Capítulo XXXI

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Marylia sabia que a floresta não era segura. Ouvira histórias sobre ela. Mas precisava correr o risco de se aventurar se quisesse manter Olga e Matteo vivos.

A cada minuto que passava, o céu púrpura ia ficando mais escuro e a ansiedade da moça, mais forte.

Ela ouviu o som de cascos revolvendo folhas secas e se jogou no chão, com o coração batendo forte e as mãos suando.

Ao longe, escutou:

— Selene, podemos parar um pouco?

— Sim. Vamos descansar e alimentar os cavalos.

Marylia se levantou, tomando cuidado para não chamar atenção. O anseio de ver a princesa que a ajudara, porém, superou a desconfiança, e ela passou a andar rapidamente na direção do som.

Ela ouviu diferentes vozes e hesitou. Seriam guardas? Ou acompanhantes reais?

Duas coisas a fizeram continuar: o barulho de risadas e a lembrança da imagem que vira ao fazer o feitiço.

Estava chegando cada vez mais perto, ouvindo com mais clareza. Primeiro, viu sombras indistintas, depois, silhuetas. Seu corpo estacou ao ver Selene.

— Anna, por que você não... — Os olhos da princesa se estreitaram, depois, ficaram arregalados. Ela abriu espaço entre os presentes. — Marylia?

O som de seu nome sendo proferido pela garota despertou-a, e ela correu ao seu encontro. As duas se abraçaram, rodeadas de rostos confusos e chocados.

— O que você está fazendo aqui? — A princesa a segurou pelos ombros e a encarou.

— O que você está fazendo aqui? — Marylia olhou ao redor e parou quando viu Caden. — Garoto da pensão...?

— É, sou eu. Também sou o garoto que se recusou a te levar pra Eridanus. Desculpe por isso. — O queixo da moça caiu enquanto ela processava todas aquelas informações. A criada que conhecia estava ali, assim como a alfaiate e feéricos de aparência exótica.

— Vamos esclarecer tudo — sugeriu Deschia.

— Eu... Ah... Matteo e Olga estão me esperando. Eu devia voltar — disse para Selene e Caden.

— Eles estão aqui? Onde?

— Deixei-os numa clareira aqui perto.

— Sozinhos? — indagou Indis, preocupada. Marylia assentiu, desconfiada. — Mas eles podem se perder!

— Eu sou humana e não me perdi. Elas também não — rebateu, apontando para Selene, Teressa e Anna. — Na verdade, nós nos encontramos. — Sorriu.

— Elas estão conosco, não serão afetadas. Já você...

— Fui criada por Madres. Os espíritos delas estão sobre mim. Elas protegem a mim e aqueles que amo.

— Vamos encontrá-los, então. Iremos todos juntos para o vilarejo — declarou Finrod. Ninguém o contradisse.

Depois de um tempo caminhando, Selene perguntou:

— Se a floresta faz com que os desprotegidos se percam, como os guardas conseguiram entrar no vilarejo?

— Eles nos sequestraram enquanto estávamos na cidade — revelou Angrod, segurando a mão de Indis. — Roubaram nossos anéis-chave e, assim, garantiram proteção.

— Entendo. Eu sinto muito.

— Como você sabe o que aconteceu?

— Encontrei um garoto-gato, certa vez. Ele me barrou e me disse algumas verdades.

— Kaleb... — sussurrou Caden. Selene o olhou, surpresa. — Ele é meu amigo.

Marylia começou a andar na frente para levá-los até Olga e Matteo. Apesar de confiar no espírito das Madres, estava apreensiva com a possibilidade da proteção não se estender até eles.

Era hora do jantar no castelo Blackburn. A mesa estava repleta de nomes importantes e iguarias ricas. Todos vestiam as mais pomposas roupas, por causa da coroação que viria ao fim da refeição e da festa que a seguiria. Ao contrário de outros reinos, momentos importantes de Yndermoor eram, normalmente, realizados à noite.

Das quatro primeiras cadeiras, apenas duas estavam ocupadas. Com Telbeth na ponta e Laelia à sua direita. Os outros convidados estranharam a ausência de Selene e Balken, mas nada disseram.

Dohan olhava para o príncipe com as sobrancelhas franzidas. Em nenhum momento ele devolvera o olhar ou se encolheu e o Dahab encarou isso como um sinal de que algo estava errado. Além do mais, o rapaz parecia ter se tornado mais forte e robusto da noite para o dia e nem tocara no vinho. Seus pais e Iohan não notaram sua preocupação, mas Juhe percebeu:

— O que houve?

— Ele não costuma ser assim — revelou, olhando-o. — Tão orgulhoso.

— Como você sabe o jeito que ele costuma agir? — Dohan não respondeu e Juhe pressionou seu braço. — Eu já sei de tudo. Não se preocupe, minha boca é um túmulo — acrescentou ao ver o desespero nos olhos do irmão.

Dohan entrelaçou sua mão com a dela, sorrindo tristemente. Ele lançou mais um olhar para Telbeth e baixou a cabeça.

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Dividindo o centro da mesa, estavam as famílias Rognor e Nathair. Jair e Katha sentaram-se lado a lado e começaram a questionar a ausência de Selene.

— Ela deve estar se trocando. Ou aguardando para fazer uma surpresa — sugeriu Jair.

— Talvez — respondeu Katha e olhou para Kenna e Konna, que estavam impassíveis. — Argh, eu quero sumir daqui. Minhas irmãs são insuportáveis.

— Jura? Eu conversei com seu irmão, ele me pareceu bem simpático.

— Meu irmão é simpático, apenas elas são assim. Nunca deixam de ser formais.

— Deve ser o jeito delas. Muitos membros da realeza transmutam a pressão em rigidez.

— Isso é horrível.

— É mesmo. Mas elas gostam de você, não se preocupe.

Katha deu um pequeno sorriso, o que alegrou Jair. E eles retomaram a conversa.

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Demir e Nikolai examinavam todos da mesa com desprezo e soberba evidentes enquanto suas irmãs, Morana e Neith, tentavam assustar Manon e Goa do outro lado da mesa.

— Ninguém aqui merece ter sangue real. Exceto, talvez, a Princesa Kenna e sua irmã Konna. E nós, é claro.

— Acho que muitos dos que estão sentados nesta mesa nem mesmo têm sangue real. Posso sentir o cheiro dos bastardos.

— Não se gabe por isso, Nikolai.

Eles olharam para os Battory no fim da mesa, e suas expressões se contorceram num esgar.

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Fhelipo estava trançando os longos cabelos alaranjados de Florencia bem em cima da mesa de jantar enquanto ela trançava os seus. Suas testas pronunciadas quase se tocavam, mas eles não se olhavam nos olhos. Quando a irmã parou e olhou para a outra ponta da mesa, ele fez o mesmo.

— Problema — sussurrou ela e Fhelipo concordou.

Telbeth havia se levantado. E os guardas nas extremidades do salão estavam se aproximando cada vez mais.

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Até a próxima!

O Encanto da LuaWhere stories live. Discover now