Capítulo 20

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Essas feridas parecem não querer cicatrizar

Essa dor é muito real

Há simplesmente tantas coisas que o tempo não pode apagar

-My Immortal

Após entrar me surpreendi com a magnificência do local, como era aconchegante e excitante, a pouca iluminação combinava perfeitamente com os candelabros de velas que pendiam do teto, nas paredes de madeira tinham espelhos enormes com moldura de art nouveau. Mas o melhor de tudo era a música que tocava e explodia em meus ouvidos, que me levava dançar e sentir o que o som me dizia.

"And if you have to leave, I wish that you would just leave"

Por algum motivo pensava que essa música seria o meu futuro em algum momento.

"These wounds won't seem to heal

This pain is just too real

There's just too much that time cannot erase"

Isso poderia ser aterrorizante se eu não desconfiasse que penso muita coisa que não deveria pensar ao longo de um dia todo. Havia varias pessoas, banquetas altas e pretas encostadas nas paredes juntamente com mesinhas altas cada uma com uma vela arredondada em cima. Era uma perfeita fundição do moderno com o antigo. Como tinha várias pessoas na pista não me contive, fechei meus olhos e deixei que o som de My Immortal me evolvesse e guiasse meus passos. Enquanto dançava não pensava em mais nada, entreabria vez ou outra os olhos para garantir que não estava sozinha dançando, mas que tinha várias pessoas ao meu redor. Quando a musica tocou  "Your face it haunts my once pleasant dreams. Your voice it chased away all the sanity in me" eu abri meus olhos e vi mais claro quanto o dia: Eduardo.

Se fosse um dia como os outros eu estaria morrendo de medo de estar sozinha, sem ninguém que conhecesse, depois de ter brigado com a minha mãe, mas perante as circunstâncias eu me sentia livre, porém não aguento mais estar presente em tudo, mas não pertencer a lugar nenhum. Assim, quando o vi, meu coração deu um salto tão grande que passei a senti-lo na garganta. Ele estava de costas e dançava sozinho, seu cabelo preto parecia mais brilhante que o normal ao ser banhado pela luz dos castiçais. Em uma loucura corri no meio de todos até ele, empurrando quem quer que fosse que estivesse em meu caminho. Toquei seus braços e quando ele se virou dei meu maior sorriso, aqueles olhos me olharam com espanto e faltava algo neles, sua boca parecia tão convidativa quanto antes então fiz o que faria em qualquer lugar, me aproximei mais e uma fisgada no meu estomago me fez ansiar por suas mãos em mim. Com uma mão o puxei pela nuca e a outra repousei em seu ombro, ele parecia relutante, mas cedeu. Eu não entendi o motivo e a cada minuto o beijava com mais fervor, ele deveria estar achando estranho eu chegar sem me explicar, sem cumprimentar assim, mas eu precisei. Entretanto algo estava errado. Abri os olhos enquanto o beijava e seu cabelo era dourado, nesse instante ele abriu os dele e seus olhos eram verdes tão profundos quanto o meu. Nathan? Afastei-me bruscamente e sai correndo.

Será que aquele lugar estava tão comprido desse jeito quando eu cheguei? Não poderia ser. As pessoas atrasavam minha corrida. Mas corria pra onde? Deveria ser a bebida. Mas já não me sentia bêbada! No meio daquela multidão eu via todos os rostos como o dele, todos os cabelos de relance eram os dele, as mesmas maças do rosto, os mesmo ângulos, aquela curva da clavícula. O que eu faço? Quando cheguei do outro lado do salão minha cabeça girava, sentei em uma banqueta alta e observei, todas as pessoas estavam normais, uma mais diferente que a outra. Pisquei os olhos e vi flashes daquele rosto, aquelas mãos. O que estava acontecendo comigo? Quis gritar. Mas quem me ajudaria? Devo ter gritado, pois um dos Eduardos me olhou. No desespero do momento rezei para que fosse ele mesmo e me joguei em seus braços, chorei, chorei e chorei, mas ele estava completamente imóvel como preso em um transe e quando terminei de chorar e as lagrimas não embasavam mais meus olhos eu vi uma garota alta e ruiva parada ao lado dele e completamente zangada.

-Me desculpe

Afastei-me desesperada e apavorada, só tive tempo de ouvir "Quem é aquela garota?" e uma resposta "Eu não imagino quem seja, amor". Andei mais um pouco a cada relance o via, a cada passo o via, via-o em tudo e em todos. O que está acontecendo comigo afinal?

Finalmente achei um canto, como um buraco na parede que a meu ver deveria ter sido feito para sentar, era frio, mas servia. Apertei os olhos com força, comprimi minha cabeça contra a parede e quando os abri as pessoas eram todas diferentes, quando pisquei o vi em toda a parte novamente. Mas tentei me acalmar, não choraria. Assim que me acalmasse ficaria melhor.

Fechei meus olhos e me concentrei em pensar em algo verdadeiro, pensei nas minhas fórmulas de física: P.v = n.R.t , Q = M.C.T , S= So + V.t , V² = Vo²+2aΔs ,

Já estava pensando na formula de transformação de Fahrenheit pra Celsius quando uma mão pousou em meu ombro. Imediatamente abri os olhos e gritei.

-Não! Não, não, não. Por favor, eu não fiz nada. Por favor.

-Calma Sas, que houve?

-Não! De novo não!

-Selene, Selene. Olhe para mim.

-Não vou!

-Olhe para mim! – ele apertou meus ombros

-Não vou olhar! Você não é o Eduardo!

-Sou sim Selene, sou. Sou o seu Eduardo agora, por favor, se acalme.

Apenas soltei um gemido de desespero.

-Olhe para mim Sas, sou eu. O que quer que eu faça para que você acredite que sou eu?

Como nada respondi ele prosseguiu.

-Sua cor preferida são laranja e azul. Daquela cor que te dei uma rosa, lembra? Se você se acalmar busco outra para você, busco a floricultura inteira, mas, por favor, acredita em mim. Quando eu te vi você estava de vermelho – ele se exaltava e exasperava argumentou- você já comeu sushi comigo.

Eu apenas o encarei. Esse estranho poderia ser qualquer amigo do Eduardo que soubesse de tudo isso e resolvesse me atormentar.

-Sei que seu sobrenome é  Sesmaria mas você preferia que fosse Sas.

Qualquer um poderia saber disso.

Por isso ele continuou e aproximando os lábios da minha orelha falou suavemente.

-Você tem um ponto fraco do lado da barriga.

Ok, ninguém mais poderia saber disso.

-E percebi que gosta quando eu me despeço com "tchau tchau".

-Então você percebeu!- Senti meu rosto se transfigurar em um sorriso tímido e na mesma hora ele relaxou, não tinha percebido que ele estava tencionando o pescoço.

-Finalmente

Ele com possessão beijou minha testa e com delicadeza pegou minhas mãos me olhando fundo nos olhos.

-Nathan me disse que você o beijou e saiu correndo

-Eu...- mas ele me interrompeu

-Desesperada como se estivesse vendo coisas. Passei a procura-la por ai e em um momento te vi nos braços de um cara e no momento seguinte você corria apavorada. Desculpe-me pela demora em te encontrar.

-Ah...

-Está tudo bem, ok?- ele parecia querer que eu entendesse isso- Está tudo bem.

Aquiesci com a cabeça e me aconcheguei em seus braços.

Meu Presente é a LuaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora