Capítulo 9

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Às vezes, seu coração vai se partir em mil pedaços, mas todos esses pedaços, ainda fazem parte de quem você é.


AMANDA:

Ouço meu celular tocando, mas não tenho forças para abrir os olhos, choramingo, o desligo e simplesmente volto a dormir. Alguns minutos depois, ele volta a tocar e dessa vez, eu percebo que ainda estou sozinha na cama, e que o lado de Henrique parece intocável, quase como se ele não tivesse voltado para casa, e eu fico tanto tempo encarando a cama vazia sem entender nada, que nem percebi que o celular parou de tocar, e quando toca de novo, eu me assusto, como se tivesse voltado para a realidade ao estalar dos dedos. Olho para a tela e vejo o nome de Laura e me apresso para atender.
— Oi Laura.
— Amiga, eu acabei de ver, você está bem?
Porque eu não estaria bem?
— O quê? Do que você está falando?
— Merda, você estava dormindo?
— Eu estava tentando — falo analisando mais uma vez o lado de Henrique na cama.
— Amanda, eu vou te enviar o link que tem a foto.
— Laura, se for a foto de algum peguete seu, em plena sete da manhã de um sábado, eu juro que te mato.
— A foto é do Henrique, amiga.
Meu coração acelera.
— O quê? Como assim?
Continuo encarando a cama vazia, tento pensar em algum motivo plausível para ele não ter voltado para casa, mas todos são ruins, considerando tudo que estamos passando. Meu coração está quase saindo pela boca e quando finalmente toco no link que ela enviou, sou direcionada para a matéria de um jornal local de fofoca, com a seguinte legenda:

Jovem bilionário aos beijos em um bar no centro da cidade, não sabemos quem é a garota, mas eles saíram juntos.

Pedaços. Pequenos. Minúsculos caquinhos. É tudo que sou nesse momento. Meu coração se partiu em um milhão de pedaços, de uma maneira que eu nem sabia ser mais possível, porque meu coração já não era inteiro. Eu simplesmente não acredito no que estou vendo, até deslizar os dedos para baixo e ver as fotos borradas e um pouco escuras, de vários ângulos diferentes. Pedaços. Pequenos e cortantes pedaços se estilhaçando no chão de um coração recém decorado para ele.
Limpo as lágrimas que começam a escorrer pelo meu rosto, e de repente rio de mim mesma, balançando a cabeça negativamente, pensando no quanto fui idiota.
Você acreditou mesmo nisso?
— Amanda você está aí? — Laura diz.
— É, eu nem tenho o direito de reclamar, eu sou só a porra de uma transação de negócios — digo em voz alta meu maior pesadelo.
— Eu não sei não, acho isso muito estranho.
— Ora, vejam só, acho que comecei a perder valor de mercado.
Eu faço isso. Eu debocho de mim mesma, me auto mutilo com palavras cortantes o bastante para não me machucar demais, mas isso é diferente, mesmo se eu arrancasse o meu coração do peito, eu ainda sentiria essa dor. Mas eu continuo rindo tentando desesperadamente não me desmanchar em lágrimas, mas elas meio que se misturam ao sorriso.
— Sabe o que é pior amiga? — digo — eu estou na casa dele, no quarto dele, sentada na porra da cama que a gente transou várias vezes, mas eu não valho mais nada. Eu sei que tudo começou com um "ei, eu te pago um milhão" mas, eu não consigo deixar me sentir usada — minha voz embarga e as lágrimas jorram, embora eu ainda tente muito me controlar.
— Amiga, o que você quer fazer? — Laura pergunta, depois de alguns segundos em silêncio.
Eu afasto o celular do meu rosto e tapo a boca, mas é óbvio que ela sabe que eu estou me derretendo em lágrimas. Controlo 1% do que estou sentindo e volto a colocar o telefone no ouvido.
— Você pode vir me pegar aqui, por favor?
— Claro, me manda a localização.
— Tá, e por favor, vem rápido, eu só quero ir embora daqui.
— Já estou a caminho.

Eu não consigo enxugar a porra das minhas próprias lágrimas, meu corpo treme de raiva e decepção, principalmente comigo mesma. Eu me sinto uma idiota, usada, como se eu tivesse um prazo de validade e ora vejam só, ele expirou. Não poderia dar certo, até o próprio universo julga esse relacionamento.
Resgato minhas forças, limpo as lágrimas e vou até o closet, visto um conjunto de moletom, prendo o cabelo e enfio algumas roupas em duas mochilas, eu só quero sair daqui o mais rápido possível, porque tudo tem o cheiro dele, tudo é dele, tudo menos eu, se tem algo fora do lugar sou eu, aqui não é o meu lugar. Pego minhas chaves e uma pequena agenda que guardo dentro da minha bolsa, e antes de ir, arranco uma folha e escrevo um bilhete para ele.

NÃO ME CHAME DE PRINCESA!Where stories live. Discover now