14: Hard

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Sentada naquela sala fria e mórbida, eu encarava a mesa abaixo das minhas mãos com uma certa purga atrás da orelha.

-Olá Camila. -Um homem entrou na sala e eu o olhei.

-Eu quero meu advogado. -Falei séria e ele deu um sorriso de lado jogando uma pasta em cima da mesa.

-Você não vai precisar de um advogado, me responde umas perguntas e tudo se resolve, ok?. -O encarei séria.

-Só vou responder suas perguntas, com a presença do meu advogado. -Rosnei e ele jogou o cabelo para trás.

-Ok, cinco minutos pra você ligar e cinco pra ele vir. -Levantei da cadeira e a porta foi aberta.

Ok, dez minutos eram perfeitos para fugir de uma delegacia. Olhei ao redor, buscando por qualquer lugar que eu pudesse sair, então caminhei rapidamente em direção à saída, mas um policial se meteu na minha frente com uma cara confusa.

-Vou usar o telefone. -Apontei para o telefone próximo a porta e ele olhou para lá.

Ele me permitiu que eu andasse até o mesmo e ficou ali, me fazendo companhia. Respirei fundo olhando para a porta e ao redor, vendo que estava cheio e que eu jamais conseguiria fugir sem tomar um tiro. É encarar ou morrer. Disquei o número de Lauren, desesperada.

-Alô?.

-Eu tô na delegacia, eles me pegaram lá em casa para um interrogatório sobre a morte da Leah, eles querem me fazer perguntas, mas eu não vou responder nada sem um advogado...Eu nem tenho um advogado merda. -Rosnei e Lauren suspirou do outro lado.

-Qual a delegacia que você está?Eu vou enviar o meu. -Olhei para o policial ao meu lado e ele cruzou os braços me fazendo rosnar e virar para o outro lado.

...

De volta aquela sala mórbida e fria. O advogado de Lauren estava ao meu lado, todo cheio de terno e gravata, aquilo foi meio triste.

-Então Camila, o seu advogado já está aqui e é hora de você responder as minhas perguntas. -Assenti. -Alguns colegas que estudam com você, afirmaram que você tinha laços com Leah, amorosos.

-Mentira. -Bufei revirando os olhos.

-Alguns vizinhos disseram que você foi a última pessoa que Leah viu. -O olhei séria. -Afirmaram que te viram sair e entrar no carro da Srta. Jane, confirma?.

-Confirmo, claro. -Ele assentiu e respirou fundo.

-Sabe que isso te faz ser a mais suspeita, certo?. -Dei uma leve risada e o encarei.

-Quantos meses você tem tentando resolver esse caso?Dois?. -Ele assentiu e eu fiz um bico. -Sabe por que não descobre?Porque quem está por trás disso, está aliada à pessoas dessa delegacia, aliada a pessoas do caso, por isso vocês só andam em círculo. -Fiz vários círculos na mesa encarando seus olhos azuis.

Ele umedeceuos lábios e se inclinou levemente na mesa com um sorriso de deboche.

-O que você e Leah tinham?. -Ele questionou me ignorando.

-Leah e eu só tínhamos sexo em comum. -Falei fria e ele me encarou sério.

-Algo não está se encaixando, que tal você começar do início?Eu sinto que você quer me dizer muita coisa, por que você não desabafa?. -Respirei fundo e me inclinei levemente na mesa.

Eu poderia contar tudo e ir pra cadeia, ou eu poderia não dizer nada. Mas eu tinha a consciência, de que havia feito inúmeras coisas ruins e a cadeia não era o que eu merecia. Eu merecia o pior.

Merecia uma morte lenta, que me fizesse lembrar de todo o mau que causei para as pessoas que me rodearam. Merecia ter todo o tipo de tratamento horrível que uma cadeia poderia me proporcionar.

-Ok. -Falei séria e ele arqueou as sobrancelhas. -Tudo começou quando entrei no colégio, sempre fui uma zero à esquerda e Dinah foi a primeira que se aproximou de mim. Ela descobriu a minha condição sexual e aproveitou para me manipular. Imagine que você não tem nada na vida, nenhum familiar, nem uma casa legal, apenas uma casa com um mês de estadia à frente. -Ele me olhava impassível. -Então alguém te oferece algo, apenas por sexo.

-Você se vendeu?Isso é tipo prostituição, eu nunca faria isso. -Ele disse risonho.

-Se não fosse por Dinah, eu estaria na rua, ou dormindo no colégio. -Falei séria. -Então ela me deu a casa que eu moro hoje, em troca eu dava sexo à ela. -Dei de ombros. -E então me apresentou Heather, Leah, as outras meninas da torcida e aquilo foi se repetindo, eu dava sexo e elas me davam coisas, tudo que tenho hoje, foram elas que me deram. -Respirei fundo e o encarei cansada. -Antes da morte da Leah, Dinah veio até mim, dizendo que havia visto Leah e o namorado dela se agarrando na arquibancada e disse que não aceitava a traição da amiga, mesmo que ela sempre traísse o namorado comigo. -Ele me encarou mais interessado. -Ela pediu para que eu matasse Leah.

-E então você matou?. -Ele perguntou me encarando fixo, sedento por respostas.

-Não, eu fui até a casa de Leah aquele dia, porquê ela queria transar e eu fui, óbvio. -Dei de ombros. -Ela estava chateada e pediu para eu ficar, mas eu não sou do tipo romântica e elas também não, então eu liguei para Dinah e pedi para ela me buscar. -Suspirei. -Depois chegou a notícia de que Leah havia se suicidado, Dinah me disse que ela forjou o suicídio.

-Encontramos digitais e sêmen, mancharam as provas  como posso acreditar em você?Sei que está dizendo que transou com Leah, mas descobrimos que ela foi morta enforcada, está dizendo que...

-Eu não sei, eu estava lá aquela noite sim, mas eu não teria coragem de matar alguém. -O cortei.

-Mas tem motivos, elas te trataram mal todo esse tempo, por que não matar Leah na primeira oportunidade?. -Ele insistiu me deixando impaciente.

-Eu jamais mataria alguém e se eu tivesse coragem, Leah não seria uma opção, ela era a única que me tratava bem entre todas as garotas. -Eu estava muito bem ali, eu tinha um ótimo plano, me saíria super bem.

Eu só precisava manter o plano.

-Então...Você está dizendo, que Dinah Jane é a culpada pela morte de Leah Lewis?. -Me encostei na cadeira e suspirei triste.

-Ela matou Leah...E Lauren manchou as provas que vocês descobriram. -Ele se inclinou estreitando os olhos.

-Está me dizendo que as duas estão envolvidas?Dinah como a assassina e Lauren como cúmplice?.

-Sim. -Dei de ombros e ele passou a mão na barba rala.

-O DNA certamente bateria com o seu, digitais e sêmen. -Assenti. -Elas estavam trabalhando juntas para te incriminar...Mas por que?.

-Dinah óbvio, para salvar a pele dela e eu, como uma garota sem família e consumindo tudo que ela tinha por sexo, ela queria dar um fim à isso de uma maneira extremamente ruim. Já Lauren, apagou os meus rastros, para que eu não fosse incriminada injustiçadamente. -Fui cínica e demonstrei tristeza ao falar. Neguei. -Eu nunca pensei que as pessoas que eu mais confiava na vida, iriam me trair dessa maneira. -Fui falsa e ela respirou fundo olhando para o advogado e então olhando para as pastas.

-Camila...Você está sendo uma peça fundamental para esse caso, parece que tudo estava abaixo de nossos narizes e não...Não havíamos percebido antes. -Ele levantou dando um sorrisinho e esticou a mão para mim. -Obrigado, com a sua ajuda conseguimos fechar esse caso.

Estranhamente falando, tinha sido fácil demais. Sorri agradecendo e então olhei para o advogado de Lauren que me olhava confuso e meio perdido no que aconteceu ali.

Esperei o policial sair da sala e então olhei para o velho de óculos ao meu lado e umedeci os lábios.

-Vou te pagar um preço considerável para você fingir que essa conversa não existiu. -Sussurrei para ele e bati em seu ombro antes de levantar e sair daquela sala.

Dinah me deu tudo, como ao mesmo tempo, não me deu nada. Eu tinha que me vingar, não só dela, como de todos que haviam me colocado naquela saia justa.

Together - Camila Intersexual [Mini Fic]Where stories live. Discover now