Cena 07 - Traições

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Quando o soldado desceu o último degrau da escada de mão colocou dois dedos cobrindo o nariz em vista do odor forte que emanava pelo ar quente do estreito túnel onde se encontrava. Apontou com a lanterna e conferiu as paredes com pouco mais que sua altura, o chão estava molhado e caíam pingos do teto. Havia bolor por toda parte, era um local precário e esquecido pelas pessoas responsáveis. As luzes não funcionavam, assim como no restante do prédio. Era esse o motivo de estarem ali. O outro sujeito desceu pelas escadas em seguida e fez uma careta quando sentiu o cheiro. Era um homem grande, tinha cabelos penteados para trás modelados cuidadosamente com gel e usava bigode, suas roupas, diferente do soldado com trajes militares era completamente social com direito à cinto na calça e gravata de cor azul celeste no pescoço.

—Que droga – resmungou – pareceu que mortos andam por esse lugar.

O soldado apontou a lanterna mais à frente e perguntou por qual caminho deveriam seguir, o sujeito de roupas sociais então ligou sua lanterna e assumiu a frente.

—Quem diria que você saberia onde ficam os geradores desse lugar, Irons – disse o soldado – Creio que o sistema já deva estar ativando os geradores de emergência, mas vai ser muito útil se pudermos acelerar o processo.

—Apenas conheço um cara que conhece um cara – respondeu o delegado – De qualquer forma eu jamais seria capaz de religar a energia sozinho, nem faço ideia de como se troca uma lâmpada, minha esposa sempre chama um técnico para resolver isso em casa. Felizmente você sabe como fazer isso, com sorte em alguns minutos o prédio todo deve voltar a funcionar.

Enrico assentiu com a cabeça enquanto ambos seguiam para o gerador principal, abaixo do prédio do Banco Central de Manhattan. Aquele lugar sombrio e macabro nem de longe lembrava a estrutura moderna e tecnológica acima deles, era como se o subsolo estivesse em outro lugar, outro mundo. Em sua mente o Capitão da equipe Bravo dos S.T.A.R.S. pensava no que poderia estar acontecendo com o restante de seu pessoal dentro do prédio, pois desde alguns minutos atrás o chip de seu rádio fritara. Já imaginava que um P.E.M. tivesse sido disparado, sabia que as comunicações não iriam voltar, apenas torcia para haverem fusíveis reservas próximos do gerador, algo padrão em qualquer almoxarifado naquele local.

—Que barulho é esse? – perguntou o delegado parando e levantando a cabeça procurando se concentrar em algo que ouvia.

—Do que está...? – começou a dizer Enrico parando a pergunta na metade – Encoste-se na parede! Rápido! – concluiu com um grito. O delegado obedeceu sem questionar.

Ambos recostaram-se nas paredes frias e molhadas do corredor, cada um de um lado do caminho. No mesmo instante uma rataria avançou com fúria. Passaram correndo sem sequer notar a presença dos dois ali, centenas de roedores avançando desesperadamente na mesma direção em meio à escuridão. Dois minutos depois a algazarra diminuíra e um ou outro esquecido pelo bando passava correndo seguindo o restante, atrasados.

—O que foi isso? – perguntou Brian sem entender o que havia acabado de acontecer.

—Não sei dizer – respondeu o soldado – Mas a única coisa que pude notar é que estão seguindo em direção aos esgotos. Isso não é estranho? Quero dizer, pense bem, mesmo com a tecnologia do prédio esse tipo de criatura sempre encontra uma brecha para se infiltrar, são os melhores infiltradores de que já ouvi falar. A julgar pelo desespero com que corriam eu diria que estavam fugindo. Não tem sentido fugirem de um local com ar condicionado e comida, não para esses animais – concluiu.

—Tudo bem – ponderou o delegado alisando a ponta do bigode com dois dedos – Supondo que tenha razão, são apenas ratos, não são pessoas, o que eles entendem? Do que fugiriam?

Resident Evil: Primeira AçãoWhere stories live. Discover now