DIAS DEPOIS
VIVIANE
Eu não consigo me sentir em paz aqui, sabe? E isso é horrível. Eu fui nascida e criada aqui, tenho os meus amigos, minha família, meu emprego, mas ainda assim, eu não consigo me sentir bem.
Saí da escola com as crianças e fui direto pra dona Marli, chegando lá, dei de cara com a Roberta e já não fiquei legal. Dei um boa tarde, a Daniela veio correndo me abraçar e em seguida, o Vinicius apareceu também, com a boca toda suja de feijão.
Eu não deixava de ir na dona Marli, nunca. Ela vivia pedindo pra deixar o Vini lá, e ele se amarrava. Eu só não queria que ele tivesse contato com a Roberta, mas não era por mim, era pelo Dani, porque eu preciso respeitar as dores dele. Enfim...
Enquanto tia Neuza dava almoço pros dois, que não sossegavam na sala, arrumei a comida dos meninos e deixei na mesa da cozinha, pra que eles pegassem depois de tirar o uniforme.
Roberta: Eu ia arrumar, não precisava.
Viviane: Ah, eu não sabia. Desculpa! — respondi sem graça e logo o Bryan apareceu, meio receoso, olhando pra mãe meio de lado. Pegou o prato, sentou na mesa e começou a oração.
Quando terminou, me chamou com o dedo, tentando disfarçar e eu abaixei do lado dele, enquanto a Roberta nos olhava.
Bryan: Ela vai levar a gente? — falou baixinho no meu ouvido e eu neguei com a cabeça. — O Calebe disse que não vem almoçar com ela aqui.
Eu não respondi mais nada, apenas dei um beijo na cabeça dele e saí em direção ao quarto.
Bati duas vezes na porta e escutei a voz dele, baixinha, me respondendo.
Viviane: Não tá com fome não?
Calebe: Tô, tia. Mas não quero comer com ela aqui. — ele estava com o rosto vermelho, já havia chorado e estava com a feição fechada.
Viviane: Mas ela é sua mãe, meu amor. E ela não vai fazer nada com vocês. Sua avó, tia Neuza e eu estamos aqui, sem contar que ela melhorou.
Calebe: Tia, ela não é nossa mãe. Não é. Enquanto ela não for embora, eu não saio daqui.
O Calebe é um menino maravilhoso, mas ele tem a personalidade forte, super decidido e ele não ia sair dali mesmo, conheço bem. Por mais que eu tentasse convencê-lo, seria em vão.
Viviane: Vamos fazer o seguinte. Hoje, eu vou trazer sua comida aqui pro quarto, mas não pode ser assim sempre, tá? Você vai precisar aprender a lidar com a presença dela.
Calebe: Tá bom, tia. Tá bom! — respirou fundo. — Obrigada.
Busquei o prato dele e a Roberta estava tentando conversar com o Bryan, ficou me olhando pegar as coisas pro Calebe comer e eu me senti super mal, mas tem coisas que eu não posso resolver.