Capítulo 4: Osan part. II

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Não sonho ou tenho pesadelos, a leveza pairando no cômodo quando acordo. Uma sensação extremamente boa, de uma boa noite de sono, tranquila. Sem turbulências causadas por minha cabeça.

Ao abrir os olhos, os mesmos caem diretamente em cima da poltrona onde Chen deveria estar e que agora não se encontra mais. Pestanejo. Sento-me e olho ao redor, procurando-o em qualquer outra parte do quarto algum sinal de que ainda está ali, mas ele não está.

Jogo os lençóis para o lado e me direciono para a varanda, onde o tempo continua fechado, assombrando-me. As nuvens grossas e escuras engolindo o casarão agora completamente, não me dando escapatória para onde quer que eu vá. A penumbra me achou. Tremo.

Mesmo sem pesadelos, o medo vem, a sensação de estar sendo vigiada, de que o mal que me persegue esteja a espreita de qualquer porta apenas esperando o momento para atacar e mais uma vez das incontáveis vezes me destruir. Apenas esperando o momento certo para tirar mais alguém que amo de mim.

Tento não pensar em Lucas, no fogo que tomou da biblioteca e no fogo que tomou essa casa e engoliu duas pessoas que amo apenas alguns anos atrás – há pouquíssimo tempo para estarmos de volta. Lembro da sensação de sufoco, da fumaça contaminando meus pulmões, a fuligem sujando-me por completo. Lembro do clarão, dos meus olhos refletindo todos serem levados pela chama. Eu sozinha do lado de fora, levada por algo grande e reluzente, que, da mesma forma que veio, se foi. Sem deixar rastros da sua existência. O meu salvador. Mais ou menos, já que não se importou com as outras duas pessoas que de mim foram tiradas. Me deixando como louca. A culpa não foi sua, disseram, ao mesmo tempo em que apontava seus dedos acusadores para mim.

Seguro forte a cortina grossa e pesada e aperto os olhos, batendo de frente com a escuridão, ficando solitária, apenas comigo mesma, na penumbra que é ao fechar os olhos para os raios que novamente se formam em meio as nuvens ferozes e me ameaçam, mesmo que agora nenhuma voz esteja sendo sussurrada. Ainda assim, as ouço.

O caos está vindo e não há escapatória.

A porta do quarto abre e viro abruptamente, afastando todos os pensamentos borbulhantes, a respiração ficando descompassada e por um triz não preciso da bombinha para regular, vou me acalmando aos poucos. Vou recuperando o fôlego.

Vejo Chen adentrar o cômodo de forma desengonçada, com uma bandeja prateada em mãos, equilibrando-a com um copo com um líquido amarelo em cima, junto a um prato e  uma tigela com frutas vermelhas. Sorrio sem mostrar os dentes e me afasto da janela, fechando a cortina de forma brusca, deixando a obscuridade do lado de fora e a forte luz artificial aqui dentro. Mais uma vez tentando esvaziar e limpar a mente de tudo que perpassa sobre ela, lembrando-me da sensação primária que tive ao acordar. A leveza e, após tantos anos, a sensação de paz.

— Eu te ajudo.

Me aproximo dele e pego a bandeja, minha mão por um momento encostando na sua, distribuindo uma eletricidade por todo o meu corpo. Respiro fundo e me controlo, me afasto dele e coloco a bandeja sobre a cama bagunçada, sentando-me com cuidado logo depois. O olho de soslaio e sem jeito Chen se acomoda na poltrona, bagunçando o cabelo antes perfeitamente arrumado, trajado no terno sob medida e bem passado. Nem parece que dormiu ou sua feição lembra que está cansada. Em si, todo ele parece reluzir em uma alegria que desconheço.

— Sua mãe mandou te trazer isso, já que não apareceu para o café da manhã — ele começa, com o queixo apontando para a bandeja perfeitamente organizada sobre a cama. — Você parecia realmente muito cansada.

— Café da manhã? — franzo a testa, olhando para fora, a cortina fechada. — E que horas são?

— Umas nove e quinze.

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⏰ Last updated: Jan 23, 2021 ⏰

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Never Far Away | Pjm | Série Amor e Fúria - Livro 2Where stories live. Discover now