Capítulo 6

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Hoje em dia, o amor é tão raro, que todo mundo SONHA, com um.

AMANDA:

Mesmo odiando contos de fadas e romance água com açúcar, isso não quer dizer que eu nunca li nenhum, muito pelo contrário, eu li todos, porque adoro ir para o mundo deles, um mundo onde as pessoas se machucam, mas se perdoam, um mundo onde o amor importa e é genuíno, um mundo onde as pessoas lutam por amor apesar de tudo.
Eu passei todo o ensino médio colecionando corações partidos, e cada um deles me levou a acreditar que o amor era questão de sorte. A verdade, é que eu não odeio os contos de fadas e nem romance água com açúcar, eu só tenho medo de passar a vida sem ter um. Eu odeio o fato das pessoas não se importarem mais com o amor, de descartarem as pessoas, de fingirem sentimentos, de cuspirem eu te amo a cada esquina, como se o eu te amo, não fosse uma promessa.

Em todas as histórias de princesas que meu pai lia para mim, eu percebi que as princesas eram humilhadas por madrastas terríveis, perseguidas por bruxas, presas em torres, amedrontadas por dragões, envenenadas, e tudo que os príncipes tinham que fazer era dar-lhes o beijo do amor verdadeiro, e muitas vezes, levavam todo o crédito da história. Então comecei a ler os romances, e percebi que príncipes encantados não existem, muito menos princesas, o que existe são pessoas dispostas a ficarem juntas, porque se amam e estão dispostas a fazerem dar certo, elas tomaram a decisão de ficarem juntas apesar de tudo, da rotina, dos dias ruins, das brigas, da convivência, e toda parte ruim que a maioria dos livros de romance não contam, porque fomos acostumados a ler " e viveram felizes para sempre" e isso não é verdade, nem de longe. A realidade é; e viveram felizes apesar de tudo. Por isso que não existe maior ato de coragem senão o ato de decidir amar.
Eu sempre fui taxada de muito exigente por minhas amigas, porque eu nunca quis um amor comum, sem graça, sem paixão, eu quero um amor raro, que me tire do chão, que me leve para outra realidade, e é assustador estar de frente com tudo que eu sempre quis. É claro que não faço ideia se o Henrique é o amor da minha vida, mas tenho certeza que ele é raro, disso, eu tenho certeza.

  ...

O sol bate no meu rosto e começa a me acordar, eu abro os olhos e percebo que estou sozinha na cama enorme de modelo colonial. Olho para o lado e para o outro e nem sinal do Henrique. Estou nua, então coloco um roupão que ele deixou na cama e faço um rabo de cavalo no cabelo, e em seguida vou até o banheiro e escovo os dentes, depois abro a porta do quarto, coloco a cabeça para fora, e observo o corredor vazio e silencioso.
Ando lentamente até chegar no topo da escada de madeira, também em modelo colonial muito elegante, logo começo a ouvir uma música e a sentir cheiro de bacon e café.
Adentro a cozinha incrivelmente linda, com móveis de madeira, e percebo que, na verdade, a casa é toda em modelo colonial. Mais alguns passos, avisto Henrique, só de cueca com os músculos expostos e com sua pele morena sendo iluminada pelo sol que entra através da janela de vidro atrás dele. Ele está ouvindo I wanna be yours - Arctic monkeys, enquanto prepara o café da manhã, e eu não consigo evitar o sorriso ao olhar para ele. É bom, mas é estranho. Eu me aproximo e me sento na banqueta de frente para o balcão, imaginando que ele é um cara completo. Qual é? Lindo, atencioso e ainda cozinha? Qual a pegadinha? Então ele se vira.

— Bom dia, princesa — ele diz, claramente animado.
— Você já acordou comigo, sabe que não sou uma princesa — retruco.
— É a minha princesa — eu reviro os olhos e ele sorri.
Eu descanso os cotovelos no balcão e fico olhando para ele, na verdade, eu o aprecio, cada detalhe, dos pés a cabeça.
— Você cozinha?
— É, eu sei fritar uns ovos com bacon.
Eu rio.
— Vou me acostumar com isso — digo.
Já me acostumei!
— Então, tudo bem para mim.
Ele dar de ombros.
— Porquê?
— Bom, se você se acostumar com isso, é sinal que vou ter você, e me acostumar com você, é fácil para mim.
É fácil para mim também!
Eu suspiro e mudo a direção do meu olhar.
— Nossa, são quase 09h da manhã e você já me deixou sem graça.
— Eu prometi que mentiria, mas eu não consigo, me desculpe.
Eu rio e dou um gole no café que ele fez questão de me servir, e eu gostei.
— Tá ruim né?
— Na verdade, não, tá muito bom.
Ele sorri, dar a volta no balcão e se senta ao meu lado.
— Dormiu bem?
— Você quase não me deixa dormir, mas sim, eu dormi muito bem.
Ele sorri maliciosamente e eu suspiro com os fleches da noite passada... eu por cima, beijando sua boca e puxando seu cabelo para trás. As várias taças de vinho branco, empolgando nossos corpos suados. A madeira da cama batendo forte na parede, mas a gente não se importava, porque nada era melhor que nossos orgasmos se misturando e a música tocando alto, nos deixando em ritmos frenéticos e contínuos.
— A noite foi incrível, Amanda, do início ao fim.
Ele diz me tirando dos meus pensamentos.
— Foi sim, — respondo, mas sinto meu rosto corando e mudo a direção do meu olhar novamente, e quando olho para Henrique, ele está sorrindo e por incrível que pareça, não diz nada.
— Engraçado como essa sua pose de durão, não entrega o quanto você é diferente.
— Você gosta da minha pose de durão? — Eu rio.
— Eu acho interessante.
— E isso é bom?
— Pode-se dizer que sim.
Ele se aproxima com um pequeno sorriso nos lábios, que me deixa desconcertada e me beija antes de falar.
— Vai soar bem clichê o que eu vou dizer agora, mas eu nunca trouxe ninguém aqui antes.
Gostei de ouvir isso!
— Nem a sua ex?
Tive que perguntar!
— Principalmente ela — ele se afasta e beberica o café.
— Me desculpe, eu sou uma idiota, não deveria estar falando dela.
— Não, tá tudo bem, ela não partiu meu coração em mil pedaços e me deixou traumatizado, ela só me decepcionou e fez eu me decepcionar comigo mesmo — ele faz uma pausa observando a expressão curiosa no meu rosto — eu nunca trouxe ela aqui, porque ela nunca quis vir, sempre dizia que não gostava do campo, então eu nunca insistir. Ela também não era uma má pessoa, ou uma patricinha mimada, ela só nunca se interessou, e eu nunca culpei ela por isso.
— Por que acha que decepcionou a si mesmo? — Henrique pensa antes de responder.
— Porque eu não vi o que estava bem na minha frente, ela não me amava, pelo menos, não mais, ela se apaixonou por outro cara e eu não vi.
— Porque era apaixonado por ela — concluo e ele balança a cabeça positivamente, sem olhar para mim.
— Mas, essa parte da minha vida ficou para trás — ele diz, com um sorriso no rosto, segurando a xícara de café.
Por um momento, passa pela minha cabeça, que eu sou apenas uma válvula de escape, uma distração ou algum tipo de novo brinquedinho, enquanto ele tenta esquecer a ex. Mas também, não é isso que ele demonstra, todas as suas ações mostram exatamente o contrário.
— Ainda ama ela, Henrique?
Foi mais forte que eu!
Ele encara meus olhos, surpreso pela pergunta e eu continuo — pelo menos, um pouco, aquele pouquinho que a gente finge que não, mas depois de um tempo, aparece de mãos dadas com a pessoa de novo.
Eu tentei muito não fazer essa pergunta, mas sei que me corroeria por dentro se deixasse tudo com a minha imaginação. Pessoas sem respostas, inventam respostas em suas cabeças, e elas nunca são boas.
— Não, claro que não — exclamou Henrique — você tem essa preocupação, de que em breve estarei de mãos dadas com ela novamente?
— Não é uma preocupação, é só o que geralmente acontece quando tem uma ex na jogada — ele ri.
— Amanda, dois meses depois que nos terminamos, ela encheu as suas redes sociais com frases genéricas do tipo, não é o tempo, é a pessoa. Oito meses depois, ela se casou, então, não existe a menor possibilidade disso acontecer e não existiria se nada disso tivesse acontecido também. Eu e ela, não era para ser, acabou.
Eu rio para tentar amenizar a situação, mas também pelo agrado que a resposta me causou.
Nós ficamos em silêncio por alguns minutos, enquanto comemos, de repente, um vento frio entra pela janela e eu ajeito o roupão no meu corpo, ao mesmo tempo que o observo bem à vontade, só de cueca na minha frente.
— Não está com frio?
— Não, na verdade, eu meio que sou acostumado com isso, é sempre pra cá que eu venho, quando quero fugir.
— Eu adorei esse lugar, é tão bonito e distante.
— A propósito, tenho uma coisa para te mostrar, acho que você vai gostar.
Ele segura minha mão e nós dois andamos pela casa sorridentes e bem à vontade, já que estamos sozinhos. Eu fico babando a decoração impecável da casa, o piso de madeira, as janelas de vidro e os detalhes coloniais.
— Olha, você tem que saber uma coisa sobre mim, eu sou um pouquinho ansiosa — ele ri.
— Já percebi.
Ele me leva por um corredor até chegar numa sala grande, que foi a que eu vi rapidamente na noite passada, sem iluminação quando passamos correndo para o quarto entre beijos apaixonados, envolvidos de muito tesão. Todas as portas e janelas são de vidro, os móveis seguem o mesmo padrão dos outros e há uma estante enorme, com muitos livros, o que me deixa maravilhada, são livros clássicos, coleções, romances de época, e alguns atuais, simplesmente o paraíso para mim.
— Nossa! Isso é incrível — digo, sem esconder minha empolgação.
— Eu amo esse lugar, sinto que os meus pais estão aqui.
Ah não!
Eu paro por um momento, e olho para ele de uma maneira estranha que ele percebe.
— Que foi?
— Olha, com todo respeito, não fala que seus pais estão aqui, principalmente depois de ontem.
Ele gargalha tão alto que me contagia.
— É, eu sei, ficou estranho.
Eu sorrio e movo meus olhos para a estante.
— Essa é a estante de livros mais linda que eu já vi na vida.
Henrique não esconde o sorriso e a satisfação em me ouvir dizer isso, é perceptível o quanto ele queria me mostrar essa estante, e o fato de ser tão atencioso me empolga. Eu deslizo os dedos pelos livros com um sorriso no rosto, leio os nomes nas laterais, e os aprecio como a leitora apaixonada que sou.
— Jane Austen! — Digo, com uma voz quase melosa, enquanto seguro o livro Orgulho e preconceito no peito, o abraçando e cheirando-o — amo os livros dela — concluo.
— Do que mais você gosta? — Ele pergunta, me incentivando a falar e eu rio, dando de ombros.
— Gosto de quase tudo.
Ele ri.
— Meu pai leu todos os contos de fadas existentes para mim, eu amava ouvir a voz dele perto do meu ouvido — faço uma pausa — quando eu li Coraline, eu fiquei apaixonada, porque era uma história completamente diferente de tudo, sabe? O diferente sempre me atraiu.
— Não gosta de ler romances?
— Ah para, eu leio todos — ele ri — só queria que fossem reais.
— Como assim?
Merda, vou ter que explicar!
— Na vida real as pessoas não amam como nos livros, elas descartam e desdenham do amor como se ele não fosse nada.
Ele me olha por alguns segundos como se já tivesse uma ideia fixa na cabeça.
— Qual seu livro de romance favorito?
Ele pergunta tão de repente que me surpreende.
— Nem consigo pensar numa resposta.
— Tenta — ele insiste.
Eu ergo as sobrancelhas e ele sorri.
— Por quê?
— Só tenta.
Ele vai rir!
Olha, é difícil dizer, mas você vai rir da resposta.
— Que tipo de romance você gosta?
Nós dois sorrimos.
— Não é o meu livro favorito, mas eu gosto de como o Edward trata a Bella em crepúsculo, e de como ela trata ele. Eles são prioridades um do outro e se amam tão intensamente e fora do normal, que foi bonito de ler. Eles só pensavam em passar o resto da vida juntos e ninguém mais pensa nisso hoje em dia, as pessoas só se magoam e desistem um do outro, como se não fosse nada.
— Crepúsculo, sério?
Eu rio.
— Mas entendi o que quis dizer, e quero que saiba, que eu sou assim, e vou ser assim para você, não estou maquiando as minhas ações para que um belo dia, você descubra que eu não sou nada disso, por isso que quero que conheça tudo de mim — ele faz uma pausa — Amanda, eu estou de portas escancaradas para você, entre e fique.
Ai meu Deus, eu vou morrer!
Bom, eu estou entrando, não estou?
Ele ri e me puxa para um abraço e do abraço nasce um beijo cheio de paixão. Cada vez que ele diz essas coisas, mas eu me entrego. Às vezes, eu sinto que estou numa bandeja, totalmente entregue, e me sinto ridícula, e depois me lembro da Laura falando sobre como o amor nos torna ridículos, e me sinto mais ridícula ainda, fala sério?
De repente ele se afasta de mim e se aproxima da estante e sim, eu me sinto ridícula.
— Mas um livro preferido, você não tem nem um?
Eu penso um pouquinho enquanto tamborilo os dedos sobre os livros.
— Bom, eu não sei dizer. Gosto de muitos livros e de muitos autores. Quando eu li os livros da Collen Hoover, eu sentir que estava lendo sobre pessoas reais, amores reais, algo que facilmente conhecemos alguém que já viveu. Cada um é uma emoção diferente. Mas é lógico que eu sei, que levar alguém para ver o por do sol de um avião, é bem raro. — Faço uma pausa enquanto vejo ele sorrindo, mas logo continuo — John Green, faz a gente rir no meio de histórias de amor que não são comuns, mas que fazem a gente refletir muito sobre a vida. Nicholas Sparks é um filho da puta, ele faz a gente querer viver o tipo de amor que ele escreve, não no sentido literal, mas na força do amor que ele escreve. Cada livro que eu li, me ensinou um pouquinho, elevou o patamar para o amor da minha vida, me fez duvidar sobre sua existência e me fez ter medo de nunca viver nada parecido.

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