capítulo setenta;

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Daphne

Era sempre reconfortante voltar para casa; sentir o cheiro característico que só aparecia quando eu ficava longe (uma mistura de madeira e marshmallow) e ver que os móveis e tudo continuava do mesmo jeito; desde o sofazinho gasto até a cortina de miçangas que separava a sala do corredor.

Agora que eu estava certa de que sairia da Loud, um dos meus sonhos que era dar uma casa — ou melhores condições em geral — para minha mãe estava meio distante. Primeiro que ainda tinha a dívida para pagar, e não sabia se arranjaria outro emprego tão rápido.

Ainda não sabia como contar para ela sobre minha saída, mas contaria, certamente. Não tinha como esconder e nem por quê.

— Ein? Vai me dizer de quem é essa roupa? Eu tenho certeza que nunca te vi usando... E isso é...? Isso é uma cueca? — Ela pareceu surpresa ao perceber, avaliando a peça que havia ficado um pouco mais à mostra quando me sentei.

Suspirei, jogando a bolsa que eu carregava ao meu lado.

— Sim, é... Mas não é isso. Não é o que está pensando — me justifiquei, vendo ela arquear uma sobrancelha. — Eu dormi em casa de um amigo e ele me emprestou, junto dessa camiseta.

— Hm.

— Foi o cara que veio me deixar. Ele é lá da mansão também.

Dona Joana alcançou o celular para desligar um alarme.

— Então ele é seu colega de trabalho?

Cruzei o cenho.

— Sim... É estranho que geralmente não penso neles como colegas de trabalho, mas sim — notei, brincando com a ponta dos meus dedos. — A mãe dele morreu. Câncer.

— Oh, céus. E como é que ele está?

Dei de ombros.

— Não muito bem. Hoje ele conversou um pouco mais, então sugeri ficar com ele esses dias. Ainda não vi nenhum familiar entrando em contato ou algo assim, então acho que seria bom ele ter companhia.

Minha mãe concordou.

— Que chatice. Que ela descanse em paz... Ele é filho único?

— Não... Ele tinha uma irmã mais nova.

— Céus, o que aconteceu?

É... disso eu não sabia. No dia em que falamos na piscina me pareceu um assunto delicado e eu preferi não me intrometer, e hoje mais cedo quando as meninas comentaram nem deu tempo de perguntar, pois ele chegou na cozinha.

— Não sei ao certo... Mas ela era pequena. Oito anos, eu acho. Ou nove? Por aí.

— Meu Deus, que tristeza. Quando será o funeral?

Fiquei conversando com a minha mãe e ela me contou que se juntou a um grupo da igreja e que agora tinha reuniões nas sextas-feiras. Ela sempre foi muito religiosa, diferente de mim. Não comentou mais nada sobre o fato de eu estar indo passar os dias com Gabriel; não sei se já desconfiava que existisse algo entre nós e não queria se meter, ou apenas deixou pra lá.

Fiz o almoço; um macarrão com frango, e depois de comermos ela foi tirar sua soneca da tarde. Coloquei a ração da Kasumi e tirei algumas roupas estendidas no varal que já estavam meio secas, apesar do sol quase inexistente.

Secrets (loud bak)Where stories live. Discover now