Prólogo

630 40 32
                                    

Londres - 1854

Os galhos das árvores da vasta floresta balançam violentamente. O vento londrino que sopra nesta noite gélida leva tudo que há pela frente, galhos, folhas de árvores, tecidos deixados para trás e outras coisas insignificantes.

A melodia que é emitida nesse cenário é assustador e causa pânico em uma das pessoa que vagam por ali, seu coração tenta ser forte, mas a cada balançar dos galhos ele acelera ainda mais, ameaçando sair do peito.

Amélia cambaleia a cada passo dado, dentre as muitas já deveria ter se espatifado no chão lamacento — ainda vestígio da chuva de dois dias atrás —, entretanto seu acompanhante não deixa isso acontecer, a segura firme, e não pretende soltá-la.

A estrada esburacada e lamacenta não ajuda muito, e o vestido esvoaçante junto as botas com um salto não tão alto também não, Amélia tem de se concentrar para não cair e para isso ela se abaixa agilmente, retira as botas e as arremessa longe e em seguida rasga seu vestido, deixando o tecido leve ir livre junto ao vento, mas o mesmo acaba ficando preso a um galho não muito longe dali.

Cansado dos vacilos da jovem que o acompanha, Christopher coloca Amélia em seu colo e corre por ali, sem pena dos seus sapatos caros e comprados recentemente, que passam a ficar sujos a cada passo que ele dá sem dó pelas poças de lama.

Ele corre com Amélia nos braços até chegar a uma cabana abandonada em meio às altas árvores, cuja localização foi indicada por um de seus amigos, dizendo que teria alguém a sua espera.

Ele coloca Amélia no chão, verifica a área e depois bate na porta, depois passando os dedos pelos fios escuros, os jogando para trás. Nenhuma resposta. Ele bate mais uma vez na estrutura de madeira e não obtém resposta novamente, ele suspira e depois abre a porta com um chute, o que faz Amélia soltar um grito e depois cobrir a boca com as delicadas mãos, já que o barulho fora provocado por ele. Tamanho fora o susto que levou, estava amedrontada demais para um baque inesperado.  Christopher a olha e faz sinal para que ela entrasse primeiro e imediatamente ela atende ao pedido e entra no cubículo, sentido-se mais segura.

Ela entra a passos lentos, verificando minuciosamente a cabana, que aos seus olhos não é adequada para uma estadia, mesmo que fosse por uma única noite. Completamente feita de madeira, até o chão, o mesmo que range aos passos pesados de Christopher, que adentra ali depois de fechar a porta com a ajuda de uma mesa velha que estava parada logo ao lado.

Ainda não é seguro, quanto mais longe Amélia for mais segura estará. Entretanto, mal sabe ela que mesmo que se esconda nos menores e mais profundos buracos ele a encontrará. Pois ele sabe de tudo.

— Por ora ficaremos aqui. — Amélia encara o rapaz de pele pálida, olhos e cabelos escuros e entreabre os lábios, mas Christopher fala antes que Amélia obfizesse. — Só até nós recuperarmos, estou cansado e juro que entrou lascas de galho em minhas pernas quando eu passávamos pela lama. — Ele olha para as calças imundas e estala os lábios e logo olha para Amélia, que continua com a expressão séria. — Só até amanhã. — Ele continua. — Partiremos para o porto assim que o sol surgir. — Ele diz com o intuito de confortá-la, mas falha.

— É seguro? — A voz de Amélia sai em um fio, quase inaudível para Christopher. A garota de pele alva, cabelos longos, escuros e macios, dona de uma face dócil, destemida e lábios róseos sente que algo ruim a persegue e que seu fim está mais próximo, mais agora do que nunca. Ela sabe que se nunca tivesse se metido com Christopher, se apaixonado por ele, sua vida não estaria como está agora, um completo caos. Provocou uma guerra entre divindades, se meteu onde não devia ou foi chamada. Mas ela não sabia, não tinha como saber, que se apaixonar por ele traria tanto mal para a sua vida.

— Não. — Ele deixa os ombros caírem. Passa a mão nos fios escuros e caminha em passos lentos até Amélia, que entreabre os lábios, suspira, tensa e tem seu coração batendo valente no peito, falhando uma batidas, após seus lábios serem tomados em um beijo cheio de paixão por Daniel e por mais que já tivessem feito isso inúmeras vezes ela ainda não se acostumou, ter seu corpo tão vulnerável diante dele era humilhante para uma dama que sempre teve todos aos seus pés, sem ao menos fazer nada. — Mas tudo ficará bem. — Ele diz depois do beijo, se afastando minimamente seus lábios dos de Amélia, só para ter uma visão melhor do rosto sereno da garota. — Eu cuidarei de você. — Ele diz levando as mãos ao rosto dela, a olhando fundo nos olhos e depois selando um beijo breve.

— Eu estou com medo, Chris. — Ela se aninha nos braços do jovem, procurando o conforto a qual nenhum outro pode lhe oferecer. Está assustada. Com o rosto enterrado no peito de Christopher, ela o aperta tão forte que ele geme baixinho, já em busca de ar. Ela o aperta tão forte como o ato fosse torná-los um só.

Uma lágrima desce solitária, mas ela não quer chorar, mas também não consegue controlar, provocou a ira daquele a qual sempre foi fiel e ele não a perdoará. Não tão fácil. Ou talvez nunca mais.

— Não tenha. — Christopher envolve o braço na cintura curvilínea e a puxou para ainda mais perto de si, comprovando o que estava prestes a dizer. — Eu a protegerei. — E ele falara a verdade, sua sede de segurança em relação a Amélia é incontestável, tanto que não foi à toa que ele contrariou aquele que deveria servir, pois agora, para Christopher, não há força maior que o amor.

Ele toma os lábios de Amélia novamente, agora com ainda mais paixão e fervor, e desfruta do doce gosto natural de morango existente nos lábios da amada, que dá passagem e retribui de bom agrado ao beijo dele. O gosto de morango existente nos lábios de Amélia entorpece Christopher, que a puxa ainda mais contra si. Ele quer sentir ainda mais o gosto daquela que ama.

Os galhos das árvores lá fora começam a balançar brutalmente, como se um mal presságio fosse passar por ali. Já não é mais a ventania de mais cedo que sopra ali, é algo... maior, mais forte e poderoso. Os fortes ventos sopram e invadem a cabana pelas frestas, criando um chiado incômodo, fazendo Amélia se arrepiar por inteira.

Christopher sente uma forte aura e se afasta quase em um pulo de Amélia. A garota o olhava assustada, com suas orbes escuras refletindo o medo. Ela vê o medo estampado na face dele e isso lhe causa ainda mais pânico. Pois ele nunca demostrara tal expressão para ela, nenhuma vez sequer.

Ambos olhares se quebram quando a porta é aberta violentamente, jogando a mesa que a segurava contra a parede, mostrando o estrago que a ventania causou lá fora: árvores derrubadas e caminhos fechados, um estrago.

Em uma agilidade, Christopher se coloca na frente de Amélia, protegendo-a do que a ameaça, com sua vida. Os minutos seguintes é tudo tão rápido que não há mais nada. A cabana entra em completa chamas e ambos os corpos que se protegiam viram cinzas ao ter contato imediato com o fogo, deixando apenas uma única frase escapar de forma dolorosa:

Eu te amo.

Never Far Away | Pjm | Série Amor e Fúria - Livro 2Όπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα