugindo de algo que não tinha motivos para fugir e, talvez ela pudesse ser a única correta sobre esse fato, por saber exatamente o porquê da minha "fuga", mas que não poderia ser feito de outra forma, não por mim que estava me sentindo sujo, imoral e um Pecador por ter me permitido almejar sentimentos com quem eu não deveria sentir.

E hoje, justamente hoje a menos de 48 horas para eu selar o meu Compromisso com Deus, estou com toda essa confusão na cabeça. Vocação? Chamado de Deus? Escolhas ou puramente covardia? Esses são questionamentos que faço a mim mesmo desde o dia que Ela voltou e depois decidiu que deveria me abandonar, fazendo tudo o que eu tinha trancado no mais profundo do meu ser voltar à superfície.

[...]

10 anos atrás

– Christian, hoje será a festa na casa do Breno, você falou para o seus pais que iríamos?

Desvio a minha atenção de Ana que está sentada a mesa com a minha irmã e algumas colegas de sua turma, no refeitório do Colégio, para encarar o meu amigo Andrew que aguarda a minha resposta com expectativa.

– Você sabe que eu não posso, Andrew. Amanhã a minha Avó irá me acordar muito cedo para acompanhá-la até a Igreja. Ela se comprometeu com o Padre Joseph que iríamos ajudá-lo com a celebração das Missas aos Domingos e ainda tenho o ensaio com o Coral.

– Cara, você tem 15 anos. Deveria aproveitar a vida e não continuar nessa de ir a Igreja todos os domingos com a sua Avó e ainda aceitou ser Coroinha do Padre Joseph e Líder do Coral. – Ele nega balançando a cabeça e eu apenas dou de ombros. – Desse jeito você morrerá virgem com uma Bíblia na mão.

Andrew Smith, apesar de dois anos mais velho do que eu, é meu amigo desde o início do Fundamental, no entanto ele não consegue aceitar a ideia que hoje eu faça parte do Ministério da nossa Paróquia, o que segundo ele, a minha Avó está me empurrando para ser um Cordeiro de Deus, sendo o Padre que o meu pai não foi, mas ele não entende que eu apenas quero ser um bom menino e ajudar a quem precisa. Que ser Coroinha não é apenas estar a serviço do Padre transportando os objetos litúrgicos durante as Missas. Não! Vai muito, além disso, pois servir a Deus é uma benção, mas servir aos seus servos, ajudando os mais necessitados, não apenas com coisas materiais, mas aqueles que têm sede da palavra de Deus, principalmente os jovens que muitas vezes se sentem perdidos, não tem preço.