3 MESES DEPOIS
VIVIANE
Não lembro quando foi a última vez que eu vivi essa paz toda, sabe? Não me lembro mesmo.
Hoje eu deito tranquila na minha cama, com as janelas abertas, com o coração em paz e me sentindo bem, protegida. Deus não desampara os seus e eu sou prova viva disso, comi o pão que o diabo amassou e cuspiu, mas dei a volta por cima e enfrentei tudo de cabeça erguida.
O Daniel parece outra pessoa, graças a Deus. Agora que ele resolveu esse problema imenso que o impedia de seguir o que ele queria, parede que renasceu.
Mês passado, fui na saída dele no barracão com meu avô e meu pai, e foi emocionante. Chorei como criança e fiquei numa felicidade absurda. Lutamos muito pra chegar onde estamos, segurando a mão um do outro, sem soltar por 1 segundo sequer.
Ele ainda está de resguardo, mas agora em casa, então, estou me dividindo em duas pra cuidar da loja e da escola.
Cheguei moída hoje, implorando por um banho e uma comida fresquinha e foi o que aconteceu. Daniel e Vinícius estavam na sala, brincando, o cheio do feijão recém temperado dominava a casa toda, minha barriga chegou a roncar.
Dei um cheiro em cada um e subi pro banho. Tomei aquele banho, de perder a noção de espaço e tempo.
Jantamos os três, e depois que o Dani botou o Vini pra dormir, voltou pra sala e começamos a conversar, falamos sobre a loja, a escola, a possibilidade de abrir mais um espaço, porque a loja estava pequena pra demanda que ela tinha e tudo mais, até que ele tocou num assunto que me deixou surpresa.
Bala: Tem visto a Roberta? — olhei sem entender. — Qual foi?
Viviane: Que Roberta?
Bala: Ai você tá forçando, né preta? — riu e negou com a cabeça. — Tem visto ela por aí?
Viviane: Vi na sua avó, amor.
Bala: Tá ligado. Quero trocar uma ideia com ela.
Viviane: Daniel? — encostei a mão no rosto dele, como se fosse medir temperatura.
Bala: Ah, para né?! — deu risada. — Acabar logo com isso, tá ligado? Vou ver qual é a ideia dela, mas não quer dizer que eu vou conviver de boa com ela, entendeu?
Viviane: Entendi, senhor. — segurei o riso.
Fizemos nossas contas, separamos o dinheiro de cada coisa e depois fomos dormir, em quartos separados, porque ainda não podemos ceder às vontades da carne.
Deitei e ainda fiquei um tempo pensando no fato do Dani querer conversar com a mãe dele e, confesso que isso me deixou muito feliz. Ele pode não querer conviver com ela, tem total direito. Mas só dele querer conversar, já muda tudo.
