Capítulo 19_ Apocalipse

34 1 0
                                    

    — Podem abrir agora... — A voz suave de Tkal chegou até elas após aquele acontecimento mórbido.

     Edie retirou as duas mãos da frente do rosto e olhou ao redor, tudo parecia normal agora. Sílbe havia desaparecido, a sala estava quieta e arejada pelo vento que vinha da janela estilhaçada, os últimos raios de sol do dia iluminavam o recinto. Ela se virou e encarou Kia que também olhava ao redor, por fim seus olhos pousaram em Tkal atrás dela:

     — Tkal!!! — Impulsivamente ela abriu os braços e deu um abraço na anjo.

     Tomada pela surpresa, Tkal levou as mãos a ela e retribuiu o gesto, estendeu um braço para Kia e a puxou para junto de si também, a anjo apenas fechou os olhos e se deixou levar. Assim que a soltou Edie pulou e agarrou Kia quase a derrubando:

     — Perdão por ter demorado a aparecer — pediu lançando um olhar soturno para Valt.

    O demônio jazia caído no altar, sangrava e tinha o rosto abaixado imerso em sombras. Sua figura naquele momento era de dar medo, porém ao mesmo tempo, ele parecia inofensivo:

     — Os outros! Tkal eles... — Edie começou, mas a anjo tocou no ombro dela delicadamente e a interrompeu.

     — Não se preocupe, sei exatamente o que está acontecendo. — Dizendo isso, ela ergueu um dos braços para cima, abrindo a palma da mão.

     Uma onda de luz seguida de várias outras saiu dela e tomou toda a sala, no mesmo instante ouviram-se gritos estrangulados vindos do salão. Edie correu até a porta a abrindo para ver o que se passava, ela deu de cara com Maick. O demônio cobria os ouvidos pontudos e grossos com as mãos e cerrava as presas parecendo sentir dor, assim que a viu ele saiu correndo pelo corredor, gemendo e cambaleando contra as paredes.

     Edie viu do corredor junto a Kia, os demônios invasores saírem correndo porta afora, alguns pelas janelas. Tinham os rostos contorcidos como se estivessem sendo atacados por alguma coisa, todos cobriam os ouvidos e urravam de forma grotesca. Fosse lá o que Tkal tinha feito, havia dado certo.

     Welty e Demetria assistiram a tudo com ares sérios, os tentáculos começaram a encolher e a regredirem para dentro da fenda do submundo. Lirahy, Moly e os outros se afastaram da confusão. Os demônios corriam de volta para a enorme fenda aberta no chão da vila que estava começando a se fechar rapidamente. Os moradores olhavam com espanto para aquela cena pavorosa. Quando a maioria deles cruzou o buraco, ele se fechou até sobrar uma pequena rachadura no local. Os incêndios em volta da abertura diminuíram até sobrar apenas uma densa fumaça que foi carregada pelo vento.

     Tkal por fim abaixou o braço e caminhou até Valt lentamente, Edie e Kia se voltaram para ela:

     — Sei que morreu de saudades de mim, mas não precisava quebrar as portas e janelas...

     — ... — O demônio ergueu um pouco o rosto terrível e apenas a observou em silêncio, se não estivesse tão quebrado por dentro daria um de seus resmungos.

     Tkal passou por ele e encarou através da janela destruída, a paisagem lá fora era de tirar o fôlego. O sol se punha entre as montanhas naquele exato instante, lançando milhares de raios para todos os lados, o céu era de um laranja suave e com poucas nuvens ao longe.

     — Tkal... — Uma voz veio da entrada.

     Tanto Edie quanto Kia olharam naquela direção alarmadas, mas era apenas Welty. O anjo empurrou a porta ainda mais e caiu de joelhos no chão ao vê-la, uma figura negra se aproximou dele logo em seguida:

O Belo JardimWhere stories live. Discover now