capítulo sessenta e cinco;

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Daphne

— Oi? — Bárbara balbuciou após um longo tempo em silêncio, encarando os outros como se procurasse outra resposta.

Larguei o guarda-chuva encostado a um dos sofás, me aproximando.

— Foi nessa manhã — adicionou. — Não tem três horas.

— O quê...? Como assim, gente? O que aconteceu? — Voltan questionou.

— Ela passou por uma cirurgia complicada pra tratar o câncer de...

— Tia Michele tinha câncer?! — Babi exclamou, abismada. — Como assim?! O que... Como a gente nunca soube disso?!

— Bom — PlayHard se pronunciou —, provavelmente nem ela e nem o filho queriam que alguém soubesse. — Bárbara e Carolina se abraçaram, e em poucos segundos um choro baixo surgiu. — Michele é mãe do Bak — ele completou, dessa vez olhando diretamente pra mim.

Foi como se uma peça se encaixasse no meu cérebro.

Michele.

Agora me lembrava. Nos conhecemos naquela manhã na casa de Gabriel. Ela parecia tão bem, saudável. Como... Meu Deus.

Gabriel.

Como ele deve estar?

— Você sabia disso? — Bárbara perguntou para Arthur.

Do sofá e encolhendo os ombros, ele negou.

— Isso é tão novo pra mim quanto pra vocês.

— Estávamos pensando em ir pro hospital, ver como ele está — Marcos disse.

— Eu ainda acho que isso não é uma boa ideia — Victor comentou, olhando para as próprias mãos. — Vocês sabem como ele é. Assim que pisarmos naquele hospital, ele vai soltar facas em todas as direcções e pra todo mundo. Acho que seria melhor deixar a poeira baixar.

— Victor, é a tia Michele. — Arthur franziu o cenho. — Não podemos simplesmente ficar aqui de braços cruzados agindo como se nada tivesse acontecido só porque o Bak vai fazer isso ou aquilo. Se ele não quiser, estaremos lá por ela.

— Ele tem razão — Marcos concordou, se levantando. — PH, você manda o endereço pra gente?

(...)

Isso só podia ser uma grande coincidência.

O carro parou em frente ao mesmo hospital de onde eu e as meninas saímos há menos de uma hora.

Estávamos no mesmo lugar esse tempo todo e nem sabíamos.

Saímos do carro do Victor, vendo PH chegar no dele e estacionar alguns metros afastado.

Fomos até a recepção, onde PlayHard conversou com a mulher por alguns minutos.

— Corredor número quatro do segundo andar — informou, indo em direção ao elevador.

Subimos.

A porta abriu, e atrás dele, todo mundo seguiu em silêncio.

Eu acho que nunca tinha visto a galera assim.

— Aqui — Marcos apontou para cima, indicando o número do corredor.

Não precisamos procurar.

Sentado em um dos bancos e totalmente alheio a tudo, Gabriel encarava a parede à sua frente. Seu corpo estava ligeiramente curvado; os cotovelos apoiados nos joelhos enquanto as mãos entrelaçadas serviam de apoio pro queixo.

Arthur foi o primeiro a avançar, já que todo mundo parecia meio receoso.

Seguimos, mantendo uma pequena distância e observando enquanto parava de frente pra ele.

— Gabriel — Arthur chamou, colocando uma mão no ombro do mesmo. — Eu sinto muito, cara.

Nada.

Ele sequer piscou. Parecia que Arthur tinha falado com uma parede.

— Como você está, cara? — Gilson tentou, empático, recebendo um olhar fulminante por parte de Victor.

Gs encolheu os ombros em um pedido de desculpas.

Como se esperássemos uma resposta — no mínimo furiosa —, todo mundo voltou a atenção para Gabriel. Todo mundo conhecia seu temperamento. Era como se ele fosse uma bomba relógio, no entanto, o que aconteceu depois é que nos deixou ainda mais preocupados.

Ele não fez nada.

Dava pra perceber a vermelhidão e as pequenas bolsas debaixo dos olhos dele com facilidade. Um aperto surgiu no meu peito, e eu tentei imaginar o que devia estar passando na cabeça dele; o que passa na cabeça de alguém numa situação dessas.

Eu conhecia Gabriel há tempo o suficiente para saber que ele amava aquela mulher; era nítido. Foi nítido naquela manhã. Na forma como ele sorria travesso quando ela mandava um olhar fulminante por causa das piadinhas, na forma como falava com ela. Ele era carinhoso, mais do que eu já tinha visto ele ser com alguém.

E agora ela se foi, e ele parece não sentir... nada. Parece uma parede de concreto, impenetrável a qualquer palavra que tentamos dizer.

Meus lábios tremeram quando eu os separei; não sabia o que falar, ou o que fazer.

Minha tentativa de chamá-lo de volta para essa dimensão escapuliu quando um médico apareceu, vindo até nós e perguntando se estávamos com ele.

PlayHard concordou e se apresentou, dando a parecer que eles já tinham conversado antes.

— É normal que ele esteja assim — o homem comentou, olhando para trás por um segundo; Gabriel continuava da mesma forma. — Ele está em estado de choque, e o isolamento é uma das fases do luto, então... vão precisar ter paciência. Ele precisa de tempo pra digerir a situação por...

O médico parou de falar quando notamos movimentação atrás dele. Gabriel se levantou, caminhando na nossa direção com passos pesados e passando sem encarar ninguém, sumindo pelo corredor.

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Bônus pra agradecer pelos quase 200k de visualizações <3

Secrets (loud bak)Where stories live. Discover now