Esperando sentada

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Não consegui de jeito nenhum arrumar outro emprego antes de terminar o meu aviso e fui obrigada a contar para a família sobre a demissão. Lógico que eu disse que era por causa da situação do país, da crise. Aleguei até ciúmes, já que a garota que bateu a meta do mês sempre ficava em segundo lugar.

Nos primeiros dias minha mãe até ficou com pena de mim, dizendo que era para eu ter usado uma correntinha com pingente de olho grego, ter levado um pouco de sal grosso na bolsa e ter ido mais à missa. Segundo ela, dali em diante eu tinha que fazer uma novena e entregar currículos. 

Duas coisas que eu não tinha forças para fazer, a não ser ficar sentada no sofá maratonando uma série atrás da outra.

 — Se você está esperando alguém bater na porta para te oferecer um emprego, pode esquecer.  

Minha mãe, parada na frente da televisão, não me deixava assistir a mais um episódio da minha série favorita.

— Eu estou procurando. Pela internet. Mas não vi nenhuma vaga. Vou fazer o quê? 

 — Primeiro, parar de comer. E tirou das minhas mãos a panela de brigadeiro. 

 — Ah, mãe... 

— Vai entregar currículos. Assim você aproveita para caminhar. 

Ah, não. Quando minha mãe começava a falar, eu poderia esperar uma palestra sobre saúde e atividade física. E era inútil dizer que hoje as empresas nem recebiam mais currículos impressos. Mas minha mãe tinha fé nos currículos. 

 — Eu já disse que você tem um rosto lindo. Se fosse um pouco mais magra... 

 Esta história... de novo, não. 

 — Amanhã vou entregar mais currículos, tá bom? Mas me devolve a panela? 

Eu conhecia aquela cara. Meu brigadeiro já era.

Miss Plus SizeWhere stories live. Discover now