Epílogo

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Essa, em particular, era uma parte da pequena vila de Glencoe que eu poderia tranquilamente afirmar nunca ter vindo... Ou se vim, apenas passei direto, nunca dei a devida atenção

Eu estou sentada em um banco da praça da cidade, fazendo nada mais que observar um rapaz a tocar violino. Sua melodia é lenta e melancólica, faz com que minha mente devaneie pelas memórias antigas dos meus primeiros dias com ele...

A minúscula cidade em que vivo era  entediante e monocromática até Harry chegar, a colorindo com suas roupas vibrantes e seu infinito otimismo... Mas agora voltava a perder a cor

Não conseguia enxergar mais vida e beleza em nada, nem árvores, nem animais, nem mesmo na clareira na qual construímos grande parte da nossa relação, aliás, esse último virou um lugar insuportável para mim agora

Fazem duas semanas que estou sem Harry. Todos os dias eu sinto falta dos seus olhos verdes, das suas covinhas, da sua voz, do seu toque, sua risada, suas lágrimas, das suas manias...

Eu tentei me demitir do meu posto como recepcionista na imobiliária, pois não consigo mais me levar a sair de casa e trabalhar. Sr Robert provou que suas palavras iniciais eram verdadeiras "Somos como uma grande família" e não permitiu que eu me demitisse... Ele foi extremamente compreensivo e concedeu dois meses para que eu pudesse tentar me recuperar

Penso que meus amigos fizeram algum tipo de esquema de rodízio para nunca me deixar sozinha, pois cada dia um deles apareciam em minha porta, querendo "Apenas passar um tempo comigo". Normalmente me encontram na cama sem fazer nada ou então me ocupando com longos banhos da água mais quente que meu chuveiro é capaz de suportar. Eu raramente durmo, pois não consigo mais lidar com os constantes pesadelos e, se não fosse por ter companhia a todos os momentos, não comeria absolutamente nada, pois nunca estou com fome. Sei que emagreci bastante, sinto meus ossos se destacarem sobre minha pele de modo que não poderia ser saudável. Ultimamente, toda vez que olho no espelho não reconheço mais meu próprio reflexo. Estou sempre com profundas olheiras, cabelos secos, lábios quebradiços e um tom pálido que se sobrepõe à cor da minha pele. Se não soubesse, poderia afirmar que já estava morta há tempos... Mas, mesmo não sendo assim fisicamente, era exatamente como me sentia por dentro

Eu já não chorava mais... Parece que, de algum modo, as lágrimas do meu corpo se secaram. Agora eu apenas me encolhia em silêncio, pois não faço ideia de como lidar com a imensa agonia que sinto a todos os momentos

Desde o funeral, não falei com quase ninguém... Meus amigos sempre tentam conversar, mas não faço nada além de olhá-los. Não sei bem explicar, mas as palavras simplesmente não saem do modo como gostaria. Hoje, para minha própria surpresa, eu consegui trocar algumas palavras com Anne... Aparentemente, Louis a contou como eu estava e a mesma me pediu encarecidamente para que eu tentasse superar

"Superar Harry styles... Ridículo" foi meu primeiro pensamento. Mas a prometi que pelo menos sairia de casa. Por algum motivo, Anne era a única pessoa para quem eu dava ouvidos agora

O moço em minha frente substitui sua melodia lenta por uma música animada no violino, o que não combina nada com meu humor melancólico, mas faz-me bem, eu acho... Não o suficiente para colocar um sorriso no meu rosto

Suspirei profundamente, me levantando do banco na intenção de traçar meu caminho de volta para casa. Já fiquei o suficiente... Acho que Anne já ficaria mais tranquila

Interrompi bruscamente meus movimentos ao ver do outro lado da rua uma estranha movimentação; Cerca de dez crianças corriam alegremente, se desviando dos pedestres. O que mais me surpreendeu foi o motivo: Uma galinha

- Todas as semanas isso acontece - Ouvi uma senhora dizer ao meu lado - Não sei porque, mas até já virou tradição! Todos os sábados de manhã, eles soltam a pobre galinha e depois correm atrás dela pela cidade toda, até a alcançarem!

A Estrela || H.SWhere stories live. Discover now