Capítulo 6

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Algo não parece certo, porque não está certo
Especialmente se vem depois da meia-noite
Eu sinto o seu segredo, eu não sou tão perfeita assim
Para me sentir tão sem valor
Como tudo se resumiu a isso? Olhando sua lista de chamadas
Não quero perder meu orgulho, mas eu vou acabar ficando louca
Sei que fui sexy, você sabe que fui divertida
Tem alguma coisa que estou sentindo falta, talvez seja minha sanidade.

                                — Beyoncé (Hold Up)

                                       —x—

E lá estou eu caminhando pela rua enfurecida, querendo ir para qualquer lugar que não fosse em casa com meu marido, que escondia alguma coisa de mim. Eu não queria pensar no pior, mas não podia omitir aquele sentimento.

Mas tinha algo que sempre me acalmava quando eu estava sobrecarregada com o trabalho ou estressada com algo: a cafeteria Habitant Caf. Um dos meus locais de paz interior, além do meu olho grego, o qual não estava fazendo muito efeito ultimamente. Eu tinha parceria com ela em minha empresa.

A cafeteria não era tão longe de minha casa, então eu pude ir andando tranquilamente, a algumas quadras até chegar lá. E era isso que eu estava fazendo.

Depois de andar algumas quadras até chegar na Habitant Caf, eu fico mais aliviada. A porta da cafeteria era de vidro e espelhada. Quando eu entro no local, a campainha se toca, atraindo a atenção dos funcionários. Vou em direção a uma das mesas do meio, que eram marrons e as cadeiras eram pretas, com um pote de guardanapo em cima. Esse lugar era uma gracinha.

Já consigo ouvir alguns cliques e tinha certeza que alguns paparazzis haviam me seguido. Nesse momento eu queria paz e minha vontade era de fazer igual a Britney Spears: voar em cima deles com um guarda-chuva em minhas mãos. Mas como eu estou em ascensão, seria cancelada drasticamente. Deixo esse serviço para a Doja Cat e Danna Paola, as canceladas do momento.

Não passou nem 5 minutos e um dos garçons vem em minha direção. Mas de todos que tem na cafeteria, tinha que ser justo Nicholas Spence.

— Bom dia senhorita famosa. — Ele diz com ironia, o que me irrita bastaste. Seus cabelos negros e sedosos balançavam conforme o vento, e seus olhos eram tão azuis como o mar. Sua altura era quase o dobro da minha e seu corpo era totalmente definido.

— Bom dia cara pálida. — Eu mostro toda minha educação e ele ri com o caderno na mão para anotar o meu pedido. O uniforme da Habitant Caf era apenas uma blusa preta de manga, com o logo escrito atrás.

— Já vi que não foi pela educação que conseguiu ser famosa. — Ele revira os olhos debochadamente. Ele sabia como irritar, mas do que eu já estava no momento.

— Eu sou educada... Com quem eu quero. — Eu pisco para ele com um olhar convencido. — Agora me traga um capuccino por favor —  Eu digo o ignorando totalmente, ligando o celular para navegar em qualquer rede social.

— Saindo um cappuccino para a famosa — Ele se retira cantarolando sua última frase.

Eu e Nicholas Spence sempre brigávamos um com o outro na adolescência. Ele era o popular, jogador de basquete. Mas a inteligência não habitava a esse cara pálida irritante. Ele sempre deu em cima de mim, por conta de eu ser a única menina sensata de não ter ficado com ele. Até a Alyson ficou com ele, alegando que ele beijava bem. 

Os anos se passaram e Alyson, Verônica, Luke e eu fizemos faculdade com nossas notas altas e ele não conseguiu passar, sempre mudando de empregos ruins de um para o outro. Até que ele acabou se firmando na Habitant Caf por um milagre dos céus. Mas eu não sentia pena dele, pois nem ele mesmo sentia. Ele era feliz. Eu nunca vira esse homem de 27 anos com um sorriso abatido em seu rosto. Nós 5 nunca nos distanciamos um do outro, éramos um grupo de amigos que estava chegando a casa dos 30. Mas a diferença de qualquer grupo para o nosso, era que não tínhamos uma relação um com o outro. Luke se distanciou um pouco de Alyson, eu não me dava muito bem com Verônica (até hoje no caso) e Luke odiava o Nicholas, que era o melhor amigo de Verônica. Mas a vida nunca nos distanciou. Tínhamos um laço, meio que um looping infinito.

Enquanto eu ficava entediada no celular, Nicholas chegava com o meu cappuccino; o salvador da pátria.

— Obrigada Spence. — Eu agradeço o chamando pelo sobrenome que ele não gostava.

— De nada Natalie Willians Andrews. — Ele me chama pelo sobrenome de casada que eu odiava também me fazendo revirar os olhos. Eu sempre me identificava apenas com o da minha família. — Já que está aqui, você podia me ajudar. — Ele diz se sentando na outra cadeira, que era de frente para mim. Nem um pouco abusado.

— Não vou te dar um emprego com um currículo blé. — Eu digo já imaginando o que ele iria falar. Todo dia ele me pedia um emprego diferente o qual ele não era capacitado.

— Não é isso Barbie. — Ele me chama pelo mesmo apelido que Verônica me chama. O qual eu nunca entendi o motivo de ser chamada assim. — Eu estou namorando. — Ele diz esperando eu terminar de ficar boquiaberta. O cupido havia acertado Verônica e Nicholas. Quem deve ser os azarados? — Eu estou namorando com uma mulher super inteligente, o que não é muito o meu forte. Falo no caso da inteligência. Ela entende muito nas questões de racismo, feminismo, sobre a comunidade LGBT e eu me sinto mais burro que o normal perto dela. — Ele diz num tom de desespero. Como alguém como essa garota iria cair nas garras desse garoto que esquece que já acabou o colegial há 10 anos atrás? — E eu queria dar algo que ela goste sabe... Que envolva tudo isso que eu falei. — Ele diz e eu saco tudo. Ele queria a minha ajuda para não ser ele mesmo.

— Antes de eu te ajudar, eu quero dizer algo antes. Saber sobre essas pautas deveria ser obrigação de todos, mesmo algumas pessoas não sendo de uma coisa ou nem de outra. Estamos em 2020, por favor. Então se você realmente gosta dela, faça isso por ela e não tente fingir que goste apenas para a agrada-lá. — Eu digo seriamente e vejo ele ficando sério concordando com a cabeça positivamente. Umas das poucas características que eu gostava em Nicholas Spence, era que ele sabia ouvir. 

— Pode deixar. Eu gosto muito dela e estou pesquisando sobre tudo para entender mais sobre ela. Mas eu queria dar algo para eu mostrar em como eu fico admirado de ter uma mulher tão madura com um branquelo burro que nem eu... — Ele diz me deixando um pouco mal.

— Para de se chamar assim. Você não é burro. Só precisa se esforçar. E já que você está estudando sobre tudo isso, não há necessidade de você comprar algo para mostrar isso. Entenda. Não é todo preto que vê uma pessoa branca como a vilã. Não posso dizer que todos, pois infelizmente não é verdade. — Eu digo vendo ele respirando aliviado e com seu sorriso brilhante. O conselho de Verônica tinha caído em boas horas.

— Obrigado por me ouvir. Vou seguir esse conselho. — Ele diz e eu dou um sorriso de volta. Mesmo meu dia estando um caos, fiquei feliz por poder ajudar alguém. 

— Agora vai trabalhar antes que seja demitido desse emprego também. — Eu digo mandando ele se levantar, que faz isso no mesmo instante. Eu já até havia terminado o meu café e dou o dinheiro para ele.

— Não se preocupe. Se eu for demitido, você me contrata para ser gerente Habitant Caf da sua empresa. — Ele diz se retirando se prendendo para não rir, enquanto eu caía na gargalhada, sobre quão bobo era Nicholas Spence.

Me levanto para ir embora e aconselhar tanto Nicholas havia me dado inspiração: que era trabalhar. Mas não em casa. Eu pegaria um táxi ou um uber e iria para a minha empresa, que era o amor da minha vida. Se eu não era valorizada em casa, teria uma empresa enorme para eu cuidar que fazia esse serviço! Eu não havia feito nada de errado e já estava bem para seguir a minha vida!

                                    —x—
Dicionário:

Loop infinito: é o mesmo que uma "repetição infinita". Na área de informática e programação de softwares, por exemplo, pode representar um erro na execução de determinado programa, quando este passa a seguir repetidamente a mesma sequência de instruções.

Raízes (Finalizado) (2020)Where stories live. Discover now