Capítulo 1: Casa

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Os galhos balançavam lentamente conforme o vento cálido sopra nas árvores de cerejeira espalhadas aleatoriamente no vasto campo. As pétalas caem lentamente sobre o gramado, que está com uma leve camada de neve — resquício do inverno tenebroso que tivemos esse ano.

O inverno se fora e agora a primavera está por vir. E espero que junto ao inverno as más lembranças do acontecimento de três dias atrás se vão, para não mais voltar. Nunca mais. Pois não quero mais chorar, não tenho mais forças e lágrimas para isso. Não quero mais sentir a dor que tenta se apossar de mim outra vez, pois se eu voltar para ela, temo não conseguir sair dessa vez. Tenho que ser forte, pois se depender de mim ela não irá me ter.

Mas não sei se tenho toda essa força.

Meu olhar deixa a janela e toda a bela paisagem que me ela me proporciona e vai até a mesa próxima a mim, onde o doutor Choi está sentado, encostado no encosto da cadeira, de braços cruzados e com os olhos penetrantes sobre mim. Ele empurra um copinho descartável com alguns comprimidos dentro e depois cruza os braços novamente. Seu olhar se alterna entre o copinho e eu, de forma silenciosa me incentivando a tomá-lo. Suspiro. Levanto o olhar novamente até a janela, pois prefiro apreciar a paisagem, as árvores, os pássaros voando livres, os alunos agindo como se nada tivesse acontecido a olhar para o doutor Choi, pois seu olhar me julga e é da pior forma.

Como uma louca.

Quero sair desse inferno de reformatório, pois nem aqui estou segura. Até aqui corro perigo. Até aqui o mal me perseguiu e atormentou, me  tirou mais uma pessoa que eu amava.

Lucas.

O doutor Choi estala os lábios e isso chama minha atenção, o olho por cima do ombro e o vejo se levantar da cadeira e se encostar na quina da mesa, ainda com os olhos sobre mim. A camisa social branca marca bem seu físico, mas também deixa bem visível seu nervosismo, pois seu peito sobe e desce rapidamente, como se tivesse medo de estar diante de mim. Ele está nervoso e com a respiração ofegante. Trocamos olhares por alguns minutos, não sei ao certo quantos, mas o Choi desvia o olhar para a janela e suspira pesado. Faço o mesmo.

Sinto-me desconfortável, pois estou aqui a cerca de meia hora e eu e o doutor Choi não trocamos uma palavra sequer, apenas suspiros e olhares julgativos, da parte dele.

A vista não mais me transmite paz, me traz um desconforto incalculável, por isso meu olhar varre até os limites que consigo fora e dentro da sala, nada toma minha atenção de novo. Olho o copinho descartável com remédios e depois para o teto, a lâmpada acima de nós bruxuleia e ameaça se desligar de vez. Borboletas e outros insetos sobrevoam a luz e isso me dá pavor.

As lembranças me invadem como o soco inesperado no estômago, como se os simples batimentos das asas fossem gatilhos.

O fogo.

O sangue.

Lucas.

Dói tanto.

Olho para o doutor com cara de tédio e com isso começo a falar, pois quero me ver livre dessa sala de hospital. Me ver livre de tudo isso.

— Fale logo o que dando te martiriza doutor, estou ficando entendida. — Digo simplista e deixo de olhá-lo. Baixo os olhos até minhas mãos e começo a travar uma guerra entre os polegares. As unhas roídas me arranham, mas essa dor não é nada a que me devastada e tenta me consumir por dentro. Ouço o suspiro pesado do doutor Choi e então volto a olhá-lo. Ele se afasta da mesa, esfrega a têmpora, pega sua cadeira e a arrasta para o lado da minha e em seguida se senta. Suas mãos pousada em suas coxas grossas e seu olhar volta para mim. É desconfortante.. tê-lo tão perto.

Never Far Away | Pjm | Série Amor e Fúria - Livro 2Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz