Capítulo VII

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O aperto em sua garganta dificultou a trajetória até o castelo.

A jovem cogitou passar a madrugada na pensão em que Marylia estava, mas não achava justo compartilhar sua dor com outro inocente.

Ela sempre soubera que sua família não era benevolente ou caridosa, nem mesmo se considerava uma boa pessoa, porém o povo mágico sempre fora descrito como perverso e bárbaro, merecedor de punições. Imaginar que crianças não eram poupadas das crueldades dava-lhe náuseas. O nojo, a mágoa, sua ignorância; tudo isso embrulhava seu estômago, azedava sua boca.

Ao atravessar a ponte e adentrar o bosque que separava o castelo do restante do reino, Selene se deu conta de que não queria voltar. Não queria reencontrar sua família miserável ou repousar na cama luxuosa. Até mesmo a lembrança das iguarias que preparavam nas cozinhas fartas repulsou-a.

Para adiar o destino, a garota subiu em uma pedra que beirava o limite de uma clareira, acomodou-se da maneira que pôde, e olhou para a lua.

Ah, a lua.

Tão familiar e imutável. Selene sabia de cor todas as suas fases. Perdera a conta de quantas vezes deitara-se no parapeito da janela para admirar sua beleza etérea. Às vezes até mesmo conversava com ela e as estrelas, jogando palavras ao vento e recebendo respostas em brisa...

O pio de uma coruja a despertou de seu entorpecimento divagante, e ao olhar para o leste a fim de descobrir de onde viera a ave, ela foi recebida pelo beijo da aurora nascente.

Teria pouco tempo para chegar ao castelo antes do nascer do sol. Então, com um suspiro fatigado, deslizou do topo da pedra e caiu com os pés no chão.

Não quis pensar em nada enquanto corria. Concentrou-se no sibilo da ventania ao seu redor e nas copas das árvores acima de sua cabeça.

Porém algo em seu peito ainda a sufocava...

— Caden, admita: o plano é falho.

— Não, não é. Ela estragou tudo. Podemos tentar de novo...

— Está me dizendo que pretende esperar a próxima Audiência para anunciar a algum dos outros membros daquela família louca que você é um eridanus?

— As Audiências sempre estão lotadas, imagine só quanta atenção uma confissão dessas atrairia!

— Sim, mas...Veja bem, os arqueiros podem falhar, e quem estará com uma corda ao redor do pescoço no dia da execução será você!

— Toda grande ação exige um sacrifício, Kaleb. Além do mais, minha morte seria o estopim perfeito para a rebelião...

— Não! Caden, estou fora dessa. Tenho quase certeza de que esta falha foi um aviso, uma segunda chance. Pare de querer bancar o herói.

O garoto quase deu uma resposta insolente, mas entendia os motivos do amigo. Eram praticamente irmãos e nunca se separaram desde o dia em que fugiram juntos do lar torturante que chamavam de orfanato...

— Ei...— disse, depois de alguns segundos, num tom arrependido.— Acho... acho que temos outra alternativa.

Caden ergueu uma sobrancelha e debruçou-se sobre a mesa engordurada da taberna. Os bêbados já estavam caídos pelos cantos, e os brigões haviam ido embora com o primeiro raio de sol, mas todo cuidado era pouco, afinal, até mesmo as paredes têm ouvidos.

— Eu a interceptei em um dos becos. Pode-se dizer que conversamos...

— Você fez o quê!?— Ele teve de tomar cuidado para não elevar o tom de voz.

— Ah, pare com isso. Sei me cuidar— retrucou o rapaz, devolvendo o olhar irritado.— A questão é...— Ele engoliu em seco e começou a retorcer o nariz, um trejeito inquieto.

— Kaleb...

— Acho que ela poderia nos ajudar.— As palavras foram despejadas num ímpeto. Depois de ditas, porém, pareceram tomar forma e tornaram-se mais convictas. Caden piscava e sorria, desacreditado.

— E eu acho... que você bateu a cabeça enquanto pulava de telhado em telhado.

Ele se levantou, e Kaleb o seguiu, cuspindo objeções indignadas.

˚✧₊⁎༚*・゜゚・*:.。..。.:*・*:.。. .。.:*・゜゚・*
oi, leitores! o capítulo está curtinho, mas espero que tenham gostado :)
votem e comentem, assim eu fico sabendo a opinião de vocês!!

até a próxima 🤍

O Encanto da LuaWhere stories live. Discover now