capítulo setenta e sete;

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Daphne

Semanas depois

Se, meses atrás, alguém tivesse me dito que eu estaria parada na porta dessa lanchonete, procurando o meu melhor amigo, eu não teria acreditado.

Primeiro, eu tinha um melhor amigo? Alguém que eu poderia chamar de "minha pessoa"?

Durante toda a minha vida, eu nunca fui a "pessoa" de alguém. Aquela para a qual você pode chamar pra qualquer coisa; contar segredos, medos, compartilhar. E saber que ela considera você a pessoa dela também.

No momento em que os meus olhos reconheceram os fios dourados no banco acolchoado do lado esquerdo, eu tive certeza: nós ainda não conhecemos nem metade das pessoas que ainda passarão pelas nossas vidas.

Comecei a caminhar para onde ele estava, no fundo do local, e como se sentisse a minha presença, Daniel tirou a atenção do celular, observando vagamente o corredor.

Vi o exato momento em que seus olhos se arregalaram em surpresa quando me reconheceu; o sorriso envergonhado que ameaçava surgir em meu rosto, por ter que andar aquela distância, sumiu, pois ele se levantou rapidamente e começou a dar passos largos em minha direção.

Em menos de dois segundos nossos corpos se chocaram em um abraço apertado.

Senti vontade de chorar, porque não acreditava que aquilo estava mesmo acontecendo.

Eu conversei com ele por meses, e finalmente o via pessoalmente.

Era surreal.

— Eu sabia que você tinha cara de uma pessoa cheirosa — ele comentou quando nos separamos depois do longo abraço; um sorrisinho ladino brincava em seus lábios.

— E não é que você parece o Chris Evans mesmo? — brinquei, vendo ele piscar um olho e passar a mão pelo cabelo teatralmente, se achando.

Ele era bonito, e real, e só os céus sabem o quanto orei para que não fosse fake.

Ok que eu já tinha ouvido a sua voz em chamadas de voz e visto ele em chamadas de vídeo, mas havia de tudo nesse mundo e as pessoas sempre tinham métodos novos para enganar outras.

Não me surpreenderia se durante todo esse tempo eu estivesse falando com um barrigudo de quarenta anos que vivia no porão da mãe.

— Meio estranho, não é? — Daniel questionou retoricamente, avaliando meu rosto. — Eu conheço quase tudo sobre você mas te ver aqui assim é surreal. Parece que estou te "conhecendo" pela primeira vez.

Eu estendi a minha mão, ganhando seu olhar curioso. Sua boca se abriu em choque.

— Desgraçada...

Eu mordi o lábio, ansiosa.

— Foi um saco ver você todo borocoxô quando ele saiu de stock e eu quase contei que comprei, mas queria muito fazer uma surpresa. — Fiz um biquinho, insistindo para que ele pegasse o bonequinho do Thor.

Era daqueles que tinha a cabeça desproporcional ao corpo, um pouco maior.

Daniel pegou no objeto; as covinhas evidentes no rosto.

Secrets (loud bak)Where stories live. Discover now