Capítulo 3: Osan

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A viagem até Osan não demora muito. De Seul até aqui é menos de duas horas de viagem. Mas ainda não sei o que deu na cabeça da minha mãe me trazer de volta. Talvez por está longe das influências da minha tia. Talvez porque sentiu saudades. O que acho difícil.

Só sei que não quero ficar aqui.

Ao adentrar na cidade, lembro-me da morbidez e quietude que nunca lhe abandona e que agora não está muito diferente. Ao andar pela estrada de barro e atravessar os enormes portões, rodear a fonte central e parar em frente a porta, as portas duplas do casarão, agora reformado, ausente da tragédia de três anos atrás, me causa arrepios e o balde frio de lembranças cai sobre mim, sem piedade. Meu pai. Jennie. Fogo.

Tenho que balançar e abaixar a cabeça para que elas possam se esvair, mas ainda assim elas permanecem aqui, prontas para agir caso queiram voltar. Caso eu vacile e deixe que o luto e toda a dor que esse lugar me causou pese sobre mim e mais uma vez ceda a dor. Caso eu abaixe a guarda.

Não pretendo permitir. Ao menos não agora.

Depois de respirar fundo e reunir forças, saio do carro, ainda hesitando em colocar os pés no chão, onde eu só vejo cinzas e fogo. Totalmente fora, olho para a ala leste, onde o fogo teve mais eficácia, onde destruiu completamente tudo o que eu mais amava. Onde tirou tudo que um dia mais amei. Mas lá também não há mais registros de que um dia o fogo existiu, de que o fogo se alastrou pelo chão e cortina e queimou tudo, fazendo tornar-se fuligem e cinzas.

Me pergunto o que o destino está preparando para mim. Não tenho forças para mais uma tragédia. Quero viver bem. Quero ser feliz. Mesmo que esse objetivo pareça ser impossível.

Olho para Chen ao meu lado e contenho o ímpeto de segurar sua mão com força para só então entrar no casarão. Para só então enfrentar toda a dor que ainda grita em cada mínima parte da enorme estrutura.

Olho para o pé de cerejeira distante, onde eu e Jennie costumávamos brincar, onde fui deixada naquela noite. As folhas rosadas causa-me um bálsamo momentâneo, um sentimento leve e acolhedor, que se vai aos poucos, tão lento que chega a ser cruel, substituindo por uma dor que agoniza.

Lembro-me que fui a única sobrevivente, que se minha mãe também estivesse lá naquele dia também teria morrido e eu a única estranhamente salva. A única McDonie dessa família, viva e bem. Mas felizmente ela está bem, viva e salva, nós duas enfrentando o luto, canalizando forças uma da outra. Longe do caos, que daqui alguns seguros baterá em sua porta e estará presente em sua vida mais uma vez. Eu.

Não quero ficar aqui. Ela vai morrer. Todos vão.

Não posso ficar aqui!

Não posso!

Tenho que ir! Tenho que fugir... para que ninguém possa me encontar. Para que todos aqui sejam feliz.

Deixo os ombros caírem, mandando para longe a louca vontade de ceder a correr, de ir para bem longe daqui, para que ninguém possa me achar, para que todos que amo fique longe de mim, para que todos fiquem bem. Mas Chen me conhece muito bem, praticamente crescemos juntos e agora trabalha como meu motorista para pagar a faculdade que cursa. Somos amigos, quase irmãos, não quero perdê-lo também. E é por isso que ele segura forte minha mão, com o polegar acariciando o dorso, já familiarizado com a minha vontade de se esconder. Então avançamos e antes que ele toque a maçaneta, a porta é aberta violentamente e as orbes escuras, a figura um pouco mais alta que eu, cai sobre mim. De início, endurecidos, sem carinho ou qualquer coisa do tipo e depois no que que posso identificar ser de alívio.

Não toque em mim, será amaldiçoada.

Mas minha mãe não ouve meus pensamentos, não saber ler mentes, então se joga em mim, me abraçando fortemente, em um abraço firme e acolhedor. Também senti saudades. Falo somente para mim. Suas lágrimas molham a manga da minha camisa e eu fecho os olhos, contendo as lágrimas que, se eu permitir, sairão facilmente e eu não conseguirei impedir, sequer parar. Sinto seu coração batendo contra o meu, ambos tão forte que, por um segundo, apenas posso ouvi-los, clamando um pelo outro. Solto a mão de Chen e retribuo ao abraço, enterrando meu rosto ainda mais na curvatura do seu pescoço, me escondendo em seu corpo.

Never Far Away | Pjm | Série Amor e Fúria - Livro 2Where stories live. Discover now