Capítulo XXXII

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Eden e Kaleb não aguentaram mais esperar e resolveram sair em busca de Caden. Foram sozinhos, já que Thalia tivera de ficar no vilarejo para ajudar com os preparativos do funeral de Carmen.

— Eu sabia que não deveria tê-lo deixado ir sozinho. E no meio da noite, ainda. Se algo de ruim acontecer a ele... Não quero nem imaginar.

— Se acalme, Kaleb. Precisamos de foco agora. — Ela ajeitou o arco e as flechas presos às suas costas. — Vou por aqui. Siga pelo outro lado.

Eden deu um salto impressionante e subiu no galho de uma árvore. Ali, agachada, ela se impulsionou mais uma vez e posicionou-se no centro da copa.

Kaleb a viu desaparecer em meio a pesada cobertura de folhas e segurou o estilingue entre os dentes. Ele se transformou e saiu andando sobre as folhas secas no chão, com suas silenciosas patas pretas.

Aqueles momentos que passaram foram turvos para Dohan. Uma única vez seu olhar se cruzou diretamente com o de Telbeth e ele sentiu a ausência de humanidade daquilo que o possuíra.

Guardas o seguraram por trás. Ele viu Juhe quebrar uma taça para ameaçar os guardas e então ser imobilizada contra a mesa. Viu Ivan, Rei de Feriscruen, e sua esposa Bellona desferirem socos enquanto seus filhos empunhavam facas de jantar como se fossem espadas. Viu quase todos da família Battory rastejando pelo chão e entrando por baixo das mesas. Viu as famílias de Callidues e Ofídis tentando manter a calma, mesmo que seus olhos denunciassem o pavor.

Ele gritou:

— Eu amo você, Telbeth! Me escute, por favor!

Mas em meio aos outros gritos sua súplica foi submersa. Uma pancada em sua cabeça o cobriu com escuridão e ele desmaiou.

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A confraternização entre os feéricos e os humanos durou mais do que o esperado e o cansaço dos cavalos também. Com a caída da noite, um clima etéreo os envolveu, varrendo para longe as preocupações que permearam sua jornada.

Angrod e Nain rapidamente fizeram amizade com Matteo, assim como Indis e Teressa se afeiçoaram por Olga. Marylia, Anna, Deschia e Finrod, juntos, reavivaram o espírito jovem uns dos outros e trouxeram um clima lúdico para o local. Marylia e Deschia começaram a cantar e Finrod a assoviar. Anna, no centro da roda, iniciou uma tímida dança que logo se tornou doce e fluída.

Ao lado de Selene estavam Caden e Teressa, batendo palmas ritmadas. A jovem pegou seu diário e um lápis, para registrar o momento. Enquanto desenhava, todos se uniram numa coreografia nada sincronizada, mas alegre. O garoto foi o único que permaneceu sentado, com um pequeno sorriso no rosto.

— Não vai dançar? — perguntou.

— Talvez depois. E você?

— Talvez também, depende.

— Depende de quê?

— Se uma certa garota aceitar meu convite, eu vou. Se não, ficarei ao lado dela até que decida me enxotar.

Selene, mesmo tensa, riu um pouco. Seus dedos acariciaram o anel de gelo quando sugeriu:

— Que tal uma atividade que não envolva piruetas ou tombos?

Caden inclinou um pouco a cabeça, sem entender. A jovem olhou para cima, onde uma redoma de estrelas brilhava sobre eles.

— Você acha que elas sabem que são bonitas assim?

— Se não sabem, deveriam.

As bochechas de Selene esquentaram toda a sua face. Para evitar o contato visual, deitou-se na grama fresca e colocou o diário de lado. A música, ao longe, dava a tudo um tom meio irreal.

— Você está bem? — perguntou, deitando-se também.

Uma tristeza sufocante apertou o coração da garota. Pela primeira vez, porém, ela sentiu que poderia relaxar e liberá-la. E foi isso que fez. Cobriu o rosto e chorou por longos minutos, por diferentes motivos. Isso aliviou a pressão que acumulara durante aqueles dezesseis árduos anos em que se reprimira intensamente.

— Acho que não devia ter perguntado. — Ela riu, ainda com as mãos sobre o rosto e respirou fundo para se acalmar. Seu rosto estava molhado e inchado e soluços a sacudiam, mas, no geral, se sentia bem.

— Estou melhor — respondeu, com um sorriso apertado.

— Que bom.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, enquanto a pequena balada dos amigos mudava de melodia. Agora todos estavam cantando numa harmonia encantada, inerente às músicas feéricas.

— Caden, o que sua magia pode fazer? — questionou a garota, afastando a quietude.

— Algumas coisas, não dá para explicar muito bem.

— Então mostre.

O garoto inspirou profundamente e, logo em seguida, flocos de neve salpicaram os dois. Selene soltou um riso impressionado e levantou os braços para tocá-los. Caden sorriu e fez com que borboletas de gelo semitransparentes sobrevoassem suas cabeças.

— Isso é lindo! — exclamou, e línguas de luzes verde-azuladas serpentearam acima deles. — Como consegue...?

— Minha mãe é Quione, a ninfa da neve.— Em seguida, acrescentou: — Eu nunca a conheci de verdade, só sei que sou seu filho por causa dos poderes e aparência.

— E seu pai?

— Não sei quem é.

— Então quem cuidou de você durante todo esse tempo?

— Cresci num orfanato horrível junto com Kaleb, o garoto-gato. Até que tive um sonho e resolvi fugir — disse simplesmente, sorrindo.

— Você fugiu para o desconhecido por causa de um sonho?

— É. E por causa disso aqui também. — Ergueu a mão e fez com que o anel em seu dedo reluzisse nas luzes. — Encontrei um na minha cabeceira de manhã e outro na de Kaleb. Nós havíamos sonhado com as mesmas coisas.

— E as outras crianças não os viram sair?

— Elas estavam dormindo, todos pareciam estar. Encontramos as portas abertas e saímos. Simples assim.

— Como atravessaram a floresta?

— A travessia foi curta, seguimos em linha reta até encontrarmos o vilarejo. Depois descobri que era assim que encontravam feéricos perdidos.

— Com sonhos e chamados misteriosos? Por que não convites mais diretos?

— O que você sentiria se visse um elfo com chifres ao pé da sua cama no meio da noite?

Em seu estado reflexivo, Selene nem mesmo ouviu a retórica de Caden. O corpo da garota estava gelado e quente ao mesmo tempo.

— Selene...?

— Esses chamados vêm de quais maneiras?

— Há muitas. Por quê?

— É possível que um humano os receba?

— Não, não é. Por que está perguntando isso?

Selene, em resposta, puxou a correntinha em seu pescoço que descia até seu corpete. Na ponta, um belo anel de ouro dançava.

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Ah, e outra coisa, enquanto escrevia minha nova obra "Academia de Assassinos", descobri que existe uma série com o enredo muito parecido kkkkkkk😰Vocês acham que eu devo apagar ou continuar a história? 🤔

É isso!

Até a próxima ;)

O Encanto da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora