– Estamos à espera, April – ordenou Jake, depois de algum tempo de todos terem terminado de comer.

– Eu acho que és bem sexy, Jack, mas és chato como a merda! – comentou a loira, revelando novamente todas as nuances do seu feitio impossível enquanto esticava as longas pernas no banco de jardim, seguida pela sombra de Brian. – Eu disse que vos levava lá, e é tudo o que eu vou fazer.

Jake revirou os olhos face ao arrojo descomedido com que ela se dirigia a si.

– Eu acho que aconteceu alguma coisa com a tua memória também... Não me provoques – avisou, curvando-se sobre a mesa emadeirada para que ela sentisse a ameaça como um sopro na pele.

– Mas eu gosto de te provocar – insistiu a rapariga, inclinando-se igualmente sobre a mesa e tornando o tom de voz mais suave. – E se não estivesse aqui tanta gente eu ainda ia gostar mais. Aposto que fazes um melhor trabalho que ali o nerd. Conto pelos dedos de uma mão as vezes que ele se veio, como se eu não fosse boa o suficiente para...

Jake não chegou a perceber quem reagiu primeiro. Antes que April finalizasse o seu discurso dissimulado ele sentiu uma mão delicada apertar-lhe a coxa sob a mesa, procurando a sua mão. Kim fitava April com altivez, todo o ciúme pelas afirmações a transformar-lhe as feições bonitas.

Depois, ele notou a expressão de Brian modificar-se enquanto a loira referia os abusos sexuais e a humilhação de que fora alvo, e rapidamente insurgir-se contra a rapariga, puxando-lhe os cabelos platinados com força.

– Ainda não percebeste que só vives porque lhe estou a fazer um favor? – vociferou o moreno contra os cabelos revoltos pela falta de cuidados e higiene. – Porque eu tenho todo o gosto em depois disto tratar dessa boca porca e fazer-te regressar para a tua irmãzinha. Agora se queres adiar a merda do reencontro, com menos um dedo ou dois para contares melhor, é bom que comeces por dizer onde fica a porcaria da fábrica! – ameaçou, pegando na pequena navalha de bolso que utilizara para abrir os enlatados do almoço.  

– Mas eu digo-vos onde é a porcaria da fábrica! – concordou April, afastando-se do sufoco das mãos grandes e da pequena faca que ela não queria sentir sobre a pele perfeita. – Quando tiver a certeza de que saio disto ilesa como ele prometeu. – apontou para Jake. – Tudo o que eu quero é que morram, e tudo o que vão conseguir com isto é fazer-me a vontade! Sinceramente vocês realmente pensam que vão conseguir fazer seja o que for? O que vocês descobrirem hoje não vai servir nem para arranhar a superfície! Idiotas...

April continuou a divagar sobre o quão repulsiva a humanidade era para ela e todos os seus desejos de morte em relação ao grupo, mas Kim perdeu-se na expressão que a loira utilizara sem ser aperceber.

Era a sua hipótese de ser realmente útil e ajudá-los a cumprir uma missão que ela mesmo iniciara, e que nunca conseguiria sequer cogitar se o fizesse sozinha. Kim estivera lá, ela lembrava-se do local, inclusive de onde fora criada.

– Superfície – murmurou a morena, sem se aperceber de que raciocinava em voz alta. Quando todos se silenciaram para a fitar, ela percebeu que teria de partilhar com todos o que pensava da afirmação de April. – Sim, é isso! Eles têm uma incubadora enorme. – Kim gesticulou as dimensões do local, como se fosse possível fazê-lo à escala que a sua mão permitia. – É como se fosse um útero em cimento, sem janelas e muitas ventoinhas. Não há janelas e eu lembro-me de um tom de luz estranho. Eu...

Apercebendo-se de que insinuara que se lembrava de estar na incubadora, engoliu em seco e rapidamente procurou o olhar do rapaz ao seu lado. Jake não sabia que ela acordara ainda no leito gelatinoso que a alimentara durante semanas de desenvolvimento e ela temia que uma nova confissão abalasse tudo o que fora dito na floresta.

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