capítulo quatro;

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D A P H N E

Na manhã seguinte eu acordei mais cedo do que de costume por causa dos latidos no quintal. Meu quarto já recebia a luz externas pelas cortinas finas e não demorou para que me sentisse desperta. Olhei as horas. Cinco e pouco da manhã.

Meu cachorro era bastante quieto e quase nunca latia. E quando isso acontecia é porque algo de errado estava acontecendo.

A madeira da cama rangeu quando eu me sentei para colocar os chinelos. Foram poucos passos até a porta do meu quarto. Já no corredor estreito eu vi a porta do quarto minha mãe fechada, mas sabia que ela estava se preparando para ir trabalhar.

Passei pela cortina de missangas que me separava da sala e abri a porta da entrada, me colocando no lado externo. Sentado na areia e com a língua de fora, o labrador guardava um corpo estirado no chão. Nem minha aparição fez com que Kasumi se animasse e viesse até mim.

—— Kasumi... O que você fez? —— exclamei ao me aproximar, e após meus comandos o cachorro que afastou.

O gatinho, ainda filhote, parecia debilitado, mas não tinha nenhum machucado visível. Seus olhos estavam estáticos, no entanto sua barriga descia e subia lentamente.

Como já era de dia, coloquei Kasumi em seu canil e dei a ela um pote de água.

—— O que é isso? —— minha mãe perguntou quando voltei da parte traseira da casa.

Já estava com sua bolsa no ombro e preparada para ir; analisava o gatinho.

—— Acho que estava tentando passar por aqui e a Kasumi atacou -- respondi, alcançando uma caixa de papelão jogada no canto da parede. —— Não tem sangue e nem parece estar machucado. Acho que ficou traumatizado com o susto.

—— Coitadinho.

—— Vou tentar cuidar dele até poder voltar lá pra fora.

—— Tudo bem... Talvez eu demore um pouco hoje, vou comprar algumas coisas mais tarde pra fazer seu preto preferido —— sorriu.

—— Você sabe que não precisa, mãe. -- Encolhi os ombros. ——Não me importo de comer o mesmo de sempre.

—— Eu sei que não, mas não custa nada, não é? E eu recebi o salário ontem, dá pra aproveitar um pouco. —— Piscou. —— Tenho que ir andando pro ponto de ônibus. Se eu me atrasar de novo a patroa me mata.

Me despedi dela e encarei o animal. Ele estava deitado na mesma posição na qual o deixei e sequer piscava os olhos. A única certeza que eu tinha de que ainda estava vivo era sua barriga que descia e subia.

Respirei fundo e entrei na casa, deixando a caixa na cozinha e preparando uma mistura de leite em pó e água em um pote. Deixei o mesmo dentro da caixa e fui tomar um banho.

A rotina naquela manhã não foi tão cansativa. Depois de alimentar meu estômago com um copo de leite frio e metade de um pão, tirei as roupas que estavam de molho nas bacias e as esfreguei no tanque de lavar. Estendi todas elas debaixo do sol que já de sobressaía e fazia as queimaduras em meus ombros coçarem. Fiz faxina na casa de cômodos pequenos e arrumei meu quarto.

Eram onze da manhã quando estava no computador e comecei a ouvir miados incessantes pela casa que durou um minuto completo. Me levantei e fui até à cozinha. Espreitei a caixa e esperei ver o filhote em uma nova posição, mas ele ainda estava deitado daquele mesmo jeito, tirando o fato de que agora sua barriga já não se movia mais.

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