Mercúrio retrógrado

274 32 4
                                    


A minha apatia não passou despercebida. Nem precisava ter sexto sentido para ver na minha cara que as coisas não estavambem. Mas a Luana tinha uma explicação mística para aquilo.

— Menina, não fique assim. Isso está acontecendo porqueMercúrio está retrógrado. 

— Está o quê? 

— O planeta Mercúrio! Quando ele está retrógrado é umhorror. Tudo desanda. 

— Então faz tempo que ele está retrógrado na minha vida.Ultimamente, para mim, as coisas só andam para trás. 

— Olha, fique tranquila que é só uma fase, dura uns dias.Daqui a pouco ele retoma o movimento direto. 

Eu não fazia a menor ideia do que ela queria dizer com aquilo, mas pelo jeito como ela torcia as mãos e andava de um ladopara o outro no salão, o negócio deveria ser sério.

Não demorou muito para eu entender exatamente o que elaqueria dizer com aquela história toda de Mercúrio retrógrado.

— Luana!Os gritos vinham da frente do salão. 

— Luana, sua vadia! 

E os gritos aumentavam. 

— Eu vou te matar, sua vadia! 

Tremendo, Luana pegava uma de suas sacolas, deixava outracair no chão, não conseguia coordenar os movimentos.   

— Desculpa, Rosa. É melhor eu ir lá falar com ele, daí ele seacalma. 

Ela pegou as bolsas e foi em direção à porta. Os gritos continuavam da rua. 

— Eu vou entrar aí e te quebrar toda! 

Rosa tentava fazer ela ficar. 

— Deixa eu ir, Rosa. Ele está nervoso, mas eu já vou resolver.Amanhã a gente conversa. 

Rosa a pegou pelo braço. 

— Aonde é que você pensa que vai? 

— Me deixa ir, Rosa. Vai ser melhor. Se ele entrar, vai quebrar o salão e agredir vocês. 

— Bruna, tranca a porta. Samanta, chama a polícia. Não voudeixar essa desmiolada sair. 

Luana implorava.

— Me deixa ir. Até a polícia chegar, ele já quebrou tudo. 

Luana conseguiu escapar de Rosa e antes de a Bruna chegaraté a porta ela tinha saído. Àquela hora da noite o salão não tinhamais clientes, então fomos para a rua tentar impedi-la de se encontrar com o namorado.

Assim que chegou perto dele, Luana foi agarrada pelos cabelos, arrastada pela rua e passou a receber vários socos, uma cenaque nunca mais esquecerei na minha vida.

Eu não consegui ficar imóvel enquanto a minha amigaapanhava na rua sem ninguém para defendê-la. O que eu fiz,então? Parti para cima do cara e agarrei os cabelos dele, puxando com todas as minhas forças. Só que aquele sujeito eramais forte e mais alto que eu. Ele arremessou a Luana nochão e partiu para cima de mim, me dando vários socos nacabeça, enquanto eu me defendia com os braços. Quando euestava ficando sem forças e a ponto de me entregar, ouvi alguém gritar.

— Larga ela! 

O namorado dela me largou, mas começou a rir de quemtinha mandado ele parar, provavelmente não acreditando no queestava vendo. Nem eu acreditei, na verdade. 

Sem sapatos e de cabelo amarrado em um rabo de cavalo,Bruna estava na calçada. Ele, então, provocou.

— Primeiro eu bato na vadia, depois na gorda. Agora eu vouarrebentar uma travec...

Não teve tempo de terminar a frase. Bruna acertou um socoem cheio na cara dele. E o que eu vi depois, meu Deus, se alguémtivesse me contado eu não acreditaria. Ela transformou o caraem um saco de pancadas. Ele simplesmente não conseguia reagir,nem se defender. Só apanhar. Por fim, a Bruna pegou a cabeçadele e deu uma joelhada, bem ao estilo MMA. O sangue lavava orosto e a camiseta dele. Tinha quebrado o nariz. Não duvido queele esteja vendo estrelas até hoje. 

Àquela altura uma plateia tinha se formado para ver a Brunadar uma surra no covarde que tinha agredido duas mulheres. Aspessoas a conheciam do salão e elas estavam tão surpresas quantoeu. Eu tinha me levantado e estava ajudando a Luana, que tinha semachucado muito, principalmente no rosto. Aquele maldito faziaquestão de sempre acertar ela no rosto. 

Quando a polícia chegou, Bruna colocou os sapatos de salto esoltou a cabeleira loira. Com exceção de uma mancha de sangue nacalça, o look estava impecável. E ela foi aplaudida pelos expectadores. 

Luana foi para a delegacia no carro da Bruna, que tambémia prestar depoimento. O agressor foi no carro da polícia, a motodele levada pelo guincho e eu fui para casa no carro que chameipelo aplicativo. Depois de ter tomado banho e um remédio parador, me surpreendi com uma mensagem do Max, querendo sabercomo eu estava. 

Eu disse que estava bem. Mentira. Eu não estava bem. Euestava com dor nos braços, exatamente onde aquele babaca tinhame acertado. E estava fazendo compressas quentes por causa das manchas roxas. Estava chateada porque ele só estava mandandomensagens escritas. Custava ter me ligado? 

Custava ter ido na minha casa para ver como eu estava? 

Custava ir me dar um abraço?   

Miss Plus SizeWhere stories live. Discover now