Capítulo 5_ A Dualidade dos Fatos II

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     Welty estava acabado. Uma dor insuportável castigava todos os músculos de seu corpo. Tinha ficado a noite toda procurando pela criatura que tinha fugido em direção aos bosques, não sabia como, mas havia perdido o estranho e grande animal de vista. Era como se a coisa tivesse desaparecido num piscar de olhos, além do mais, a noite caira dificultando ainda mais sua busca.

     Ele abriu as portas da casa enquanto tentava limpar o rosto e as roupas completamente sujas de fuligem, as asas estavam cobertas de pó negro, voar sobre a fumaça negra o tinha esgotado. Ainda havia sangue da criatura escorrendo pela espada cuja lâmina a tinha atingido profundamente, aquela coisa parecia não sair por nada, iria levar horas para limpá-la, lustrá-la e afiá-la novamente. Agora precisava encontrar Tkal e perguntar qual seria o próximo passo a ser tomado para acabar com aquela confusão inesperada e desagradável que tinha recaído sobre eles.

    O anjo bateu na porta no fim do corredor, não houve resposta. Ele entrou imaginando que não teria ninguém ali dentro, de fato não existia nenhum sinal de Tkal ou do demônio:

     — Tkal?  Nenhuma resposta chegou até ele.

     O anjo deu meia-volta e retornou ao salão principal, foi impossível não tomar um susto quando se deparou com duas demônios estáticas como estátuas o encarando no meio da sala antes vazia. Aquilo fez com que ele brandisse a espada de súbito mesmo que estivesse a uma distância considerável de ambas, as enormes asas também se abriram em alerta fazendo fuligem flutuar ao seu redor. Elas deram um sorrisinho satisfeito quando viram a expressão surpresa dele ao reconhecê-las e se quer se moveram ante os movimentos do anjo.

     As duas eram idênticas, a não ser pelo fato de uma ter cabelos brancos longos e a outra pretos e curtos, ambos lisos, fora essa única diferença as duas eram praticamente gêmeas de rosto e tamanho, trajando a mesma roupa social, gravata e blaze, como confidentes ou algo do tipo, além de possuírem a mesma fisionomia informal e de ar implacável. Tinham chifres curvos, de cores opostas a de seus cabelos e presas nada simpáticas. Possuíam cauda, característica típica de certos demônios, que desciam pela coluna e escapuliam pelas saias razoavelmente curtas que ambas usavam. O olhar delas era inquietante, curioso e martirizante. Naquele momento encaravam Welty mais de perto o analisando de cima a baixo:

     — Quem deveria se assustar aqui somos nós com sua cara...

     — Exatamente... o que aconteceu com você Welty???

     — Parece que você lutou contra o fogo do inferno, e sendo sincera, perdeu... — Ouviu-se um riso curto.

     — Tsc, tsc, terrível...

     Um cheiro desagradável de queimado pairou no ar, as duas contrairam as narinas, que não passavam de duas cavidades abaixo dos olhos, numa careta de desconforto. Welty olhou aborrecido e cansado para elas, relaxou e deixou a espada pender ao lado de si, estava exausto até mesmo para se irritar:

     — O que as duas estão fazendo aqui?

     — Nada que não seja estritamente necessário...

    A resposta não o convenceu, Welty cruzou os braços e olhou para as duas com desconfiança, já tinha as visto algumas outras vezes na casa e sabia que tinham algo haver com o demônio que ali habitava. O anjo se perguntava se Tkal sabia daquilo, mas nunca tinha tocado no assunto com a mesma, pois eram raras as aparições das gêmeas e sempre que as encontrava optava por não se intrometer, isso quando não aproveitavam para bisbilhotar a casa:

     — ...só espero que não tenham vindo para roubar comida escondidas, como sempre — falou direto.

     Elas olharam para ele indignadas:

O Belo JardimWhere stories live. Discover now