capítulo trinta;

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G A B R I E L

Quando eu percebi que estava despertando, suspirei, apertando o travesseiro contra meu corpo e praguejando mentalmente.

Eu raramente sonhava, ou pelo menos não me lembrava da maioria dos sonhos que tinha, mas quando lembrava era porque não eram coisas boas. Geralmente, eram as que me faziam acordar no meio da madrugada, com a testa suada e o coração disparado. Eu tinha sorte quando conseguia voltar a pregar o olho, pois na maioria das vezes tudo que eu conseguia era gastar tempo fumando na sacada.

Eu não conseguia me lembrar o que havia sido hoje, mas não era um pesadelo; sabia disso porque eu não quis acordar.

Parecia que eu estava deitado em uma nuvem. O ar condicionado ainda estava ligado, eu podia dizer pela temperatura do quarto, e minhas costas, ombros e pescoço estavam leves que nem uma pluma. Fazia um tempo considerável que eu não acordava descansado. Mas não havia ninguém além de mim para culpar: era eu que virava noites jogando e com a coluna em formato de um arco.

Mudei a posição da cabeça, franzindo o cenho quando senti algo com uma textura incomum fazendo cócegas na ponta do meu nariz. Tinha um aroma agradável; uma mistura de água de coco com creme de cabelo.

Abri os olhos para confirmar que, sim, realmente, eu tinha uma juba bem na frente do meu rosto, tapando quase toda a minha visão.

Daphne.

Daphne dormindo em cima de mim.

Eu não fazia ideia de como ela tinha terminado naquela posição: deitada com a cabeça no meu peitoral.

Sua mão esquerda repousava delicadamente nele e uma das pernas dela estava sobre a minha. Eu estava literalmente na beira da cama, se eu me movesse um milímetro com certeza estaria no chão, já Daphne... Daphne tinha mais que metade da cama para ela.

Engraçado, eu não tenho espaço na minha própria cama.

Analisando aquela situação, eu me apercebi de que não era um travesseiro que eu apertava no meu estado de sonolência minutos antes.... Era a cintura dela.

Olhei para o teto, soltando o ar devagar e observando a tinta branca por vários minutos.

Quem diria que um dia eu acordaria com uma garota na minha cama sem ter feito nada com ela na noite anterior.

—— Ei... —— Eu toquei no ombro dela quando pensei no quão estranho era aquela posição em que nos encontrávamos. Olhei para baixo com a intenção de ver se ela estava acordando, mas tudo que consegui ver foram vários cachos bagunçados do seu cabelo preto. —— Daphne. —— Abanei seu corpo devagar, vendo reação.

—— Hm... —— ela resmungou, ajeitando a cabeça mais confortavelmente e terminando com o rosto no vão do meu pescoço. —— Só mais um minuto...

Eu bufei.

—— Nem um minuto a mais —— avisei, esperando alguns segundos e vendo ela na mesma posição. —— É sério, acorde.

—— Ainda está cedo, amor...

Ah... Era o que me faltava. Eu estava sendo confundido com aquele lixo humano? Não. Não mesmo.

Secrets (loud bak)Where stories live. Discover now