-Chamei, Vi, mas calma, eles vão ajudar você...

-Não, não! Eu não quero que mais ninguém me veja assim, Sofia, você sabe disso!

-Eu sei, meu amor, calma, eu não fiz por mal...

-Não, não!- ela levantou do banco- Eu não vou falar com eles, eu vou para casa...

-Não, Violet, espera!- Livia a ouviu de onde estava e tentou se apressar, apesar de não conseguir correr- Eu só quero conversar com você, prometo ser rápida.

-E ele?- ela apontou para Sam.

-Ele é inútil.- Sofia afirmou e o garoto fez uma expressão levemente revoltada- Não se preocupa com ele, finge que nem está aqui.

-E sobre o que você quer conversar?

-Violet, senta comigo...- Livia a levou de volta para o banco e segurou a mão dela, apertando-a. Ela não disse, mas partiu o seu coração ver como Violet estava e principalmente saber que a simples conversa que teriam poderia ter evitado aquilo- A Sofia ligou para o Sam mais cedo e disse que te achou, ele falou comigo sobre o quadro de depressão que melhora e piora, sobre o que você está passando agora, sobre não conseguir dormir, fazer as coisas que fazia antes e, principalmente, comer...

-Ai, meu Deus, Sofia!- com os olhos se enchendo de lágrimas, ela voltou-se enraivecida para a namorada- Que parte de "não conta para ninguém" você não entendeu?

-Calma, Violet, olha para mim...- delicadamente, Livia puxou o rosto dela de volta. Sofia deu um passo para trás, ela queria envolver-se o mínimo possível na conversa das duas- Sofia não fez por mal, ela fez porque te ama e porque sabe que você não tem motivo nenhum para estar assim.

-Do que está falando?

-Eu posso te contar uma coisa?

Violet assentiu e, pela primeira vez naquele momento, apesar de ainda aparentar um pouco de raiva, ela começou a prestar atenção, uma das suas melhores habilidades era a de ouvir. Livia hesitou antes de começar a falar, mas tinha certeza de que era aquilo que queria fazer.

-Eu te contei que, há alguns anos, eu tinha 14 anos, voltei a Chicago, meu local de nascença, porque queria rever a minha irmã, a Jane, lembra que te falei dela? Deu nome para esta garotinha daqui.- ela alisou a própria barriga.

-Sim, eu lembro, a irmã que fazia tricô com você...

-Pois é... E você também sabe que ela já não estava mais viva quando a procurei e que uma enorme parte de mim foi embora junto com ela.

-Sim, eu sinto muito por isso, Livia...

-Hoje a dor de tê-la perdido ainda é muito grande, mas não tão insuportável a ponto de eu não aguentar mais, só que na época era, eu não via sentido nenhum em continuar lutando se a minha irmã estava morta, digo... Lutar por quem, sabe? Na época, eu achava que ninguém mais além dela lutaria por mim, então por que eu faria isso?

-Livia...

-Desisti de mim mesma quando deitei no chão de uma barraca e me entreguei ao fato de que eu não tinha forças e alimento. Não lembro quantos dias passei sem comer, parei de contar depois de 4 ou 5, eu mal conseguia distinguir o dia da noite. Só que... Um grupo de voluntários, especificamente uma garota de cabelo violeta, mostrou que eu estava errada em muitos aspectos. Um deles era eu achar que ninguém lutaria por mim, porque ela lutou até onde foi possível e...- ela deu de ombros- Me salvou. Eu sempre quis agradecer a ela e, quando nos encontramos pela primeira vez, na frente da escola, eu te reconheci na hora. Não te falei nada porque é muito difícil lembrar daquela época e eu não queria ter que entrar nesse assunto, mas se eu soubesse, Violet, o quanto o nosso primeiro encontro te afetou, o quanto você se sentiu impotente por achar que não conseguiu me salvar, eu teria dito tudo, eu sinto muito e te agradeço por me dar a chance de estar aqui hoje. Eu não morri, Violet, por sua causa.

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