Capítulo 3: Osan

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— Senti saudades — ela sussurra, a voz vacilante.

[...]


O corredor escuro e estreito grita, as palavras morte e vá embora são as que mais ecoa e sussurra impiedosas contra o meu ouvido ao longo do caminho, que de repente fica iluminado. As molduras de bronze dos altos e largos quadros dos familiares parecem se mexer, os olhos escuros feito a noite me segue e a pele alva feito a neve refletem meu medo, como quem fossem espelhos da morte.

Minha mãe toca meu ombro e eu salto de susto com o gesto repentino, e ela se afasta com os olhos arregalados ao ver minha atitude estranha. Tento esboçar um sorriso, mas o quadro atrás dele reflete um desastre e fecho a feição novamente, soltando um suspiro.

— Está tudo bem? — ela pergunta, se aproximando novamente em passos lentos, como quem tivesse que recuar quando precisasse. Como quem tivesse medo de mim.

Assinto, ouvindo o som de fogo crepitando e um calor estranho me abraçar repentinamente, e ainda assim, mesmo sobre as ondas de calor estranho, meu corpo se arrepia e gela, uma sensação de alerta correndo desde a coluna até a cabeça. Mandando-me correr para além dos portões da Mansão. Para além de Osan.

— Estou, é só... aqui está diferente, nem parece que... — as palavras se vão, morrem, por mais que tente dizer, ela não se formam.

— Eu sei — minha mãe suspira, jogando os cabelos longos escuros e ondulados, agora presos em uma trança para trás, olhando para as paredes que parecem reluzir ao tom dourado escolhido por ela. — Quis assim, que nada lembrasse aquele dia.

Mas lembraMesmo que seja vagamente.

Contenho em dizer, dando o primeiro passo para continuar a caminhada para o meu novo quarto, o som do meu salto baixo ecoando mais alto do que deveria. Logo dou outro e outro, ficando mais fácil a cada passada e depois minha mãe continua, logo atrás de mim, em poucos passos me acompanhando e quase ultrapassando.

No fim da ala oeste, contrária ao desastre, minha mãe abre a última porta, a luz da fraca do sol atravessando a grande janela e refletindo sobre sua pele clara, os olhos escuros ganhando o tom castanho claro. Avanço os últimos passos, analisados por ela, que sorri e adentra no cômodo. Paro em frente a porta, vendo o enorme quarto variados entre branco, dourado, azul claro e preto, imitando de longe o antigo quarto de Jennie, o qual eu adorava e invejava, já que por ser nova na época o meu era mais simples.

Os móveis brancos ficam vívidos em meio às cores dourado e os detalhes nas paredes em azul e preto. Alguns móveis percebo ser madeira pura e escura, quase vinho, pelo cheiro forte que ainda exala consigo identificar e pelo pouco conhecimento que ganhei de meu pai, que era apaixonado por móveis antigos e marcenaria, ainda ouso dizer que foi graças a sua paixão estranha que iniciou-se o negócio da família, uma enorme franquia de movelaria.

Minha mãe se aproxima das enormes e pesadas cortinas brancas, que permitem que o quarto receba iluminação apenas das luzes artificiais ligadas por ela assim que entrou, e as abre, fazendo o pouco sol da manhã arejada adentrar e dar mais vida ao quarto ou escurecê-lo, já que ao longe, acima da floresta escura que desde criança temo, vejo nuvens pesadas se formar e se movimentar rápido em nossa direção, como uma ameaça viva de que o perigo está por vir. Eu cheguei e junto a mim todo o mal que minha mãe se nega a enxergar. Temo por ela, por sua inocência e ingenuidade, pois até eu mesma sei que há algo de errado comigo, mas não sei o quê exatamente. Não sei, pode ser somente paranóia minha, talvez uma forma de desviar e não acreditar que o problema e o erro na verdade sou eu.

— Gostou? — ela pergunta em um tom baixo, a voz soprada junto ao vento fraco.

— Sim — dou de ombros, assentindo.

Never Far Away | Pjm | Série Amor e Fúria - Livro 2Where stories live. Discover now